TEFILÁ – UM PORTAL PARA O INFINITO (5778) – Estudo de 10 de agosto de 2018 – 29 de Av de 5778

I. Um Portal Para O Infinito – Mas, se por um lado as rezas são parte indispensável da religião, são também as que mais perplexos nos deixam. Por que seria necessário orar? Um D’s Onisciente certamente está ciente de todas as nossas carências e anseios. Ele sabe o que há em nosso coração e nossa mente; Ele não necessita de nossa intervenção para poder articular esses anseios. A Torá nos ensina: “O homem vê o exterior, porém o Senhor vê o coração” (Samuel 16:7). Qual, então, o propósito da oração? A palavra hebraica para oração – tefilá – deriva de uma raiz que significa juntar, unir. A tefilá, portanto, serve para unir o homem a D’s. Através da reza, o indivíduo liga-se espiritualmente a D’s, e esta serve, portanto, como canal para invocar e irradiar as bênçãos divinas. O Zohar ensina que através do desejo de orar e da concentração ao fazê-lo, a pessoa pode vincular sua vontade a D’s.

Fazendo-o, gera o poder de efetuar mudanças espirituais e físicas no mundo. Isto ajuda a explicar por que a oração deve ser expressa através de palavras, e não apenas de pensamentos ou sentimentos. As palavras que saem de nossos lábios têm uma realidade física e tornam-se o instrumento através do qual o cumprimento espiritual da oração pode tornar-se real no plano físico. Os pensamentos e os sentimentos – por mais sagrados que possam ser – são realidades abstratas e espirituais. Um D’s Onisciente de certo é conhecedor de todas as rezas feitas mentalmente. Mas, os resultados da oração são proporcionais ao recipiente no qual é apresentada: um recipiente espiritual gerado pela oração mental invocará uma resposta espiritual, mas esta não será manifestada em nível físico. (1)

O poder da oração é tão grande que, além de invocar as bênçãos divinas, pode desviar e até mesmo reverter decretos Celestiais desfavoráveis. O Midrash ensina: “A oração é poderosa porque pode desfazer um decreto Celestial” (2) . Mas como pode D’s Todo Poderoso alterar Seus próprios desígnios em virtude das palavras de um ser limitado, a quem Ele próprio criou e sustém? Certamente D’s não muda Suas decisões, como está escrito: “Porque Eu, o Senhor, não mudo” (Malaquias 3:6). Como, então, pode a oração anular um decreto Divino? O verbo hebraico “orar” – lehitpalel – é um verbo reflexivo e deriva de uma raiz que denota julgamento. Orar corretamente é exercitar uma forma de introspecção, de auto-julgamento, da pessoa tomar conhecimento de suas falhas e dispor-se a melhorar. À medida em que se corrige, o homem se aproxima espiritualmente de D’s, mudando o grau de bênçãos que ele consegue gerar. Decretos Divinos desfavoráveis podem ser alterados e o homem pode se tornar merecedor de bênçãos Divinas. Portanto, esta reversão não se realiza através de D’s – já que D’s não muda – mas sim através do homem. Alinhado com este conceito, há um tema básico e que se repete no Zohar: “uma comoção nos Céus é resposta a uma comoção na terra”.

Isto significa que D’s “reage” de acordo com os atos dos homens. Um dos propósitos da oração é permitir que a pessoa perceba que não pode ir contra a vontade de D’s e, ao mesmo tempo, pedir para que Ele realize os seus próprios anseios. Segundo o Midrash, D’s diz ao povo judeu que se cumprirem Seus mandamentos, Ele ouvirá suas preces (3). As orações são ainda mais eficazes quando levam à teshuvá. Comumente mal traduzida, a palavra teshuvá não significa remorso ou arrependimento, mas sim o retorno de um indivíduo a Seu Criador. E o propósito da teshuvá é que a pessoa siga os mandamentos de D’s aproximando-se assim Dele.

