PROFETAS E SÁBIOS – O Rei Salomão (5781) – Estudo para 29 de janeiro de 2021 – 16 de Shevat de 5781

I. O Rei Sábio – Era um rei muito jovem e muito sábio, Salomão. Seu pai, o rei David, pouco antes de morrer, convocou a Corte e anunciou aos seus príncipes: “De todos os meus filhos (porque muitos me deu o Senhor), Ele escolheu Salomão para herdar meu trono”.

O novo rei mal entrara na adolescência, como disse seu pai: “Ainda é moço e muito tenro”, e ele próprio, Salomão, implorando a proteção divina: “Sou ainda menino pequeno, não sei sair, nem entrar”. Compreendia, assim, a grande responsabilidade que teria de arcar, governando um povo numeroso, e recorria ao Senhor para que o orientasse. E foi ouvido.

Uma noite, em sonhos, uma Voz lhe falou: “Pede o que desejares, que serás atendido”. Deslumbrado, o moço implorou: “Dá-me um coração entendido e sábio para julgar e discernir entre o bem e o mal”. Ouviu então a promessa do Altíssimo: “Já que não pediste grandezas, nem a morte de teus inimigos, terás um coração tão sábio que antes de ti, nem depois de ti, ninguém te igualará. E terás riqueza e glória como nenhum outro rei jamais teve ou terá”.

Assim começou Salomão, imbuído da Centelha Divina, o seu reinado. Era um rei pacífico – “homem de repouso” – e logo conquistou a amizade e admiração dos outros reis. Cumulavam-no de presentes valiosos, que vinham acrescer as riquezas já abundantes no reino.

Um dos seus primeiros atos foi construir o Templo, como lhe ordenara seu pai. Para isso procurou o rei de Tiro, a fim de que lhe fornecesse cedro, dando-lhe em troca gêneros alimentícios. Também contratou “um homem que soubesse lavrar, cinzelar, trabalhar com ouro, prata, bronze, ferro…” E veio Chiram, da tribo de Naftali, “capaz para toda obra de buril e para todas as engenhosas invenções”.

Nas mãos abençoadas de Chiram foi entregue a construção do Templo. Edificaram-no no Monte Moriá, em Jerusalém. As paredes externas eram erguidas com pedras polidas que se encaixavam umas nas outras, sem necessidade do uso de qualquer ferramenta. Dentro, as salas eram revestidas de cedro, com adornos de flores em relevo. Duas majestosas esculturas de querubins, ambos de asas abertas, dominavam o ambiente. Onde quer que a vista parasse, encontrava uma obra de arte. Por toda parte brilhavam ouro e pedrarias, nunca houve obra tão suntuosa.

No fim de sete anos, terminado o templo, o rei Salomão fez construir dois palácios, um para a sua esposa, o outro para residência do rei. Este, magnificente. Não só o prédio impressionava pela beleza dos detalhes que o decoravam, exterior e interiormente, como pela pompa do mobiliário, a começar pelo trono, todo em marfim e ouro.

Ao mesmo tempo em que o reino nadava em prosperidade, voava a fama de sabedoria do rei Salomão. Eram sobretudo surpreendentes suas decisões nos casos de julgamento de contendores. Ficou na história, imutável através dos séculos, a questão de duas mulheres que disputavam um recém-nascido, já que o filho de uma delas havia morrido durante a noite.

– É meu! – uma gritava. – Mentira! – desmentia a outra. – É meu! O rei ouviu as diferentes versões contadas por ambas, refletiu um momento e logo ordenou aos seus guardas: “Tragam-me minha espada. Vamos cortar ao meio a criança e cada uma fica com a metade”.

– Muito bem! Nem eu, nem ela! – Regozijou-se uma das mulheres, ao passo que a outra, ajoelhada, implorava: “Não! Dê-lhe o menino mas não o mate”.

– Esta é a mãe – decidiu o rei, entregando-lhe a criança. – Mulher, toma teu filho. Já então se propagava tanto a sabedoria do rei Salomão, como o esplendor de seu reino.

A rainha de Sabá, incrédula, foi pessoalmente visitar o rei, para ver, com os seus olhos, o que escutava sobre o fausto que o rodeava, e, ouvindo-o, comprovar sua sabedoria. Trouxe-lhe, além de presentes fabulosos, uma lista de perguntas enigmáticas e até então insolúveis. O rei respondeu a todas, uma a uma, judiciosamente. Impressionada, a rainha declarou: “Rei supremo, sobrepujaste a fama divulgada da tua grande sabedoria”.

A seu exemplo, outros reis vinham à corte de Salomão para o consultar e maravilhar-se com a abundância dos seus haveres. Tudo era abundante. Os serviçais, vestidos num luxo espetacular, que surpreendeu a rainha de Sabá, eram inúmeros. Nas estrebarias, 400 cavalos relinchavam, enquanto não atrelados às numerosas carruagens.

