SÁBIOS E PROFETAS – JONAS (5780) – Estudo para 03 de Cheshvan de 5780 – 01 de novembro de 2019

I. Introdução – Jonas (do hebraico יוֹנָה [Yonah] …) foi, segundo a Bíblia, um profeta israelita da Tribo de Zebulom, filho de Amitai, natural de Gete-Héfer. Profetizou durante o reinado de Jeroboão II, Rei de Israel Setentrional (nascimento, Século IX a.E.C.; morte, 742 a.E.C., Samaria. (II Reis 14:25; Jonas 1:1) Crê-se que tenha sido o escritor do livro bíblico … que leva o seu nome. [1]

II. Os dorminhocos: Meditações Dentro de um Peixe – Por Rav Yosef Y. Jacobson …
Sem cérebro – Um calouro na faculdade começava seu primeiro dia de aulas. Seu professor judeu era obviamente um ateu, e começou o dia dizendo o seguinte: “Alunos, existe alguém aqui que possa ver D’us? Nesse caso, levante a mão. Se houver alguém aqui que possa ouvir D’us, favor levantar a mão. Se alguém de vocês pode cheirar D’us, levante a mão.” Após uma breve pausa, sem resposta dos estudantes, o professor concluiu: “Como ninguém pode ver, ouvir ou cheirar D’us, isso prova conclusivamente que não existe D’us.” Um aluno então levanta a mão e pede para dirigir-se à classe. Ele perguntou aos colegas: “Alunos, alguém aqui pode ver o cérebro do professor? Pode ouvir o cérebro do professor? Alguém pode cheirar o cérebro do professor?” Após uma curta pausa, ele concluiu: “Como ninguém pode ver, ouvir ou cheirar o cérebro do professor, isso prova conclusivamente que ele não tem cérebro.”

Um profeta foge – O livro bíblico de Jonah, lido durante o serviço vespertino de Yom Kipur, relata uma das histórias mais comoventes e fantásticas da Torá. É a história de um profeta, Jonah, ou Yonah, que viveu no ano 700 AEC, e estava determinado a fugir de D’us. D’us mandou-o viajar de Jerusalém até a capital assíria, Nínive para influenciar a grande população a se arrepender dos seus atos imorais e corruptos. Em vez disso, Yonah foi ao antigo porto da cidade de Jaffa e embarcou num navio que partia para a Tunísia, na África, onde ele pensou que encontraria uma trégua de D’us. “Então D’us enviou um forte vento ao mar,” relata a Torá, “e houve uma enorme tempestade no oceano, tão forte que o navio parecia estar a ponto de um naufrágio.

Os marinheiros ficaram assustados, gritaram, cada homem ao seu deus; atiraram ao mar tudo que havia de pesado no navio, para que ficasse mais leve. Porém Yonah desceu ao porão e ali se deitou até adormecer profundamente. “O comandante do navio aproximou-se dele e disse: ‘Como pode dormir assim? Levante-se! Clame ao seu D’us! Talvez Ele nos ajude a não perecer!’ “Eles disseram uns aos outros: “Vamos tirar a sorte, para determinar quem é o responsável por essa calamidade que se abateu sobre nós.” Jogaram os dados, e a culpa recaiu sobre Yonah. Disseram a ele: “Diga-nos… qual é a sua ocupação? De onde vem? Qual é a sua terra? E faz parte de qual povo?”

Virando anfíbio – Yonah aceitou a culpa pela tempestade que ameaçava a vida deles, pois tinha tentado fugir de D’us. Yonah sugeriu a eles que o atirassem ao mar, “e o mar se acalmará, pois eu sei que é por minha causa que essa grande tempestade se abateu sobre vocês.” “Então eles ergueram Yonah e o atiraram ao mar, e o mar cessou sua fúria.” Enquanto estava nas águas, um grande peixe engoliu Yonah, e permaneceu ali dentro por três dias.

Das entranhas do peixe, Yonah fala com D’us. Essas são suas palavras: “Clamei a D’us no meu desespero, e Ele me ouviu; das entranhas do inferno eu clamei – Tu ouviste minha voz. Tu me atiraste ao mar, nas profundezas do mar, e as águas me envolveram; todos os Teus vagalhões e ondas passaram sobre mim. “Então eu disse: ‘Fui tirado da frente de teus olhos; porém eu olharei novamente para teu Templo Sagrado. As águas me envolveram, quase até a morte; as profundezas me cercaram, os juncos se fecharam sobre a minha cabeça. “Desci até o pé das montanhas, a terra com suas barras se fecharam para sempre sobre mim; porém Tu me trouxeste do abismo para a vida, ó Senhor meu D’us. “Quando minha alma fraquejou dentro de mim, lembrei-me de D’us; e minha prece foi a Ti, ao Teu Templo Sagrado…”

