O QUE É A CONTAGEM DO ÔMER? (5778) – Estudo de 13 de abril de 2018 – 28 de nissan de 5778

I. O que é a contagem do Ômer? E como se conta?

A partir da segunda noite de Pêssach (31 de março de 2018, 15 de Nissan de 5778), inicia-se a contagem do ômer até a festa de Shavuot (19 de maio, 05 de Sivan) . Qual a razão?

Agora mais que nunca, pessoas de todas as esferas da vida estão em busca um sentido e de um propósito. Algumas procuram respostas na meditação. Algumas voltam-se para livros de auto-ajuda, terapia, religião, yoga, programas de doze estágios e filosofias modernas.

Muitas pessoas, entretanto, não se dão conta que a mais antiga – portanto testada mais vezes – resposta nos foi dada há 3.300 anos no Monte Sinai. É chamada: a Torá.

A Outorga da Torá – Torá significa instrução. A Torá e suas histórias são, em sua essência, a história de nossa vida, um plano espiritual que ilumina as camadas e dimensões de nossa psique e alma. Cada evento na Torá reflete um outro aspecto de nossa personalidade interior. Através de suas mitsvot e mandamentos, a Torá ensina como nos atualizarmos conforme a intenção de D’us ao nos criar. Decifrando o código da Torá, desvendamos sua mensagem pessoal a cada um de nós.

Em cada palavra da Torá há um significado profundo, pessoal e espiritual. O processo de receber a Torá no Sinai começou, na verdade, quarenta e nove dias antes, com o Êxodo do Egito. Estes quarenta e nove dias são tradicionalmente chamados de “Sefirá Ha’Ômer,” que significa contagem do ômer.

Em Vayicrá (o terceiro livro da Torá) 23:15, o versículo diz: “Contareis para vós desde o dia seguinte ao primeiro dia festivo, desde o dia em que tiverdes trazido o “ômer” da movimentação; sete semanas completas serão.”

49 Dias – Este período de quarenta e nove dias foi de intenso aperfeiçoamento de carácter. Por quarenta e nove dias, os judeus ascenderam, um degrau por vez, uma escada emocional em direção a uma pureza mais elevada. Este período de refinamento de carácter tem tanta relevância em nossa vida hoje como teve há 3.000 anos. Da mesma forma que éramos escravos no Egito, podemos também ser escravos de nossas personalidades, dirigidos por forças sobre as quais frequentemente sentimos não ter controle algum.

Os quarenta e nove dias da sefirá nos ensinam como recobrar o controle de nossas emoções, mostrando-nos como refinar nosso carácter, passo a passo, de uma maneira baseada nas verdades eternas da Torá.

Após este período de quarenta e nove dias, chegamos ao quinquagésimo dia, matan Torá (a outorga da Torá), tendo conseguido plena renovação interior pelo mérito de ter avaliado e desenvolvido cada um dos quarenta e nove atributos. Qual é o significado do quinquagésimo dia de matan Torá? Nesta data celebramos a Festa de Shavuot. Após termos consumado tudo que pudemos pela nossa própria iniciativa, então somos merecedores de receber um presente (matam) do Altíssimo, o qual não poderíamos ter atingido com nossas limitadas faculdades. Recebemos esta habilidade de atingir e tocar o Divino; não apenas para sermos seres humanos aperfeiçoados que refinaram todas suas características pessoais, mas seres humanos divinos, capazes de se expressarem acima e além das definições e limitações de nosso ser.

A contagem da sefirá que se seguiu ao êxodo do Egito é um processo que devemos recriar continuamente em nossa vida, para que possamos atingir verdadeira liberdade pessoal.

Um Estágio para o Aperfeiçoamento Pessoal – A palavra hebraica “sefirá” tem vários significados. O famoso cabalista RaMak (Rabino Moshê Kordevero, 1570 E.C.) na sua monumental obra “Os Pardes”, escreve que sefirá significa tanto “mispar”, significando número e “sipur”, como em “contar uma história.” Uma terceira raiz de “sefirá” é sapir, uma pedra de safira, um cristal translúcido que irradia brilho.

A contagem da sefirá ilumina os diferentes aspectos de nossa vida emocional. Os dias de sefirá nos contam uma história – a história de nossas almas.

O espectro da experiência humana divide-se em sete emoções e qualidades, conhecidas no plural como sefirot. Cada uma dessas sete qualidades, por sua vez, subdivide-se em sete, perfazendo o total de quarenta e nove.

Cada dia no tempo tem vida própria. Um dia é um fluxo ímpar de energia, esperando para ser conduzida até cada uma das fibras do ser humano.

Os Sete Atributos Emocionais – Cada um dos quarenta e nove dias da sefirá ilumina uma das quarenta e nove emoções; a energia de cada dia consistindo em examinar e aperfeiçoar sua emoção correspondente. Após purificar e aperfeiçoar todas as quarenta e nove dimensões, estamos totalmente preparados para matan Torá, pois agora estamos em sincronia com os quarenta e nove atributos Divinos a partir dos quais os atributos humanos evoluem.

