O CASAMENTO JUDAICO (Parte 3, 5779) – EStudo de 12 de abril de 2019 – 07 de Nissan de 5779

I. Casamento Judaico – Sefaradita, Por Esther Goldberger

Estas são algumas das tradições mais populares de um casamento ortodoxo Sefaradita. Ha muitos outros costumes e tradições, mas já que são restritos pequenos grupos, preferi não pesquisa-los a fundo. Penso em futuramente traduzir alguns costumes, principalmente os esquecidos/extintos das comunidades Espano-Portuguesas… mas isso vai ficar p/ outra hora.

Henna – A maioria dos casais Sefaraditas (provenientes da Península Ibérica), Mizrahi (provenientes de países árabes) e outras comunidades judaicas não-ashkenazitas fazem a henna antes da cerimonia de casamento. A henna pode ser feita 1 semana, alguns dias ou até mesmo no dia do casamento, durante a festa.

Hoje em dia as hennas marroquinas e yemenitas são as mais populares e copiadas por casais de comunidades não-ashkenazitas menores.

Isso acontece porque muitas dessas comunidades menores perderam (se esqueceram, deixaram de lado… esses jovens, esses jovens, sempre abandonando a tradição de seus avós e querendo se adaptar a cidade grande…) suas tradições regionais.

A henna é uma festa de noivado? Antes de responder, vamos entender um pouco mais da henna. Pintar partes do corpo com henna em ocasiões festivas é uma prática comum no Oriente Medio, Norte da Africa, Índia e outros países asiáticos. Judeus usam a henna por milhares de anos. E eu pretendo fazer futuramente um super post sobre a historia da henna no Judaísmo, agora vamos nos ater somente a conexão da henna com o casamento judaico.

Usar henna não tem nada a ver com religião, é um aspecto totalmente cultural. Mas como sempre achamos espiritualidade em tudo, a palavra “henna” em Hebraico possui as iniciais das 3 mitzvot femininas: “chet” para challah, “nun” para nidah (pureza familiar), e “hei” para hadlakat nerot, acender as velas (de Shabbat). Na verdade, a henna eh usada para celebrar varias ocasiões especiais como nascimentos, ritos de passagem (bar mitzva), casamentos e outras ocasiões festivas.

No casamento, pintar o corpo com henna engana os “demônios” e o “mau olhado” pois já que os noivos estão pintados, tais forcas negativas não os reconhecerão (eu sei, eu sei… mas cultura é cultura, né?), traz fertilidade e boa sorte ao casal, boa sorte aos participantes da festa e uma infinidade de motivos.

Então é por isso que fazemos a henna antes ou durante a festa de casamento! Para atrair tudo quanto é energia positiva para o novo casal e os convidados! Hennas podem ser feitas em casa, com a família e amigos próximos ou em salões de festa. Alguns casais fazem suas hennas tão luxuosas quanto a festa de casamento em si. É como se fossem duas festas de casamento… eu nunca perguntei o preço. Só fui em 2 hennas até hoje e só parabenizei os pais dos noivos sem jamais questionar valores… pq sabe como é… em boca fechada não entra mosquito. Hennas marroquinas são celebradas de uma maneira, yemenitas de outra (lindíssimo!!!!), e a assim por diante. Cada grupo de judeus celebrará a henna de acordo com a cultura do pais onde viveram.

No geral, quando a festa está perto do final a avó ou mãe ou da noiva pega um container com a henna (parece uma massa escura) e passa nas mãos dos noivos (pontas dos dedos, palma, as vezes até nos pés, isso depende do costume de cada família). Esse momento de trazer a henna para os noivos é muito importante. Há muito canto, muita concentração, muita alegria.

Algumas famílias tem o costume de que algumas mulheres mais idosas venham a frente da que está trazendo o container com henna, tocando tambores e cantando. Alguma mulher próxima a noiva (família ou amiga) passa a henna na palma das mãos das convidadas. Sim, até onde eu vi, só mulheres fazem fila para receber um pouco de henna. Não me perguntem o motivo.

Henna é realmente uma coisa de mulher? O que vi em uma dessas hennas foi que os noivos colocaram luvas transparentes para receber a henna em suas mãos. Muito logico isso!!! Por que? Pq a henna é um colorante que fica vários dias na pele. Muitos noivos celebram suas hennas poucos dias antes do casamento, ou seja… durante a cerimonia, o noivo vai pegar o anel de casamento com os dedos escuros e colocará tal anel nos dedos pintados da noiva… algumas hennas deixam uma marca amarela, outras alaranjada e outras um tom quase negro. Algumas noivas querem evitar isso para as fotos de casamento, então… luvas!