Yonah retorna – “Então D’us ordenou ao peixe,” continua a Torá a relatar, e “ele cuspiu Yonah de volta à terra firme.” Finalmente, Yonah aceita sua Divina missão, viajando para a capital assíria e provocando uma transformação moral no coração de seu povo. Uma civilização perversa comprometeu-se a redefinir sua vida e seus relacionamentos. Porém quando Yonah descobre que D’us tinha de fato aceitado o arrependimento da população e não destruiria a cidade, ele fica triste. Ele não acredita que a cidade devesse ser exonerada de tantos anos de comportamento imoral e perverso e pede a D’us que o mate, “pois melhor é minha morte que minha vida.” Como um bom educador, D’us continua a mostrar a Yonah, numa maneira bastante criativa, o seu erro.

Quando Yonah está descansando numa tenda nos arredores de Nínive, uma planta frondosa cresce para proporcionar sombra sobre sua cabeça, dando-lhe muito conforto e serenidade. Quando a manhã seguinte traz uma onda de calor e um verme come a planta e esta seca, Yonah expressa sua angústia pela perda. A isso D’us responde: “Você teve pena da planta pela qual não trabalhou, nem a fez crescer’ ela viveu uma noite e pereceu após uma noite. E Eu – não deverei ter pena de Nínive, a grande cidade, na qual há mais de cento e vinte mil pessoas… e também muitos animais?” Isso conclui os quatro curtos mas incrivelmente ricos capítulos do Livro de Yonah.

Por que lemos essa história em Yom Kipur? E qual é a relevância desse episódio em nossa vida?
Duas camadas de Torá – Um dos elementos mais fascinantes sobre a Torá é que todas as suas histórias contêm, além da sua interpretação concreta literal, uma interpretação espiritual e psicológica. Cada detalhe de cada história registrada na Torá contém uma interpretação metafórica e alegórica, simbolizando um evento que transpira continuamente dentro do coração humano. Os sábios e rabinos têm, no decorrer de 3.000 anos, decodificado o significado metafísico da maioria das histórias da Torá.

O mesmo é verdadeiro, é claro, sobre a história de Yonah e o peixe. Além do sentido simples e literal desse episódio comovente, ocorrendo numa época e numa localização específicas, este relato deve ser visto também como uma metáfora para uma história mental e espiritual transpirando em outubro de 2003. Na verdade, o Zohar declara que a história de Yonah é realmente uma história sobre “todo o tempo de vida dos seres humanos neste mundo.” É essa história interior de Yonah que desejo explorar na continuação desse ensaio.

Jornada de uma alma – O nome Yonah em hebraico significa uma pomba, representando a alma interior do homem, aquele fragmento da verdade, aquele pedacinho de D’us que constitui o âmago da identidade humana. A pomba é um dos únicos animais que quando encontra seu parceiro, permanece fiel para sempre, jamais o trocando por outro. Similarmente, a alma incorpora aquela parte do animal humano que pode correr e se esconder, mas em última análise nunca substitui a verdade de D’us pelos prazeres do mundo material.

Nínive, cidade grande, poderosa e corrupta, é uma metáfora para o planeta que habitamos, repleto de políticos fúteis, vaidade e corrupção. Yonah, a alma humana, é despachada por D’us numa missão para revolucionar a paisagem terrena; para introduzir a luz da Divindade e da santidade em todo aspecto da vida terrestre. O homem é um mensageiro que leva uma mensagem; o homem é uma testemunha da presença do D’us vivo.

Negando sua realidade – Porém com frequência, escolhemos fugir da missão de nossa vida, rejeitando nossa identidade como testemunhas. Embarcamos num navio, representado pelo corpo que contém a alma humana, assim como um navio contém seus passageiros, e tentamos escapar, física e emocionalmente, para um lugar onde possamos mais facilmente abraçar a ilusão de que estamos destituídos da missão e da mensagem, que nada mais somos que criaturas buscando saciedade e auto-satisfação. Velejamos cegamente pelas águas da vida, ignorando a voz interior de D’us, o tempo todo tentando nos convencer de que somos felizes.