Eis uma descrição dos sete atributos emocionais, que em várias combinações constituem as quarenta e nove qualidades a ser examinadas e desenvolvidas durante este período. Eis apenas uma de muitas aplicações:

Chesed – bondade, benevolência.
Guevurá – justiça, disciplina, moderação, reverência.
Tiferet – beleza e harmonia; compaixão.
Netzach – resistência; firmeza; ambição.
Hod – humildade, esplendor.
Yesod – vínculo, princípio.
Malchut – nobreza, soberania, liderança.

O período de quarenta e nove dias da sefirá é contado em dias e semanas. Os sete dias de cada semana constituem os quarenta e nove dias. Cada semana é representada por um aspecto daquele atributo.

Como uma emoção plenamente funcional é pluri-dimensional, inclui dentro de si uma mistura de todos os sete atributos.

Por exemplo: A primeira semana da sefirá é dedicada a CHESED – o atributo da bondade. No primeiro dia da primeira semana lidamos com chesed she’b’chesed – o aspecto da bondade em si mesma.
No segundo dia da Primeira Semana nos concentramos em Guevurá she’b’chesed – o aspecto da restrição em bondade. No terceiro dia da Primeira Semana, o foco está em tiferet she’b’chesed – a harmonia da bondade, e assim ocorre com todos os sete dias da semana.
Esta análise diária lhe dará a habilidade de recuar e olhar objectivamente às suas emoções subjectivas.
Observar seus pontos fortes e fracos, por sua vez, lhe possibilitará aplicar-se a desenvolver e aperfeiçoar aqueles sentimentos, enquanto você caminha em direcção à maturidade emocional e espiritual.

Como se conta o Ômer – A partir da segunda noite de Pêssach até Shavuot faz-se, em pé, a contagem do ômer, a cada noite após a prece de Arvit. Se a pessoa esquecer de fazê-la à noite, poderá fazer no dia seguinte, mas sem recitar a bênção, continuando a contagem normalmente (i.e., com a bênção) nas noites subsequentes. Caso tenha esquecido de contar também naquele dia, deverá continuar a contagem nas noites seguintes, mas sem recitar a bênção. Antes de iniciar a contagem do ômer, deve-se ter em mente o número da contagem e a sefirá correspondente.

Recita-se: Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu al sefirat haômer. Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos, e nos ordenou sobre a contagem do ômer. Exemplo: Número da contagem na primeira noite:

Hayom yom echad laômer. Hoje é um dia para o ômer. Ha’Rachaman hu yachazir lánu avodat Bet ha’Micdash limcomáh, bimherá veyamênu, amen, sêla.
Queira o Misericordioso restaurar o Serviço do Bet Hamicdash a seu lugar, brevemente em nossos dias, amém, e que assim seja para todo o sempre.

Lamnatsêach binguinot mizmor shir. E-lo-him yechonênu vivarechênu, yaer panav itánu, sêla. Ladáat baárets darkêcha, bechol goyim yeshu-atêcha. Yodúcha amim, E-lo-him, yodúcha amim culam. Yismechu viranenu leumim, ki tishpot amim mishor, ul’umim baárets tanchêm sêla. Yodúcha amim E-lo-him, yodúcha amim culam. Êrets nate-ná yevulá, yevarechênu E-lo-him, E-lo-hê-nu. Yeva-rechênu E-lo-him; veyireú Otô col afsê árets.

Para o Mestre do Coro – um salmo com música instrumental; um cântico. Possa D’us ser pleno de graça connosco e abençoar-nos, possa Ele fazer brilhar Sua face sobre nós para todo o sempre. Para que Teu caminho seja conhecido na Terra, Tua salvação entre todas as nações. As nações Te exaltarão, ó D’us; todas as nações Te exaltarão. As nações rejubilar-se-ão e cantarão de alegria, pois Tu julgarás os povos com justiça e guiarás as nações na Terra para sempre. Os povos Te exaltarão, ó D’us, todos os povos Te exaltarão. Pois a terra terá dado seu produto e D’us, nosso D’us, nos abençoará. D’us nos abençoará; e todos, dos mais distantes recantos da Terra, O temerão. Para mais detalhes sobre as preces e contagem correspondente para cada dia da sefirat, veja no Sidur ou consulte um rabino. [1]

II. A Contagem do Ômer – Fazemos uma contagem, dia após dia, semana após semana, até chegarmos a Shavuót, que celebra a outorga da Torá no Monte Sinai e o amadurecimento da colheita do trigo e os primeiros frutos do verão.