O rei Salomão não perdia suas horas livres em ociosidade. Aproveitava esse tempo para elevar o espírito às regiões espirituais, filosóficas e poéticas. Do fausto do seu reinado restou para a posteridade o legado de um tesouro imperecível – os “Provérbios”, “Cântico dos Cânticos” e “Eclesiastes”. No primeiro, tinha como tema recorrente o temor a D’us. Tinha consciência de que a sabedoria perderia seu sentido se não fosse guiada, especialmente em termos éticos e morais, pelo temor a D’us – somente adquirido através do estudo da Lei e da prática de atos de bondade.

Nisto, era pródigo. E D’us, Todo-Poderoso, deu-lhe provas de o perceber. Pois que foi Salomão um dos três homens na história a quem D’us prontamente atendeu. Durante a dedicação do Templo, rogou que D’us respondesse às preces dirigidas ao Templo, Sua Morada. E eis que dos Céus desce uma coluna de fogo, consumindo as oferendas colocadas em sacrifício – um sinal do atendimento Divino a seu pedido. Das suas observações sobre o desenrolar dos tempos, concluiu que “nada é novo debaixo do sol” e, deplorando a frivolidade humana, declarou: “Vaidade de vaidades. Tudo é vaidade”. [1]

II. A SAGRADA LOCALIZAÇÃO DO TEMPLO – O rei Salomão herdou de seu pai, David, inúmeras riquezas e, graças à sabedoria que lhe era peculiar, soube fazê-las prosperar. Cada um de seus projetos era sempre realizado com sucesso e sua glória se espalhou pelo mundo. “De que me servem todos esses tesouros se os anos estão passando sem que eu possa cumprir a promessa que fiz a meu pai?”, perguntava-se amargamente o monarca.

Mandei construir dezenas de palácios, mas ainda não consegui erguer o Templo em louvor à glória de D’us. O Senhor é Testemunha de que não é má vontade de minha parte se ainda não iniciei tão nobre construção. No entanto, não sei como reconhecer o local mais apropriado. Toda a Terra de Israel é sagrada, mas o solo no qual serão levantados os muros do Templo, deverá ser o mais precioso ao Criador”.

Uma noite, Salomão meditava novamente sobre o local em que deveria construir o Templo; sua promessa ainda por cumprir o incomodava e, em vão, lutava contra o sono. À meia-noite, não tendo ainda conseguido adormecer, decidiu sair para caminhar. Vestiu-se rápida e silenciosamente para não ser visto pelos serviçais e saiu do palácio. Andou por uma Jerusalém adormecida, passando perto de grandes jardins e bosques, acompanhado somente pelo agradável ruído das folhas que farfalhavam ao vento, até que finalmente chegou ao Monte Moriá. A colheita recém terminara e do lado sul da montanha já estavam dispostos feixes de trigo cortados. Salomão apoiou-se em um tronco de oliveira, fechou os olhos e em sua mente começaram a desfilar as mais diversas localidades de seu reinado. Reviu colinas, vales, bosques que lhe pareciam destinados ao Templo e dezenas de outros locais por onde havia passado cheio de esperança, mas dos quais saíra decepcionado.

Repentinamente, o rei Salomão ouve passos. Abre os olhos e vê um homem carregando em seus braços um feixe de trigo. Um ladrão – pensou, rápido. Estava prestes a sair de seu esconderijo sob a árvore, mas conteve-se no último momento. “Esperemos para ver o que esse homem está tramando”. O visitante noturno trabalhava rapidamente e sem ruído. Ele colocou o feixe de trigo no terreno vizinho, depois voltou para buscar outros e assim continuou até levar 50 feixes. Depois, olhou preocupado, em seu redor, como que para se certificar de que ninguém o havia visto e partiu. “Gentil vizinho”, pensou Salomão. “O proprietário do terreno não deve saber por que sua colheita diminui durante a noite…” Mal teve tempo de refletir sobre como punir o ladrão, pois logo a seguir, outro homem apareceu. Prudente, o homem circundou os dois terrenos e, acreditando estar só, pegou um feixe de trigo de um terreno e o levou para o outro. Fez exatamente o que o outro fizera, só que levando o trigo no sentido inverso. Assim, ele fez com mais outros 50 feixes de trigo, partindo, depois, em silêncio.

“ Esses vizinhos se merecem …”, pensou Salomão. “Imaginei que só havia um ladrão mas, de fato, o próprio ladrão acaba sendo, ele mesmo, roubado”. Sem delongas, no dia seguinte, Salomão convocou os dois proprietários dos terrenos. Deixou o mais velho esperando em uma sala, enquanto interrogava o mais jovem, com severidade:
“ Diga-me, com que direito você pega o trigo do terreno de seu vizinho? ”

O homem olha surpreso para Salomão e fica vermelho de vergonha. “Senhor”, responde-lhe, “eu jamais faria uma coisa dessas. O trigo que eu transporto me pertence e eu o coloco no campo de meu irmão. Gostaria de manter isso em segredo, mas já que fui apanhado, direi a verdade. Meu irmão e eu herdamos de nosso pai um campo que foi dividido em duas partes iguais, apesar de ele ser casado e ter três filhos, enquanto eu vivo só.