Segundo nossos sábios a única forma do o homem ” se aproximar ” a D-s é se “parecer”com Ele . Mas como pode um ser finito emular seu Criador, Infinito? Na Torá, D’s próprio nos diz que podemos fazê-lo através da tzedacá – praticando a caridade e boas ações. Pois está escrito: “…guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e a caridade” (Gênese 18:19). Como as ações de D’s são “proporcionais ” às dos homens, a tefilá e a teshuvá têm grande poder quando combinadas com tzedacá.

O ser humano está em melhores condições de rogar as Graças Divinas e Sua generosidade quando ele próprio é cheio de graças e generosidade. Por isso nos alerta a Torá: “Aquele que tapa os ouvidos ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido” (Provérbios 21:13). Em outra passagem, D’s afirma que Ele ouvirá as preces daqueles que praticam a caridade com o necessitado: “Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante? …então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás por socorro, e Ele dirá: Eis-Me aqui!’…”(Isaías 58:7-9).

Assim sendo, o Talmud relata que o grande sábio Rabi Elazar orava somente após ter feito caridade aos pobres. O Midrash também ensina que se uma pessoa usa suas posses para praticar boas ações, suas preces serão atendidas. O Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador do movimento Chabad-Lubavitch, em sua obra prima cabalística, o Livro de Tanya, escreve que o ensinamento que diz que “uma comoção nos Céus é a resposta a uma comoção na terra” cumpre-se em maior amplitude através da tzedacá e das boas ações. (4)

Podemos, pois, melhor entender o tema dominante em Rosh Hashaná: “Três coisas anulam um Decreto Divino desfavorável : tefilá, teshuvá e tzedacá” (Talmud Yerushalmi, Taanit 2:1). A oração deveria levar a um retorno a D’s e a Seus mandamentos, e isto pode ser melhor expresso através de atos de generosidade e bondade. Agindo deste modo, o indivíduo pode invocar semelhante resposta do Altíssimo e, assim, canalizar bênçãos espirituais e materiais não apenas para si e sua família, mas também para todo o povo judeu e a humanidade inteira.

As Orações do Povo Judeu = A Torá ordena ao povo judeu “Ama o Senhor teu D’s, servindo-o com todo o teu coração e toda a tua alma”. (Deuteronômio 11:13). Explica o Talmud que servimos a D’s com todo o nosso coração através da oração (5). Na Torá D’s afirma que Ele formou o povo judeu para que este proclamasse o Seu louvor (6).

Um Ser Infinito e Perfeito certamente não necessita palavras de louvor. Mas, como vimos no texto acima, o propósito da prece, como o indica a palavra tefilá, é fazer o homem unir-se espiritualmente a D’s. Amor e louvor são forças unificadoras no mundo, e o louvor do povo judeu a D’s é retribuído pelo Senhor. Pois está escrito: “D’s Santificado, Abençoado seja o Seu nome, disse a Israel: Tu me fizeste objeto de louvor sem igual no mundo, e Eu farei de Ti objeto de louvor não igualado no mundo”(7).

Como D’s é a única fonte de vida e bondade no universo, Ele anseia pelas palavras de amor e louvor do povo judeu para que este possa unir-se espiritualmente a Ele, tornando-se assim receptáculo de todas as Suas bênçãos. As palavras de louvor e amor a D-s revertem, portanto, em benefício dos homens e não de D’s. Maimônides relaciona a oração como um dos 13 Princípios da Fé Judaica. Afirmou em uma de suas obras que deve-se dirigir preces somente a D’s e que a pessoa não deve orar a ninguém ou a nenhuma outra entidade.