A mãe (ou mulheres da família) da noiva a alimentam com pratos típicos, geralmente feitos com mel, amêndoas (não pode entrar nada amargo nessa lista), azeitonas, etc.

Há muita, mas muita música e dança durante uma henna. Seja de CD (festas familiares) ou com cantores ao vivo, a música é sempre muito alegre. Algumas hennas tem dançarinas de dança do ventre, outras tem tambores, tudo depende do gosto e da condição financeira da família.

As noivas mudam de roupas 3 vezes (eu contei até 3) mas eu não sei o motivo, talvez para ajudar a noiva a enganar o “mau olhado”? No inicio, ambos os noivos vestem o kaftan (vestido bem largo com mangas largas), depois, o noivo pode continuar com seu kaftan, mas a noiva sempre troca de roupa. As roupas da noiva são tipicas da cultura do pais de onde sua família se origina. Em Israel, como eu tava sempre tentando me aproximar dos Sefaraditas (que pra mim constituiam o mistério final do Judaísmo hahahaha) uma senhora me disse que “antigamente” alguns grupos de mizrahi (judeus-árabes) celebravam 2 noites de henna na semana antes do casamento. Uma no meio da semana e outra em motzei Shabbat. Hoje em dia, ninguém faz mais isso. Só uma henna e pronto.

E as “tatuagens” bonitas, quem faz? Agora sim vamos ao detalhe que me encafifou muito: a primeira vez que fui em uma henna, estava esperando sair de lá com uma “tatuagem” linda, mas só recebi um montinho de henna na palma da minha mão… o que me decepcionou (hahah perdão, é que eu era mais ignorante naquela época do que sou hoje).

Meu marido e meus amigos da época, todos ashkenazitas não tinham ideia do que estava acontecendo. Então… quando fui na segunda henna, vi que estavam fazendo a mesma coisa e perguntei “Cade as obras de arte em henna que eu vejo no Google?” Ai veio a explicação: tais “tatuagens artísticas” são feitas por profissionais contratados e não tem nada a ver com os costumes dos judeus sefaraditas/mizrahim. Fazer desenhos elaborados com henna é um costume proveniente da Índia, veja bem… não tem nada a ver com Oriente Médio. Dai, o povo do Oriente Médio viu o que os Indianos podiam fazer e… Nestes casos, os noivos contratam um(a) artista de henna para entreter seus convidados. Mas na maioria das vezes, não contratam estes profissionais. Alguns cobram U$50 por hora, outros U$ 100 por hora, tudo depende da habilidade artística do “tatuador”. Me disseram que é raro ter um artista em hennas de casamento, pois a maioria das noivas querem perpetuar a tradição de suas avós e bisavós. Não há troca de anéis ou entrega de um anel para a noiva durante a henna. Mas nada impede que uma noiva mais moderna receba o anel de noivado do noivo ou da mãe dele, sem testemunhas, como acontece no vort.

A festa termina muito festiva e os noivos voltam para a casa dos pais, onde aguardarão as outras tradições que tomam parte antes da cerimonia de casamento. Hoje em dia em Israel, tem-se tornado mais comum ver jovens ashkenazitas participando ou fazendo uma festa de henna antes de seus casamentos. Se o noivo for sefaradita e a noiva ashkenazita, ha uma grande chance de que haverá uma henna. Quando isso acontece é tipo… o encontro de dois universos!

Sim, no Judaísmo os casamentos são como maratonas! Por isso é quase impossível achar todas as tradições em um único site ou livro. Mas de tradição em tradição a gente chega lá!

1. Vídeo de uma henna mais moderna: https://www.youtube.com/watch?v=RJCvxlRX3s8

2. Um vídeo bem amador que dá realmente a impressão de como a gente se sente no meio de uma festa dessas: https://www.youtube.com/watch?v=Q8GX7W0xdOY

3. E um vídeo p/ fazer qualquer antropólogo chorar de emoção: uma henna yemenita com direito a procissão de henna e avó da noiva cantando lá pros 3 minutos do vídeo e depois colocando a henna nas mãos do casal e os abençoando: https://www.youtube.com/watch?v=rOJYCtrSSq0

4. E uma henna super luxuosa com minha música marroquina favorita: https://www.youtube.com/watch?v=aOeNRw65_

Você Nota importante: a henna praticada por comunidades judaicas do oriente médio influenciou as comunidades espano-portuguesas que se viram forcadas a mudar p/ o Marrocos, Tunísia e demais países devido a Inquisição, e terminaram por adotar esta tradição.