(1) A oferenda do Ômer – A cevada amadurece cedo na Terra de Israel. Já em Pêssach os grãos estão prontos para a colheita. Mas antes de podermos usufruir da nossa safra, temos que oferecer parte dela no altar de Deus – e assim fazíamos a cada ano, quando o Templo existia em Jerusalém. A quantidade a ser dada era a medida de um Ômer – o equivalente ao consumo de um dia para um ser humano. Daí o nome “oferenda do Ômer”. Não podemos derivar proveito algum de uma nova colheita até que a oferenda seja feita, ou, se não houver nada a ser oferecido, até o término do dia. Esta é uma proibição (temporária) de Chadásh (“nova” colheita). Deus nos quer ver desfrutando plenamente de nossa colheita. Mas tudo o que proporciona júbilo torna-se mais rico se estiver sujeito a certas restrições. Precisamos aprender que Deus está em primeiro lugar. Quando trazemos o primeiro Ômer a Deus, temos de reconhecer que nosso sustento provém Dele e que a Ele dedicamos os produtos com os quais nos alimenta. Desde esse primeiro Ômer, oferecido no dia 16 de Nissán, fazemos uma contagem, dia após dia, semana após semana, até chegarmos a Shavuót, que celebra a outorga da Torá no Monte Sinai e o amadurecimento da colheita do trigo e os primeiros frutos do verão.

(2) O significado da contagem – Esta contagem significa um reconhecimento de nossa parte de que a aquisição da independência física em Pêssach é só o começo. Agora, temos de justificá-la nos esforçando para nos tornarmos merecedores da Torá em Shavuót. E mais.

O Ômer oferecido em Pêssach era de cevada. A oferenda de Shavuót era de trigo. Cevada é o alimento dado aos animais. Já o trigo é consumido pelo homem.

A Torá sugere assim que a independência física mantém o homem ainda em estado animal. A contagem de quarenta e nove dias significa um processo de refinamento sétuplo, que marca nosso desenvolvimento progressivo até estarmos espiritualmente prontos para receber a Torá no Sinai, o que aconteceu sete semanas após o Êxodo. Se “sete”, o número da Criação, representa a plenitude deste mundo, o número “oito” se relaciona com o que está além da Criação – o mundo espiritual de onde provém a Torá. “Cinquenta”, número código de Shavuót, poderia ser chamado de “supra oito”, pois aparece em seguida a sete séries de sete. Para sermos merecedores de celebrar a criação da Torá em Shavuót (veja capítulo 43/2), devemos primeiramente seguir o árduo caminho preparatório que inclui quarenta e nove estágios. É por isto que Shavuót está separada do primeiro dia de Pêssach por quarenta e nove dias. A Torá pode ser adquirida somente após um empenho prolongado.

Sheminí Atséret, porém, vem imediatamente após os sete dias de Sucót. Não há período preparatório. Isto se deve ao fato da preservação da Torá em Israel depender mais de Deus do que de nossos esforços. Vimos isto acontecer na milagrosa retomada do modo de viver segundo a Torá verificado depois do Holocausto (veja capítulo 43/3).

(3) Momentos de luto – Os dias entre Pêssach e Shavuót são entremeados por eventos que ocorreram séculos atrás, mas cuja memória ainda nos afeta. Em Érets Israel, no segundo século da Era Comum, muitos dos discípulos do rabi Akiva morreram durante esta mesma época, vítimas de uma misteriosa epidemia. Eram os porta-vozes da Torá de sua geração. Nossos Sábios atribuem suas mortes a certas falhas de caráter que poderiam ser perdoadas em outras pessoas, mas não em arautos da Torá. Estes estudiosos da Torá negligenciaram o tratamento respeitoso que deviam uns aos outros. A lição para os nossos dias é óbvia. Cerca de mil anos depois, nas comunidades judaicas da Renânia (uma região do oeste da Alemanha), durante o mesmo período de preparação para o recebimento da Torá, muitos de nossos mais pródigos filhos e filhas deram suas vidas por esta mesma Torá, caindo vítimas da cegueira doentia dos Cruzados (1096 da Era Comum). Em consequência, este período carrega um tom de dolo público. Não celebramos casamentos e não cortamos os cabelos. Isto deve nos fazer lembrar que, como portadores da mensagem da Torá, devemos agir de acordo com este privilégio. Deve igualmente nos imbuir de um grande senso de responsabilidade para levarmos adiante a sagrada missão pela qual nossos mártires deram suas vidas. Isto tem relevância especial nos dias de hoje, quando, não tão distante no tempo, milhões de nossos irmãos judeus foram assassinados por europeus supostamente “civilizados” por nenhuma outra razão que não o fato de serem judeus – o povo da Torá. (Extraído do livro JUDAÍSMO PARA O SÉCULO 21, do Rabino Aryeh Carmel, Editora Sêfer.) [2]

Fontes: [1] Eterna Sefarad: http://zivabdavid.blogspot.com/2012/04/o-que-e-contagem-do-omer-e-como-se.html (Chabad: http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1173784/jewish/Sete-Atributos-Emocionais.htm)
[2] http://blog.sefer.com.br/contagem-do-omer/
Coordenador: Saul S. Gefter, Diretor Executivo 28 de nissan de 5778 – 13 de abril de 2018

2 comentários em “O QUE É A CONTAGEM DO ÔMER? (5778) – Estudo de 13 de abril de 2018 – 28 de nissan de 5778”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *