SER JUDEU (5780)- Estudo para 20 de dezembro de 2019 – 22 de Kislev de 5780

I. O que é ser judeu? Baseada nos ensinamentos do Rebe

Pergunta: O Judaísmo é uma “religião”? O termo “judeu não-religioso” é um contra-senso? Alguém ainda pode ser judeu sem observar as leis e ética da Torá na vida diária? Afinal, o que é ser judeu?

Resposta: Os judeus desafiam todas as definições convencionais de “povo” ou “nação”. Carecemos de uma raça comum, cultura ou experiência histórica. Ao mesmo tempo todos compartilhamos nossos direitos eternos à Terra de Israel, pois exceto em alguns poucos séculos nos últimos 4000 anos a esmagadora maioria dos judeus não viveu ou sequer colocou os pés no país judaico. No decorrer de nossos mais de 3300 anos de história, o que nos definiu como judeus é um relacionamento e comprometimento. Somos judeus porque D’us nos escolheu para sermos Seu “tesouro querido entre todas as nações… um reino de sacerdotes e um povo sagrado” (Shemot 19:5-6). Somos judeus porque D’us nos escolheu para desempenhar o papel principal na implementação de Seu propósito na Criação: para orientar nossas vidas de acordo com Sua vontade, e desenvolver uma sociedade e comunidade mundial que reflete Sua bondade e perfeição. A substância desse relacionamento, o mapa desse compromisso, é a Torá. Ela é o conceito Divino de realidade comunicada ao homem, o projeto que descreve o mundo perfeito visualizado por nosso Criador e detalha a maneira como o Inventor da Vida deseja que seja vivida. Isso poderia parecer definir nosso Judaísmo como uma “religião”; somos judeus porque aderimos às crenças e práticas ordenadas pela Torá. Porém, a própria Torá diz que não é assim.

A própria Torá proclama (Vayicrá 16:16) que D’us “habita entre eles no meio de suas impurezas” – que Seu relacionamento com Seu povo permanece intacto apesar de seu comportamento. Nas palavras do Talmud (Sanhedrin 44a), “Um judeu, embora tenha transgredido, é um judeu.” Segundo a Lei da Torá, o Judaísmo de uma pessoa não é uma questão de estilo de vida ou autopercepção: ele pode ser inconsciente por completo de seu Judaísmo e ainda ser judeu, ou pode-se considerar judeu e cumprir todos os preceitos da Torá e ainda assim não ser judeu. Em outras palavras, é o relacionamento entre o judeu e seu Criador que define seu Judaísmo – não seu reconhecimento desse relacionamento ou sua concretização na vida diária. Não é o cumprimento das mitsvot (“Mandamentos Divinos”) que faz dele um judeu, mas o comprometimento que as mitsvot representam.

A essência de uma transgressão – Este é o significado mais profundo do axioma: “Um judeu, embora tenha transgredido, é um judeu.”

O significado simples dessas palavras é que um judeu ainda é um judeu apesar de suas transgressões. Num nível mais profundo, é porque transgrediu que ele é um judeu. Um não-judeu que come chametz (pão fermentado) em Pêssach não fez nada de errado; da mesma forma, se comer matsá na noite do Sêder, isso não tem importância moral ou espiritual. Mas para um judeu, as mitsvot de Pêssach são um componente do seu relacionamento com D’us: ao cumpri-las, ele está concretizando esse relacionamento e estendendo-o à sua vida diária. Se ele as violar, D’us não o permita, está transgredindo – agindo de forma contrária ao compromisso que define sua identidade. Assim, num certo sentido, o fato de um judeu transgredir é não menos uma expressão (embora negativa) de seu relacionamento com D’us que o seu cumprimento de uma mitsvá. Na verdade, a palavra hebraica mitsvá significa tanto “mandamento” como “conexão”. O relacionamento entre os dois significados da palavra pode ser entendido em dois níveis. No nível comportamental, conectamo-nos a D’us por intermédio do nosso cumprimento dos Seus mandamentos. Num nível mais profundo, estamos inexoravelmente conectados a Ele em virtude do fato de que Ele nos escolheu como objeto de Seus mandamentos. Obviamente, esses dois níveis de conexão são dois lados da mesma moeda, a face interior e a exterior da mesma verdade: nossa observância das mitsvot é a manifestação, em nossa vida cotidiana, do vínculo intrínseco entre D’us e Israel.