Meu irmão precisa de mais fermento que eu, mas não aceita que eu lhe dê. É por isso que levo os feixes para ele, secretamente. Para mim, eles não fazem falta, enquanto que ele deles necessita”.

Salomão levou o homem para outra sala e chamou o proprietário do segundo campo:
“ Por que você rouba o teu vizinho”, perguntou asperamente. “Sei que você se apossa do trigo dele, durante a noite.”
“ D’us me livre de fazer uma coisa dessas”, protestou o homem, horrorizado. Na verdade, ocorre o contrário. Meu irmão e eu herdamos de nosso pai duas partes iguais de um terreno, mas eu, em meu trabalho, conto com a ajuda de minha esposa e meus três filhos, enquanto ele está só. Ele precisa chamar o ceifeiro, o debulhador, de forma que ele gasta mais dinheiro que eu e logo estará passando necessidade…Ele não quer aceitar um único grão de trigo de minha parte, e por isso eu levo para ele pelo menos alguns feixes, em segredo. Para mim não fazem falta, enquanto que ele os necessita”.

Então, o rei Salomão chamou novamente o primeiro homem e, emocionado, abraçou os dois irmãos e disse: “Vi muitas coisas em minha vida, mas jamais encontrei dois irmãos tão honestamente desprendidos como vocês. Durante anos vocês foram de uma bondade imensa e recíproca – e o que é mais importante – em segredo. Faço questão de lhes expressar toda minha admiração e peço que me perdoem por haver suspeitado que fossem ladrões, quando na verdade são os homens mais nobres da terra. Agora, tenho que lhes pedir um favor. Vendam-me seus terrenos para que eu construa o Templo Divino sobre esse solo santificado pelo amor fraterno de vocês dois. Nenhum local é mais digno do que esse, em nenhum outro local o Templo encontrará fundamentos mais sólidos.”
Os irmãos concordaram, de bom grado, com o pedido de Salomão. Deram-lhe o campo e o rei de Israel os recompensou fartamente. Em troca, deu-lhes terras mais vastas e mais férteis e fez anunciar, por todo o país, que o local sagrado para o Templo de D’us finalmente fora encontrado!

“Toda a Terra de Israel é sagrada, mas o solo no qual serão levantados os muros do Templo, deverá ser o mais precioso ao Criador” [2]

III. O Terceiro Templo – As orações que recitamos nos dias de hoje correspondem ao serviço realizado no Templo Sagrado de Jerusalém. O Povo Judeu recita, diariamente, trechos a respeito dos sacrifícios, oferendas e oferta de incenso. Vários tratados do Talmud abordam assuntos referentes ao Templo Sagrado e aos serviços nele realizados, e as principais orações do judaísmo, em particular a Amidá (Shemone Esre), incluem súplicas para que seja construído o terceiro Templo de Jerusalém, que será eterno. Jerusalém e o Templo Sagrado são continuamente lembrados.

O costume de se quebrar um copo após a cerimônia de casamento serve para lembrar que a felicidade de um judeu não pode ser completa até que o Sagrado Templo volte a existir.

Hoje, pouco resta do Segundo Templo de Jerusalém, a principal ruína é o Kotel HaMaaravi – o Muro Ocidental.

Nossos Sábios ensinam que apesar de o Templo ter sido destruído, a Presença Divina nunca abandonou o Muro Ocidental. É por este motivo que um número incontável de pessoas, judeus e não-judeus, visitam o Kotel HaMaaravi para rezar. É inegável que D’us Se encontra em todo lugar – Ele certamente conhece todos os nossos pensamentos e ouve todas as palavras que são pronunciadas por nossos lábios; mas o centro espiritual do Universo é o lugar onde Ele está mais aberto aos pedidos e súplicas de Suas criaturas.

O exílio judaico se iniciou com a destruição do Segundo Templo e, portanto, a dispersão dos judeus pelos quatro cantos da Terra se encerrará apenas com a construção do Terceiro Templo. Quando a Casa de D’us for re-estabelecida, o Povo Judeu terá cumprido a sua missão – a santificação da existência física para que possa conter a Revelação da Luz Infinita. A reconstrução da Casa de D’us, o Templo Sagrado de Jerusalém, indicará que o mundo finalmente se tornou a Morada do Criador Infinito. Quando isto ocorrer, a era utópica tão sonhada pela humanidade, ter–se–á concretizado. [3]

Fontes: [1] Morasha, Edição 44 – Março de 2004: http://www.morasha.com.br/cronicas-e-contos/o-rei-sabio.html [2] Morasha, Edição 41 – Junho de 2003: http://www.morasha.com.br/cronicas-e-contos/a-sagrada-localizacao-do-templo.html [3] Morasha: Edição 68 – Junho de 2010: http://www.morasha.com.br/leis-costumes-e-tradicoes/o-templo-de-jerusalem.html
Coordenador: Saul Stuart Gefter 16 de Shevat de 5781 – 29 de janeiro de 2021

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