Somos até proibidos de rezar a quaisquer intermediários que porventura nos pudessem aproximar de D’s. Temos permissão de invocar as bênçãos de outrem e pedir que rezem por nós, no entanto todas as orações e pedidos devem ser dirigidos ao próprio D’s. Rezar-se a qualquer outro que não D’s Todo Poderoso é negar a Sua Unicidade, Sua Infinidade e Sua Bondade. Os sábios do Talmud permitiram que se rezasse em qualquer idioma, sem que isto, no entanto, iguale o hebraico a outra língua qualquer. Se uma pessoa faz suas preces em hebraico, está cumprindo sua obrigação mesmo que não entenda o que diz.

O mesmo não é válido para nenhum outro idioma. A razão para tal é que as nossas orações foram compostas pelos profetas e sábios que tinham a habilidade de combinar letras, versos e idéias de tal forma a canalizar as bênçãos dos Céus.

O Baal Shem Tov – fundador do movimento chassídico e mestre da Cabalá – nos ensinou que nosso principal vínculo com D’s se rea-liza através das palavras da Torá e da oração, e que cada uma das letras nessas palavras tem uma essência interior espiritual. Portanto, ao ler tais letras hebraicas, a pessoa pode despertar poderes espirituais, ainda que não entenda o que lê. Especialmente poderosas são as orações do Sefer Tehilim, o Livro dos Salmos, composto em sua quase totalidade pelo Rei David. Como já mencionado acima, o poder da prece é tão grande ao ponto de anular um decreto Divino negativo. O Baal Shem Tov ensinava que a recitação dos Salmos é extremamente eficaz em reverter desígnios Divinos desfavoráveis. Costumava dizer: “O que pode quebrar e alterar o julgamento do Senhor? A proclamação de todos os Seus louvores – o livro de Tehilim!” Ao longo dos séculos, inúmeros sábios e místicos falaram dos grandes poderes espirituais desencadeados pela recitação dos Salmos.

O terceiro Rebe de Lubavitch, conhecido como o Tzemach Tzedek, assim ensinou a seus filhos: “Se vocês soubessem o poder dos versos do Tehilim e seus efeitos nas mais supremas alturas, passariam todos os momentos de sua vida recitando-os. Saibam pois que os capítulos dos Salmos … prostram-se diante do Senhor de tudo, brindando em troca o efeito desejado com bondade e misericórdia”. Em nossos dias o Lubavitcher Rebe ensina que sempre que surgir uma dificuldade pessoal ou comunitária, deve-se recitar o livro de Tehilim. Toda Prece é Atendida – O Talmud fala de “coisas que se situam nas mais elevadas instâncias do universo, mas que são consideradas de menor importância pelos homens” (Berachot 6b). Nossos sábios identificam a prece como uma destas. Segundo o Baal Shem Tov as pessoas geralmente pensam que suas preces foram em vão e, por esse motivo, a oração freqüentemente “não é levada a sério pelos homens”.

Revelou também que toda prece tem algum efeito e que os resultados nem sempre são manifestados aqui, no mundo físico, mas apenas “nas instâncias mais elevadas do universo”. No entanto, na verdade, o indivíduo precisa entender que suas palavras, sua conduta e suas ações deixam marcas profundas no mais altos domínios do universo(8) .

Portanto, assim ensinava o Baal Shem Tov: “Da má lema’alá mimach”- saiba que o que quer que esteja nas Alturas, provém de você e através de você mesmo (9). Isto significa que os atos de cada ser humano possuem significado cósmico. E cada um de seus atos provoca reações proporcionais por parte de D’s. D’s jamais se fecha às preces de alguém. A pessoa pode não merecer que suas preces sejam atendidas nem ser digna da misericórdia Divina, mas se ora com fervor e dirige suas súplicas a D’s, o Senhor terá misericordia dela, pois o Talmud nos ensina que “Quer sejas bom ou mau, sempre serás chamado de filho de D’s”(10).