O elo de seis dimensões – O Zohar, a obra fundamental da Cabalá, expressa esse conceito da seguinte maneira: Há três conexões (“kishrin”) que são limitadas entre si: D’us, a Torá e Israel – cada qual consistindo em um nível acima de um nível, oculto e revelado. Há o aspecto oculto de D’us, e o aspecto revelado; a Torá, também, possui um aspecto oculto e um revelado; e o mesmo ocorre com Israel, que tem tanto os aspectos oculto quanto o revelado.
O Zohar prossegue descrevendo a maneira pela qual a Torá serve como o elo entre D’us e Israel: como a Torá é uma só com seu Divino Autor, e como o povo judeu se conecta com a Torá pelo estudo e observância dos seus ensinamentos. Mas quais são os elementos “oculto” e “revelado” de D’us, Torá e Israel? E qual é a sua relevância para nossa conexão com D’us pela Sua Torá? O Zohar está dizendo que essas três “conexões” são interligadas em dois níveis, tanto num plano oculto como num revelado. Pois cada um dos três elos interconectados possui tanto uma dimensão explícita quanto uma implícita. Há o aspecto assim chamado de “revelado” de D’us – aquelas expressões de Sua realidade que Ele escolheu manifestar dentro da existência criada: e há Sua essência “oculta”, incognoscível. O judeu, também, tem seu ser manifesto e revelado – a maneira pela qual ele se expressa por meio do seu comportamento; e seu ser oculto, quintessencial. E a Torá, como mencionado acima, tanto tem um significado mais pronunciado quanto um mais implícito como o elo conectando D’us e Israel. No plano “oculto”, a alma do judeu está ligada à própria essência de D’us por meio do relacionamento subjacente e o compromisso que a Torá representa. Mesmo se a vida do judeu, no nível de comportamento consciente, for inconsistente com a vontade revelada do Todo Poderoso, ele é não “menos” um judeu, D’us não o permita; não importa o que aconteça, o vínculo “oculto” intrínseco que define seu Judaísmo não é afetado.

Mas para expressar este relacionamento em todos os níveis de seu ser, para alinhar sua vida com sua essência, o judeu deve reiterar a conexão no nível “revelado”. Isto ele faz ao estudar a Torá e cumprir suas mitsvot.
A Terceira Junção – Existe, no entanto, mais um significado profundo nas palavras do Zohar. A passagem acima citada fala de “três conexões que são ligadas entre si”. A palavra aramaica traduzida aqui como “conexões” é kishrin, que significa literalmente “nós”.

À primeira vista, este parece ser um uso inexato. Se a Torá é o elo entre D’us e Israel, então o que temos são três entidades (D’us, Torá e Israel) ligados através de duas conexões (a conexão de Israel com a Torá e a conexão da Torá com o Todo Poderoso). Onde temos três nós/conexões? Isso nos leva a uma segunda definição das dimensões “oculta” e “revelada” do relacionamento entre D’us e Israel. O Midrash declara:

Duas coisas precederam a Criação Divina do mundo: Torá e Israel. Mesmo assim, eu não sei qual precedeu qual. Porém, quando a Torá declara “Fale com os Filhos de Israel…”, ou “Ordene aos Filhos de Israel…” e assim por diante, eu sei que Israel precedeu tudo (Tana D’vei Eliyahu Rabba, cap. 14). Em outras palavras, D’us criou o mundo para que Israel pudesse implementar Seu plano Divino para a existência, como é delineado na Torá. Portanto, o conceito de “Israel” e “Torá”, ambos precedem o conceito de um “mundo” na “mente” do Criador. Porém, qual é a “ideia” mais profundamente enraizada dentro da consciência Divina, Torá ou Israel? Israel existe para que a Torá seja implementada, ou a Torá existe para servir ao judeu no cumprimento de sua missão e a expressão do seu relacionamento com D’us? Se a Torá se descreve como uma comunicação com Israel – o Midrash está dizendo – isso presume o conceito de “Israel” como anterior àquele da Torá. Isso significa que o relacionamento de D’us com Israel “é pré-datado” (no sentido conceitual) ao da Torá, pois a Torá veio para servir àquele relacionamento. Nesse sentido, Israel é o “elo” entre a Torá e D’us: a existência da Torá como a incorporação da Divina sabedoria e vontade é um resultado da existência de Israel e sua conexão com D’us. Assim, temos três conexões ligando D’us, Israel e a Torá.

No nível revelado, a Torá serve como elo entre D’us e Israel: a Torá está conectada a D’us, e Israel está conectado à Torá. (Isso inclui os dois níveis de conexão delineados acima – a conexão atingida através do cumprimento de uma mitsvá e a conexão definida pelo mandamento em si). Num nível mais profundo, mais quintessencial, existe uma terceira conexão: a conexão “direta” entre D’us e seu povo, que precede o próprio conceito de uma Torá. Nesse nível, o envolvimento de Israel na Torá é o que conecta a Torá com D’us – o que faz com que Ele estenda Seu ser infinito e inteiramente indefinível até um meio de “Divina sabedoria” e “Divina vontade”. Nesse nível, não é o judeu que precisa da Torá para ser um com D’us, mas a Torá que “precisa” do judeu para evocar o desejo Divino de projetar-Se via Torá. Apesar disso, a Torá é fundamental para o relacionamento do judeu com D’us. A essência do judeu, como está enraizada dentro da essência de D’us, é de fato uma com sua Fonte. Mas então ela “desce” para se tornar parte da existência criada, assumindo uma identidade distinta como uma alma e então como um ser humano.

Portanto D’us proveu o judeu com a Sua Torá. Através da Torá, o judeu atinge seu verdadeiro ser quintessencial e torna seu vínculo intrínseco com seu Criador uma realidade na sua vida cotidiana. [1]

II. A Grandeza de ser Judeu, por Rabino Jonathan Sacks
“Há muito tempo atrás, em um deserto árido, no sopé de uma montanha no Sinai, D’us transmitiu a um povo pequeno, fragmentado e obstinado, com nada que o pudesse distinguir especificamente, um “algoritmo”. Era chamado de Torá, e esse algoritmo fez deles o povo mais notável, tenaz e inconformado com seu destino como jamais se viu…”.
Amigos, vocês constituem um grupo muito especial e eu preciso confessar-lhes algo. Eu me perguntava por que razão Hashem havia arquitetado este encontro do grupo Olami, Olam Ha’Yehudi, o mundo judaico, aqui em Londres, às margens do Tâmisa. E, de repente, me dei conta de que devia ser pelo fato de que, não muito longe daqui, também às margens do Tâmisa, um homem que não era judeu – alguém que eu realmente queria que tivesse sido judeu – William Shakespeare, aqui esteve. Por isso, quero citar um verso de Shakespeare que julgo ser capaz de transformar a vida da pessoa. É um verso da peça Twelfth Night (Noite dos Reis), que vai diretamente ao âmago do que significa ser judeu. E ele diz: “Alguns nascem grandes. Alguns alcançam a grandeza. Mas alguns têm a grandeza imposta a eles…”. Desde jovem eu percebi que não nascera grande nem iria alcançar a grandeza; mas em certo momento de minha vida, na faculdade, percebi que se você é judeu, você tem a grandeza imposta a você. De que maneira? Como? Porque somos os herdeiros dos descendentes do homem mais influente que já existiu, Avraham Avinu, nosso Patriarca Avraham, considerado hoje o ancestral em termos de religião de 2,4 bilhões de cristãos, 1,6 bilhão de muçulmanos e … alguns de nós, a maioria dos quais aqui reunidos esta noite. Esse homem não usava coroa, não reinava sobre nenhum império, não comandava nenhum exército poderoso, não realizava milagres nem profetizava – mas ele mudou o mundo com sua fiel determinação de atender ao chamado de D’us. Nós somos os descendentes de Moshé Rabeinu, a quem Jean-Jacques Rousseau, a inspiração da Revolução Francesa, intitulou “o maior legislador na história da humanidade”.

Somos os descendentes de David Ha-Melech, não apenas o maior rei de Israel, mas o maior poeta religioso em toda a História. Somos os herdeiros dos profetas, dos primeiros críticos sociais do mundo, do primeiro povo a dizer a verdade aos poderosos. Quando Martin Luther King, no Memorial de Lincoln, em Washington, fez seu discurso “I have a dream”, “Eu tenho um sonho”, no auge desse discurso o que ele cita, palavra por palavra? Nada menos do que dois pessukim, dois versos de Isaías da Haftará do Shabat Nachamu. Somos seus herdeiros, e não apenas deles; mas em toda a História fomos inovadores no que quer que fosse, em qualquer disciplina, em Física, Ciências, Sociologia, ou com Durkheim e Levy-Strauss em Sociologia e Antropologia. Os judeus inventaram Hollywood. Os judeus inventaram a Psicanálise. Tirando-se Jung, todos os psicanalistas eram judeus. Mas nesse ponto eu sempre digo: se você não é judeu, para que Psicanálise??? Todos os grandes psicoterapeutas, ou quase todos, Viktor Frankl; Aaron Beck, o co-fundador da Terapia Comportamental Cognitiva; Martin Seligman… Trinta e seis por cento dos Prêmios Nobel em Economia, incluindo este último; os maiores músicos, de Arnold Schoenberg aos maiores poetas na música pop, o saudoso Leonard Cohen, Paul Simon e Bob Dylan, até chegar a Sergey Brin da Google e Mark Zuckerberg do Facebook, e a maior invenção em tecnologia do mundo, chamada Waze, conhecida como Google Maps. Vocês sabem quantos casamentos o Waze salvou? Ou quantos casamentos desmoronaram porque ele disse a ela: “Por que você não olhou no mapa?”. E ela disse a ele: “Por que você não perguntou como se chegava lá? ”. Amigos, no mundo todo o Waze tem contribuído para o Shalom Bayit, a paz no lar…

Digo-lhes algo mais. Os judeus não inovaram apenas uma única vez. Eles inovaram geração após geração. E apesar de que algumas das personalidades citadas não fossem especialmente religiosas, cada uma delas manteve aquela ideia essencialmente judia de que você transforma o mundo não pela ideia de poder, mas pelo poder das ideias – e isso é o que o judaísmo significa. Somos o povo cujos heróis são professores, cujas fortalezas são casas de estudo, cuja paixão é o estudo e a vida da mente. E este é o problema. Vejam: é por isso que cada um de vocês é importante, porque hoje há, que D’us nos proteja, por volta de 13 milhões de judeus. Isso é pouco, uma minoria. Mas esse não é o problema. O problema é que onde quer que se olhe, mundo afora, um em cada dois, e dois em cada três jovens judeus estão-se afastando do judaísmo. E isso dói. E lhes digo porque isso dói. Os judeus existem há muito tempo. Existimos há mais que o dobro do tempo do que o Cristianismo; ao triplo do tempo que o Islamismo. Lembro-me de quando eu era Rabino Chefe, eu e parte da Commonwealth Britânica costumávamos ser “Hong Kong” até que tivemos que devolvê-lo aos chineses. Quando eu estive lá, sob domínio chinês, tive um encontro com o delegado de Beijing em Hong Kong, Sr. Tung Chee-hwa, primeiro governador, governador chinês de Hong Kong, um homem encantador que amava e admirava o judaísmo. Ele me disse: “Rabino Sacks, nós, chineses, sabemos que os judeus existem há longo tempo. Nós existimos há uns 5.000 anos. Vocês, há 6.000 anos. O que sempre quis saber é o que vocês faziam nos primeiros 1.000 anos, antes de existir delivery de comida chinesa casher???”. E eu lhe disse: “Sr. Tung, nos primeiros 1.000 anos nós vivíamos reclamando da comida…”.

E é isso aí. Nós já existimos há mais tempo do que quase todos os povos. Estivemos espalhados em todos os países do mundo. Nesses países, conhecemos todo tipo de sorte, do apogeu do triunfo às profundezas da tragédia, e ainda assim, nunca antes na História Judaica tivemos duas coisas que hoje temos, simultaneamente: soberania e independência em Medinat Israel, e liberdade e igualdade na Diáspora. Houve épocas em que gozávamos de uma, mas nunca antes, das duas. E hoje, quando todas as orações de nossos avós e dos avós deles, há cem gerações atrás, quando cada uma dessas preces foi respondida, … o que nós estamos fazendo? Estamos nos afastando… Isso é mau. Isso dói. E é por isso que quando eu estava na faculdade, eu dizia: “Não posso ser parte disto. Vou ser mais judeu, não menos”. Eu não pretendia, nem em sonho, ser rabino, mas tomei uma decisão, a de que não podia ser um daqueles que se afastam.

E se vocês tomarem essa mesma decisão de serem mais judeus, não menos, juntos vocês mudarão o curso da História Judaica. Bem, mas vocês sabem, e eu também sei, que não é fácil ser judeu.

Há todas aquelas leis, todo aquele estudo, todas aquelas restrições; a quem você pode desposar, o que você pode comer, quando você tem que descansar. Mas quero dizer-lhes algo. Sabem de uma coisa? Tudo hoje – foi meu neto que me explicou o que vou-lhes contar. [É por isso que temos netos…]. Meu neto me disse que “tudo hoje é um algoritmo”. O que é um algoritmo, isso eu não faço a menor ideia. Quando eu era pequeno, tínhamos “ritmo”, mas não tínhamos ainda o “algo”, do “algoritmo”, isso eu sei. E sei que sem o algoritmo você pode ter uma pequena livraria de bairro; mas se você tem o algoritmo, você vira uma Amazon.com. Havia milhares de mecanismos de busca (search engines1) antes do Google, mas você descobre que é um Larry Page e um Sergey Brin e você descobre o algoritmo certo… e aí você pode mudar o mundo. Há muito tempo atrás, em um deserto árido, no sopé de uma montanha no Sinai, D’us transmitiu a um povo, um povo pequeno, fragmentado e obstinado, com nada que o pudesse distinguir especificamente… e Ele lhes transmitiu um algoritmo. Era chamado de Torá, e esse algoritmo fez deles o povo mais notável, tenaz e inconformado com seu destino como jamais se viu no mundo. Como isso funciona, não lhes sei dizer. Mas sei que funciona, isso sim. E vocês estão para embarcar num futuro; cada um de vocês tem sonhos e planos; e estão para entrar em um futuro no qual nada é previsível; o mundo está mudando mais rápido do que nunca, e essa rapidez aumenta a cada ano; e vocês vão precisar de certas forças para se sair bem, prosperar e ter sucesso.

Quero contar-lhes por experiência própria o que esse algoritmo de Torá fará em sua vida. Em primeiro lugar, fortalecerá todos os seus relacionamentos importantes. Não há casamentos mais sólidos do que entre os judeus religiosos. Ninguém tem sentimentos de comunidade mais fortes do que os judeus. Ninguém tem o mesmo senso de responsabilidade coletiva que têm os judeus, no mundo todo, pois “Kol Yisrael Arevim Zé Ba’zé” – Todos os judeus são responsáveis uns pelos outros. Shimon bar Yochai disse: “Quando um judeu está ferido, todos os judeus sentem sua dor”. Ninguém tem relacionamentos como os nossos. Creiam-me. Sozinhos, vocês não conseguirão viver e encontrar felicidade e sucesso. Todos os estudos demonstram que seu sucesso e sua felicidade dependem da intensidade e qualidade desses relacionamentos – e isso é a primeira coisa que o judaísmo fará por vocês.

Em segundo lugar, o sucesso depende de hábitos de disciplina e força de vontade. A Halachá, a Lei Judaica, é o maior “seminário ininterrupto”, no mundo, sobre disciplina e força de vontade. Tentem levantar da cama, cedo, todo dia, para as rezas de Shacharit, e verão que qualquer outro desafio parece fácil …

Terceiro: se vocês quiserem evitar um esgotamento, um burnout, no meio de sua carreira, devem descobrir e guardar o Shabat, melhor seminário do mundo sobre equilíbrio entre trabalho e lazer. Uma moça que trabalha no Vale do Silício me contatou e disse: “Rabino Sacks, estou preocupada que todos os nossos filhos são viciados em smartphones.

Esses aparelhos estão arruinando suas habilidades sociais; estão destruindo sua capacidade de atenção. Já não conseguem se concentrar. Então, na minha casa, nossa família decidiu ter um dia “livre de telas”, por semana. Nada de smartphones, laptops, iPads”. E ela continuou: “O Sr. vai adorar o nome que demos para esse dia… Shabat!”. Esse é o poder do Shabat, em nossos dias. No tempo de Moshé, era um dia livre da escravidão do Faraó. Hoje, é a liberdade da tirania da mídia social e do e-mail.

Em quarto lugar: felicidade é uma questão de gratidão com atitude. Se você é judeu, viva como judeu. Quais são as primeiras palavras que dizemos pela manhã? Modê Ani. Você agradece antes mesmo de pensar. Vivendo dessa forma você terá uma vida inteira de satisfação.

Quinto: o judaísmo manterá sua mente ativa durante a vida toda, porque ser judeu tem que ser um momento de aprendizado contínuo e vitalício. Vou lhes contar algo: Há muitos anos, fui levado, às pressas, … [Desculpa. Desculpa. Obrigado… A Siri acabou de fazer uma objeção ao que eu disse… Em Tosafot2 aparentemente a explicação é de outra forma. Obrigado, Siri, eu não sabia que você também era judia. Continuando, há 20 anos fui levado às pressas para o hospital, com um problema grave que eu desconhecia…. Imaginem, fui levado direto do consultório do médico para o hospital; fui submetido a uma cirurgia e salvaram minha vida. Quando eu voltava da anestesia, quase desperto, alguém bate à porta do quarto. Era um judeu de 80 anos, com um volume da Guemará debaixo do braço, que me diz: “Ah, ouvi dizer que o Sr. estava aqui, Rabino Sacks. Pensei que talvez pudéssemos estudar Guemará juntos”. Bem, eu estava tentando morrer e ele querendo estudar Guemará…. Olhem, isso faz você estudar e crescer durante a vida toda.

Sexto: qualquer coisa que você fizer na vida, exigirá que você tenha um código interior de moral. Nos últimos anos, nas últimas semanas, temos visto como alguns dos empresários mais importantes, alguns dos maiores produtores de Hollywood conseguem – Rachmanu Yitzlan, que D’us não o permita – acabar vergonhosamente com sua carreira. E por quê? Porque achavam que poderiam sair impunes. Nunca se pode. Precisamos daquela voz interior que nos diz “não!”. E é isso o que o judaísmo lhe ensina.

Sétimo: Para ser feliz, ter sucesso, ter resiliência é preciso um sentimento de identidade; é preciso saber quem se é, e de que história se faz parte. Não somos um átomo livre e independente, solto no espaço e carregado ao sabor do vento. Ser judeu é ser parte da maior história da terra.