Shabat antes do casamento – No geral (pois costumes sefaraditas mudam muito de família para família) não há o aufruf para o noivo no Shabbat antes do casamento, mas no Shabbat DEPOIS do casamento, onde o noivo é chamado para a alyiah a Torá e se ele puder ler Hebraico, para ler a haftará. No entanto, o Shabbat antes do casamento é uma data muito especial para as famílias dos noivos.

Então se eles moram perto, as duas famílias podem se reunir para as refeições de Shabbat ou… eles podem simplesmente fazer sua “festa“ individualmente:
a família do noivo chama todos os seus familiares e amigos do noivo para as refeições em sua casa e ao mesmo tempo, a família da noiva faz o mesmo na casa deles, convidando familiares e amigas dela para que ela também tenha o Shabbat Kallah. Noivos e noivas Sefaraditas se vêem na semana antes do casamento.

Dia do casamento – Há tantas tradições Sefaraditas que seria impossível registra-las em um único post. Devido a essa grande variação de tradições, se você for Sefaradita, o que vou descrever a seguir provavelmente é diferente do que você possa ter visto em sua família. Com o passar dos anos, muitos Sefaraditas tem abandonado sua tradições e adotado as Ashkenazitas. Vamos lá: Antes da cerimonia – O dia do casamento é considerado o dia mais feliz na vida do noivo e noiva, e por isso, eles não jejuam. Noivos e noivas podem se ver e conversar na semana do casamento e até antes da cerimonia, o que cria um senso de conexão entre eles e suas famílias.

Nota pessoal: o fato de que os noivos se veem antes da cerimonia indiretamente ajuda os convidados. Em casamentos ortodoxos Ashkenazitas os noivos só podem tirar fotos juntos depois da huppah… e além das fotos juntos, eles também tem que tirar fotos com suas famílias… e enquanto isso, os convidados ficam esperando de 1 a 2 horas para o inicio da festa. Como meu casamento foi Ashkenaz, meus convidados ficaram esperando também…

Kaballat Panim – Não ha tish, já que noivo e noiva podem se ver antes da cerimonia. Algumas famílias fazem o kabbalat panim, com o objetivo de socialização entre convidados e fotos (assim os noivos não precisam tirar fotos com suas famílias depois da huppah), mas ha famílias que discordam da ideia de servir esse coquetel e os convidados vão direto para o local onde está a huppah para aguardar o inicio da cerimonia. Para as famílias que fazem kabbalat panim, uma refeição leve é servida aos noivos e suas famílias, onde ha preferencia por pratos doces. Sabores amargos, apimentados ou muito fortes sao evitados.

Bedeken (cobrir o rosto da noiva com véu) – Não ha bedeken no casamento Sefaradita. Durante o bedeken Ashkenaz, o noivo vem a sala onde a noiva está, confere se é a noiva certa (para evitar o que aconteceu com Yaakov que se casou com Leah em vez de Raquel), cobre o rosto da noiva e vai embora, a fim de espera-la na huppah. A noiva vem com o rosto coberto e a cerimonia é iniciada (com o rosto dela ainda coberto). Em algumas comunidades Ashkenazitas, o rosto da noiva é descoberto durante a primeira benção da hatunah (cerimônia de casamento), mas em outras comunidades, ela permanece com o véu durante TODA a cerimônia. Assim sendo… seguindo o pensamento logico sefaradita (as vezes pensamentos lógicos são bem fantasiosos, mas enfim…) e se a noiva for trocada por outra mulher entre a bedeken e a huppah? O noivo ashkenaz teria uma grande surpresa no final da cerimonia, quando finalmente descobrisse o rosto de sua amada. E para evitar tal surpresa… a logica da tradição Sefaradita ensina que a noiva vai a huppah com o rosto coberto (geralmente a mãe ou avó cobre o rosto dela), e o noivo descobre o rosto de sua amada assim que ela chega a huppah, ANTES do inicio da cerimonia. Em muitos casos, a noiva sefaradita vai a huppah com o rosto descoberto, e quando chega lá, o noivo o cobre para o inicio da cerimonia e o descobre quando chega a hora do kedushim (benção sobre o vinho). Como disse anteriormente, há uma grande variação dos costumes sefaraditas… cada família segue sua própria tradição.

Assinatura a Ketuba – Não ha assinatura do tennaim (documento de noivado), só da ketubah. Em muitas comunidades, a assinatura da ketubah (documento de casamento) se dá sob a huppah. Em outras, a assinatura da ketubah acontece antes da cerimonia, em uma sala onde o rabino, noivos, seus pais e testemunhas se encontram. A ketubah sefaradita possui informação escrita diferente das ketubot ashkenazitas. Não há quebra de pratos entre as mães dos noivos, já que este é um costume europeu.