Às vezes D’s não atende imediatamente uma prece pois há certos pedidos que requerem múltiplas súplicas – tanto no número de orações quanto no de suplicantes. Assim sendo, cada uma dessas preces contribui para o objetivo supremo, mesmo se seus resultados práticos não forem percebidos naquele momento. Outras vezes D’s responde “não” a um pedido por ser tal resposta a melhor solução para o suplicante. Somente D’s Onisciente, que tem o dom de conhecer o futuro e tudo o que este aportará, pode determinar se o pedido de tal pessoa será benéfico para a mesma. Pois está escrito: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia n’Ele, e o mais Ele fará (Salmos 37:5)” para te propiciar o que verdadeiramente for melhor para ti.

O Grande Shofar – Os dias de Rosh Hashaná e Yom Kipur são dedicados a intensas preces e súplicas por serem o período em que D’s determina e confirma o destino de cada ser humano para o ano vindouro. O ponto alto dos serviços do Ano Novo e da conclusão do Dia do Perdão é o toque do shofar. De fato, a Torá refere-se a Rosh Hashaná como o Dia da Recordação do toque do shofar. (Levítico 23:24). O som do shofar é uma chamada para que o povo judeu se aproxime espiritualmente do Rei Único e Supremo. Ensina o Talmud que o shofar tem o efeito de fazer com que D’s se lembre de seu povo de forma a beneficiá-lo. Quando a Torá foi entregue no Monte Sinai, soou um intenso toque de shofar. E soará, com igual intensidade, mais uma vez, para anunciar a chegada de uma era em que todo o povo judeu tenha sido levado de volta à Terra Santa e o Terceiro Templo, reconstruído. Este intenso toque será a realização das preces coletivas de todo um povo por dias em que a humanidade inteira conheça apenas a paz, a justiça e a abundância. E em que homem algum volte a sofrer, ter fome, doenças ou infortúnios.

O Rebe de Lubavitch costumava atribuir grandes poderes às palavras e atos de cada um dos seres humanos. Ensinava que uma única prece e uma única boa ação poderiam ser o ajuste final que faltava ao mundo antes de se transformar para poder receber a nova era. Esta nova era será precedida pela oração, a tefilá: “Invoca-Me e te responderei; anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não conheces… (Jeremias 33:3). E isto será realizado através da teshuvá: “…e tornares ao Senhor teu D’s, tu e teus filhos, de todo o teu coração e de toda a tua alma, e deres ouvidos à Sua voz segundo tudo o que hoje te ordeno …e te recolherá de novo em meio a todos os povos entre os quais te havia espalhado o Senhor teu D’s… Então o Senhor teu D’s te introduzirá na terra que teus pais possuíram e a possuirás; e te fará bem, e te multiplicará mais do que a teus pais” (Deuteronômio 30: 2-5). E isto será acelerado através da tzedacá: “Grande é a caridade pois aproxima e acelera a redenção” (Talmud, Bava Batra 10a). Que neste Rosh Hashaná e Yom Kipur, o Todo Poderoso possa determinar e selar o decreto de que no próximo ano “um grande shofar soará e todo o povo judeu virá: os que andavam perdidos pela terra da Assíria, e os que foram desterrados para a terra do Egito tornarão a vir, e se prostrarão diante do Senhor no monte santo em Jerusalém” (Isaías 27:13). [1]

II. Tefilá, Tzedacá e Teshuvá – Rabi Lazar dizia: “Três coisas anulam um decreto severo: Tefilá (Oração), Tzedacá (Caridade) e Teshuvá (Arrependimento)” (Talmud Yerushalmi, Taanit 9b). Um dos temas principais dos Asseret Yemei Teshuvá, os Dez Dias de Arrependimento, que se iniciam em Rosh Hashaná e terminam na conclusão do Yom Kipur – são as três coisas que têm o poder de anular um decreto Celestial severo. E elas são: a Tefilá, oração, a Tzedacá, caridade, e a Teshuvá, arrependimento.

O Talmud Yerushalmi (Taanit 9b), ensina que a origem desse ensinamento é uma passagem do Livro de Crônicas (2 Crônicas, 7:14), que reconta a resposta de D’us às orações do Rei Salomão quando ele inaugurou o Tempo Sagrado de Jerusalém. O rei pedira a D’us que fossem aceitas as súplicas em prol do Templo Sagrado. D’us respondeu que se Ele viesse a decretar uma escassez de alimentos, uma peste ou uma praga contra a Terra, Ele atenderia as súplicas do povo e aliviaria o decreto, com a estipulação mencionada no versículo: “E (se) Meu povo, sobre o qual Meu Nome é proclamado, humilhar-se, e orar, e buscar a Minha face, e se eles se arrependerem de seus maus caminhos, Eu os atenderei dos Céus, e perdoarei seus pecados e curarei sua terra”.

O Talmud Yerushalmi demonstra de que forma a oração, a caridade e o arrependimento se originam de elementos desse versículo. Quando o versículo diz “e orar”, obviamente se refere à oração. Quando diz “buscar a Minha face”, refere-se à caridade, pois está escrito no Livro de Salmos (em 17:15): “Quanto a mim, por minha justiça, contemplarei Tua face…”, que é interpretado como: “pelo mérito de minha justiça (Tzedek) – por meio da caridade (Tzedacá) que eu realizo – terei o mérito de contemplar a Tua face”. E quando o versículo diz: “eles se arrependerem de seus maus caminhos”, isso claramente se refere ao arrependimento.

E conclui o Talmud Yerushalmi: “O que lá está escrito, na continuação daquele versículo: ‘Eu os atenderei dos Céus, e perdoarei seus pecados e curarei sua terra’”. Essa passagem do Talmud de Jerusalém – que ensina que a oração, a caridade e o arrependimento podem anular um decreto Celestial hostil – suscita muitas perguntas que constituem o cerne do Judaísmo. Por exemplo, como pode a oração influenciar as decisões Divinas? Ou, qual o significado do conceito de que por meio da caridade, da Tzedacá, pode-se “contemplar a Face de D’us” – obviamente um conceito antropomórfico, uma vez que os conceitos físicos não se aplicam ao Todo Poderoso? E ainda outra questão fundamental: Qual o significado da Teshuvá? O propósito da oração – Tefilá, oração, é um elemento essencial em todas as religiões. A oração e a religião são interligadas. Não existe relacionamento se não há comunicação e a oração é nossa forma de nos comunicarmos com D’us. Qualquer um pode orar, em qualquer idioma, e da forma que melhor lhe aprouver.

Mesmo as crianças pequenas oram. É bem possível que a oração seja instintiva e não apenas algo que tenhamos que aprender. Como a oração é um fenômeno tão comum, muitas pessoas a aceitam como coisa natural, mas na verdade não é tão simples assim. O próprio conceito da oração levanta muitas questões teológicas e filosóficas. Por exemplo, se as decisões Divinas são decretadas por Sua Divina Sabedoria e, assim, simbolizam a bondade, a verdade e a justiça, por que a oração levaria D’us a mudar de opinião? Outra pergunta: se uma pessoa é um ser humano íntegro e merecedor, por que D’us não haveria de favorecê-la mesmo se ela não orasse?

Por outro lado, se a pessoa não faz jus àquilo que pede em suas orações, por que a oração deveria ajudá-la? Uma pergunta ainda mais fundamental: Por que devemos orar, afinal? D’us Infinito, que é Onisciente, certamente está ciente de nossos desejos e necessidades mesmo que nós não os pronunciemos. Não há nada que possamos dizer-Lhe que Ele ainda não saiba. D’us sabe, melhor ainda do que nós, aquilo que desejamos, aquilo que nos falta e de que carecemos.

Ele certamente está ciente do que está em nosso coração e do que se passa em nossa mente. Conhece nossas ambições e anseios, nossas preocupações, problemas e aflições. Nada do que sabemos e sentimos é desconhecido por D’us. Conhece-nos melhor do que nós nos conhecemos. O conceito de que por meio da oração podemos mudar a mente de D’us é especialmente desconcertante. Quando oramos e pedimos que D’us aja de determinada maneira, estamos indicando saber melhor do que Ele como deveria agir? Se Lhe pedimos que anule um decreto, estaríamos dizendo que Ele tomou uma decisão errada e deveria reconsiderá-la?

Ao que tudo indica, o conceito de oração parece ser um ato que contradiz a noção de que D’us é onisciente e perfeito. E, mesmo assim, além de termos permissão de orar, somos mesmo instruídos a fazê-lo. Segundo vários legisladores da Torá, a oração é um mandamento bíblico. Na verdade, temos o mandamento de servir a D’us diariamente, como determina a Torá: “… E servireis ao Eterno, vosso D’us, e Ele abençoará o teu pão e a tua água…” (Êxodo, 23:25). Apesar de podermos servir a D’us de várias formas, a principal delas é por meio da oração, quando podemos comungar com D’us com nossos pensamentos, emoções e pronunciamentos.

A oração pode ter várias formas, desde que forneça uma forte comunhão entre a pessoa e D’us. Pode consistir de uma louvação a D’us, de um pedido a Ele para que realize nossas necessidades e desejos ou de um agradecimento por benesses recebidas. Mesmo que a pessoa sinta ter tudo o que precisa e deseja, sempre deve orar a D’us pedindo pelo futuro. É claro que quando oramos, estamos rogando a D’us para que realize nossas necessidades e desejos e geralmente Lhe pedimos que mude Seu decreto. Por que D’us não apenas permite, mas nos ordena fazer algo que parece ser pretensioso e mesmo um pouco ofensivo a Ele? Por que Ele espera que nós Lhe digamos aquilo que Ele já sabe e Lhe peçamos para que reverta ou anule Suas próprias decisões? Há várias respostas a essas perguntas. Uma discussão rica e profunda sobre a oração está muita além do escopo deste artigo. Mas tentaremos discutir brevemente algumas respostas que o Judaísmo dá ao tema. Nossos Sábios ensinam que D’us geralmente deposita bênçãos sobre uma pessoa na medida em que essa pessoa seja um digno receptáculo das mesmas. Se a pessoa não o é, pode “perder” uma bênção que lhe estava destinada, simplesmente porque deixou de se alinhar com aquela bênção ao não se tornar digno da mesma. Isso pode ser comparado a um agricultor que estava destinado a ter um ano próspero em suas terras, mas que deixou de semeá-las e, portanto, não colheu nada.

Assim, os problemas ou carências de uma pessoa podem refletir um estado espiritual inadequado, e não necessariamente o plano Divino para ela. Da mesma forma, quando a pessoa muda sua realidade espiritual, ela pode mudar as circunstâncias de sua vida. Essa mudança não ocorre porque ela mudou a ideia de D’us, mas porque, ao elevar seu estado espiritual, ela se tornou digna do bem que D’us lhe havia reservado, a priori. Uma das maneiras mais potentes e eficazes de se elevar o estado de espírito é por meio da oração. De fato, esse é um dos principais propósitos da oração.

Quando a pessoa reza, especialmente quando o faz com intensidade e sinceridade, está intensificando sua fé e confiança em D’us, pois, ao orar, está reconhecendo a Infinita capacidade Divina, nossa dependência d’Ele e Seu controle sobre tudo. O ato de orar aumenta a conscientização que essa pessoa tem de D’us e de Sua Providência, tornando-a, assim, digna da bondade que D’us lhe quer dedicar. A oração também deve levar a pessoa a se curvar perante D’us. A humildade e o sentimento de que estamos totalmente dependentes de D’us nos leva mais perto d’Ele – tornando aquele que ora mais apto a receber as bênçãos Divinas.

Isso explica melhor o porquê de D’us “desejar” as orações dos justos: um justo pode ser digno de uma bênção, de qualquer modo, mas, ainda assim, D’us deseja elevá-lo, ainda mais, motivando-o a orar e, assim, crescer espiritualmente. A oração tem a capacidade de levar a pessoa aos mais altos níveis de perfeição espiritual. Isso também explica por que devemos orar ainda que D’us conheça nossos desejos e pedidos mais do que nós mesmos. Na oração, devemos nos concentrar e nos entregar por completo, chegando, assim, muito mais perto de D’us, pois voltamos toda a nossa atenção a Ele, conectando-nos com Ele ao expressar nossas necessidades. Isso nos torna merecedores da benesse que D’us reservou para nós.

Por essa razão, a oração era a forma como os patriarcas – Avraham, Itzhak e Yaacov – bem como todos os grandes homens e mulheres de Israel se ligavam a D’us. De fato, vemos na Torá que Moshé, o maior dos profetas, regularmente orava a D’us. É importante observarmos que a oração tem o poder de efetuar uma mudança porque ela revela a dedicação da pessoa a D’us também de outras maneiras. Por exemplo, quando alguém se empenha em ir à sinagoga e se une aos demais, ela está santificando o Nome de D’us de forma pública e disseminando sua fé em D’us. Assim sendo, a oração não é uma questão de “informar” D’us acerca de nossas solicitações.

É uma forma muitíssimo poderosa de dedicação, de crescimento espiritual e de união com D’us. Isso é o que a torna uma das funções mais fundamentais do homem na vida, e um meio dos mais poderosos de se alcançar um favorecimento Divino. Como o propósito da oração é rogar a D’us que introduza mudanças no mundo físico, a oração serve para aperfeiçoar Seu relacionamento com o mundo e, assim, unificar os planos espiritual e material. Esse é o significado do ensinamento cabalístico de que a oração deve se elevar e penetrar todos os mundos espirituais, de modo a fazer com que a bondade Divina flua para baixo, unificando-os e nutrindo-os. Por essa razão, a oração é tão importante perante D’us. O Talmud Bavli ensina que a oração é uma daquelas coisas que se colocam nos reinos espirituais mais elevados, no entanto muitas pessoas a consideram de forma leviana. Se elas soubessem quão poderosa pode ser a oração, certamente orariam com mais frequência e muito mais concentração.

Resumindo o que vimos acima, a oração anula os decretos Celestiais hostis porque orando nos aproximamos de D’us e, assim, removemos todas as barreiras que podem nos ter impedido de receber as benesses que emanam d’Ele. A oração não muda a Sua opinião. Mas muda nosso estado espiritual, tornando-nos, assim, mais aptos a receber as bênçãos Divinas.

Voltando à analogia mencionada acima, D’us pode decretar que um determinado agricultor tenha uma boa safra, mas é necessário semear adequadamente para que a colheita seja boa. Da mesma forma, o esforço que uma pessoa despende na oração é, em geral, um pré-requisito para a concretização de todas as benesses que D’us decretou para ela. …

Os Dez Dias de Arrependimento – Tefilá, Tzedacá e Teshuvásão três pilares do Judaísmo que cada judeu deve se empenhar em praticar durante todo o ano. Somos instruídos a orar diariamente, preferivelmente três vezes ao dia – Shacharit (a oração da manhã), Minchá (a oração da tarde) e Arvit (a oração da noite). … Bibliografia: Talmud Yerushalmi – Artscroll Mesorah; Rabenu Shmuel Yafeh, Sefer Yafeh Mareh; Rabi Aryeh Kaplan, Handbook of Jewish Thought – Moznaim Publishing Corporation [2]

Fontes: [1] Morasha – Edição 30 – Setembro de 2000: http://www.morasha.com.br/leis-costumes-e-tradicoes/um-portal-para-o-infinito.html [2] Morasha – Edição 93 – Setembro de 2016: http://www.morasha.com.br/rosh-hashana/tefila-tzedaca-e-teshuva.html
Coordenador: Saul S. Gefter, Diretor Executivo 29 de Av de 5778 – 10 de agosto de 2018

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