Esses sete pontos não farão uma pequena diferença em sua vida; eles farão toda a diferença em sua vida. Todos eles são parte daquele algoritmo notável que fez dos judeus o povo mais resiliente, criativo e transformador que o mundo já conheceu. E sim, podemos não ter nascido grandes, podemos não ter alcançado a grandeza, mas se somos judeus temos a grandeza imposta sobre nós. E, sim, é difícil ser judeu; requer esforço e dedicação e vontade; mas são as coisas difíceis que nos fazem fortes, são as coisas difíceis que não dão orgulho; são elas que nos fazem sentir-nos mais intensamente vivos.

Amigos, quero terminar com uma história; uma curiosa historinha. Algum de vocês já ouviu falar de um escritor chamado Dan Brown? O Sr. Código da Vinci? Ele acaba de escrever um best-seller chamado Origin. Alguém já o leu? É o best-seller da moda. Não farei aqui o que o IMDb3 chama de spoiler4, mas vou lhes dizer o seguinte. Trata-se de uma descoberta revolucionária sobre a origem da vida, e o autor menciona o nome de uma figura da vida real, um jovem e brilhante físico do MIT chamado Jeremy England, que descobriu uma maneira de explicar como foi que a vida se iniciou. Dan Brown também cita outro físico – vocês verão isto se procurarem por Jeremy England na Wikipedia – outro grande cientista de nossa era, que diz: “Se England estiver certo, ele poderá ser o próximo Charles Darwin”.

Bem, Dan Brown quer provar, a partir dessa teoria, que não é necessário acreditar em D’us para explicar a origem da vida. Vou dizer-lhes o que é fascinante nisso. O verdadeiro Jeremy England, pois ele existe, respondeu o seguinte a Dan Brown em um artigo no The Wall Street Journal, há poucas semanas: “Dan Brown, não me use para refutar D’us porque eu creio em D’us”. Jeremy England cresceu como judeu secular, não praticante. Aos 20 anos de idade, ele tomou uma decisão: “Vou me tornar um judeu religioso”. Hoje ele vive e pratica o judaísmo com a crença de um judeu ortodoxo. E eu tenho que lhes dizer que para mim isso é um momento de pura poesia. Por quê? Porque um dos maiores eventos no mundo moderno foi a descoberta da seleção natural por Charles Darwin e seu consequente abandono, da religião. Hoje, o “próximo Charles Darwin” fez uma descoberta, possivelmente tão grande quanto a da seleção natural, e encontrou a religião, e encontrou sua fé como judeu crente e praticante. Acredito que isto seja um ato de Kidush Hashem, de Santificação do Nome de D’us.

E lhes contei esta história para mostrar que uma decisão como essa pode mudar sua vida e ajudar, de alguma maneira, a mudar o mundo. O físico Jeremy England tomou essa decisão quando tinha a idade de vocês. Eu tomei essa decisão quando tinha a idade de vocês; e agora vocês precisam tomar essa decisão. Transformem-se e vocês começarão a transformar o mundo. Eu lhes prometo que daqui a alguns anos, olharão para trás e dirão que essa foi a melhor decisão de sua vida.

Aproveitemos, juntos, este momento único de independência e soberania de Medinat Israel, de liberdade e igualdade na Diáspora, e vivamos, realmente orgulhosos, como judeus, fieis à nossa fé, como uma bênção aos demais, independentemente de sua religião. E, juntos, vamos transformar o mundo! [1]

Fontes: [1] Chabad: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/2229172/jewish/O-que-ser-judeu.htm [2] Morasha, Edição 99 – Abril de 2018: http://www.morasha.com.br/sabedoria-judaica/a-grandeza-de-ser-judeu.html
Coordenador: Saul Stuart Gefter 22 de Kislev de 5780 – 20 de dezembro de 2019

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