Hatunnah (Cerimonia de Casamento) – A huppah sefaradita tem que ser feita dentro da sinagoga ou em outro local fechado (ao contrário dos ashkenazitas que acreditam que na huppah a céu aberto). Preferencialmente a huppah e feita dentro da sinagoga, em frente ao Heichal, que é o lugar onde a Torah fica guardada. Ashkenazitas chamam este local de Aron Kodesh. Alguns dizem (não é oficial, e nunca ouvi referencias literárias desta informação, é só algo que se comenta aqui e ali entre amigos) que a cerimonia tem que ser feita dentro da sinagoga para manter o recato do casal… pois cerimonias a céu aberto podem ser vistas por todos que passam pelo local, convidados ou não.

O noivo aguarda a noiva sob a huppah, e a noiva vem em sua direção, acompanhada de seus pais, um de cada lado. Eles não seguram velas, e a noiva pode ou não estar segurando um bouquet de flores. Não há as 7 voltas ao redor do noivo, em vez disso, a noiva e seus pais param alguns metros antes da huppah, daí o noivo vem encontra-la, cumprimenta os sogros, toma a mão de sua amada e volta para a huppah com ela. Os pais da noiva seguem para o lado da huppah, para a companhia dos demais familiares. Devido a ignorância de suas próprias tradições somados a influência de amigos ashkenazitas, vemos as ‘7 voltas’ em muitos (pra não falar maioria) dos casamentos sefaraditas.

O noivo recebe um tallit novo, que pode ter sido dado por seus sogros, por sua noiva ou de seus próprios pais, e recita a benção Shecheheianu. Geralmente, noivo e noiva se posicionam encarando a congregação e o rabino fica de costas para a congregação, assim todos os convidados podem ver o rosto do feliz casal. A cerimonia procede, e em caso a ketubah seja lida sob a huppah, as testemunhas vem assina-la. A ketubah sefaradita tem mais conteúdo escrito que a ashkenazita, já que funciona como um contrato entre as famílias.

O noivo coloca o anel no dedo indicador da noiva, como é feito na tradição Ashkenaz. Perto do final da cerimonia, o Heichal (Aron Kodesh) é aberto, o noivo cobre a si e a sua noiva com o talit, os dois se aproximam do Sefer Torah e rezam. É um momento muito bonito. Quando a cerimonia se encerra, o noivo quebra o vidro e todos dizem ‘Mazal Tov!” em voz alta. Depois da cerimonia – Não ha ‘sala de yichud’ depois da hatunah. Os noivos vão da huppah direto para a festa. Na verdade, rabinos sefaraditas zelosos por sua tradição condenam veementemente este costume ashkenaz, pois dizem que ele fere o recato do casal.

Durante e após a refeição – A benção hamotzi é recitada e a refeição se inicia. Assim como nas festas ashkenazitas, há muita musica e danças entre um curso da refeição e outro. Em algumas famílias, os pais dos noivos se aproximam deles e os cobrem com um talit após a refeição, para a primeira sheva brachot (sete benção ditas após o birkat hamazon). Alguns casais preferem fazer a cerimonia da henna DURANTE a festa de casamento. É comum ver mulheres segurando cestas de doces rodeando a noiva, lhe desejando uma vida …doce (simples, não?).

Dependendo da tradição familiar (e do rabino), após a refeição, quando muitos dos convidados já se retiraram, o casal será encaminhado a sala de yichud, para que lá permanecam por 15 minutos. Muitos rabinos acham essa tradição repugnante e aconselham os noivos a não pratica-la. (eu sei que ‘repugnante’ é uma palavra forte, mas é a palavra que usam). Estes rabinos (entre eles, o rabino chefe Sefaradita de Israel, Yitzhak Yossef) nos ensinam que os noivos são considerados marido e mulher no momento que o noivo cobre a noiva com seu talit, durante a cerimonia, quando os dois se colocam em frente ao Aron Kodesh e jamais devem ser encaminhados a uma sala de yichud.

Shabat depois do casamento – O aufruf do noivo é celebrado na sinagoga, onde ele é chamado para ler um trecho da Torah, onde Avraham envia seu servo Eliezer, para encontrar uma noiva para Yitzchak. O noivo também pode ler um trecho da parasha da semana ou a haftarah. No final do serviço religioso, a família dos noivos podem sponsorar um kidush (refeição leve) em honra de seus filhos e todos vem desejar mazal tov ao novo casal. [1]

Fontes: [1] https://www.vidapraticajudaica.com/single-post/2015/06/29/Casamento-Judaico-Sefaradita
Coordenador: Saul Stuart Gefter 07 de Nissan de 5779 – 12 de Abril de 2019

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