Turbulência – Tudo parece bem e correto, até que a turbulência começa a abalar nossa vida e nosso piloto. A turbulência do mar na história de Yonah é uma metáfora para as tumultuadas circunstâncias que a vida apresenta, ameaçando a própria sobrevivência de nosso “navio” – nosso corpo e nossa existência. A essa altura, muitas pessoas acordam da sua ilusão. Porém existem aqueles que, exatamente em momentos assim, se tornam ainda mais afastados da sua autêntica realidade. “Os marinheiros se assustaram, e gritaram, cada homem ao seu deus… Porém Yonah desceu ao porão do navio; ele deitou-se e dormiu.” Yonah, segundo essa interpretação, representa o ser humano que pode ver o mundo virar de cabeça para baixo, mas continua a dormir, fazendo crer que tudo está normal, que sua vida é uma história de sucesso. E quanto maior a confusão, quanto mais profundo o caos, mais essa pessoa afunda no seu sono, alheia à desintegração da sua realidade.

Cócegas – A essa altura, o homem geralmente sente um cutucão vindo da sua consciência divina. “O comandante aproximou-se dele, dizendo: ‘Como pode dormir tão profundamente? Acorde! Clame ao teu D’us!’ Os outros marinheiros também falam com Yonah, dizendo: ‘Diga-nos… qual é o seu ofício? De onde vem? Qual é a sua terra? E a qual povo pertence?”

O comandante, capitão do corpo, representa o yetser tov, a pequena centelha de D’us que reside na alma humana. Essa centelha clama para a alma, perguntando: “Como pode dormir tão profundamente?” Durante quanto tempo pode negar que seu universo enlouqueceu? Durante quanto tempo ainda vai fazer acreditar que não fez isso? “Lembre-se de onde sua alma veio,” responde a voz interior a um Yonah que anseia por voltar ao seu sono. “Lembre-se de sua verdadeira ocupação e a que povo pertence,” diz a voz a ele. Pare de negar quem você é; não fuja ao seu destino enquanto uma testemunha da voz no Sinai encarrega você da missão de pavimentar uma estrada através da selva da história. Não fuja ao seu chamado para cavar e revelar a arte Divina em todo aspecto da vida.

Resignação e Rendição – Uma sinceridade estranha e melancólica domina Yonah. Seu instinto moral encontra uma perversa expressão em sua sugestão aos marinheiros para jogá-lo ao mar para se livrarem do fardo imposto pela existência dele. Isso representa a profunda ansiedade existencial que domina muitas almas ao descobrirem que jamais podem realmente se convencerem de que D’us não existe. Apanhada num estado de limbo, temerosa de abraçar D’us por completo e incapaz de fugir de D’us, a alma se resigna à morte. “Simplesmente livrem-se de mim,” clama Yonah às suas vozes interiores. “Enterrem minha alma.”

Neste momento devastador, o ser humano se rende ao último vestígio de dignidade espiritual, permitindo que sua alma seja levada pelas águas furiosas da luxúria e do vício. E ainda pior, ele permite que sua identidade humana seja engolida e convertida numa criatura anfíbia. Deixando de ver-se como diferente de um animal, ele está “livre” por fim para ignorar realmente a presença de D’us. O Talmud ensina que na linguagem bíblica o peixe serve como uma metáfora para a sexualidade desinibida, pois o peixe se multiplica excessivamente. Yonah sendo engolido por um peixe deve portanto ser entendido como uma metáfora para uma alma sendo engolida pelo vício e pela promiscuidade sexual.

O termo hebraico usado para peixe na história, ‘dagá’, também pode ser traduzido como ansiedade. Isso representa uma reação emocional alternativa para o turbilhão da vida. A pessoa se atira em buscas materialistas, de tal maneira que a extraordinária ansiedade e estresse envolvidos na subida da escada financeira eclipsa a ansiedade mais profunda de sua alma. Ele se permite ser engolido completamente em sua carreira, até esquecer que é um ser humano.

Renascimento – E mesmo assim, paradoxalmente, nesse mesmo momento a alma, pela primeira vez, encontra D’us. “Das entranhas do inferno eu clamei,” declara Yonah. Até a alma atingir as entranhas do inferno, estava ocupada fugindo de D’us e de si mesma. Somente quando o homem atinge seu nadir ele pode subitamente descobrir a presença de um D’us vivo e amoroso. Por quê? Porque uma alma, pela própria natureza, jamais pode permanecer em um só lugar. Deve estar sempre num estado de movimento. A única questão é em qual direção se mover: está correndo para D’us ou fugindo d’Ele? Portanto, uma vez que a alma chega ao fundo e não pode mais descer, deve começar a subir.

O Novo desafio – A redescoberta da verdade pelo homem – que ele está aqui numa missão – faz o peixe cuspir a alma. O homem abandona seus vícios e sua promiscuidade.

Embarca agora numa jornada para fazer uma diferença na vida das pessoas, para levar santidade e Divindade à própria vida bem como à vida da sociedade mundana e egocêntrica. Pois este é um padrão previsível: depois que a alma descobre a presença viva de D’us, anseia por tornar-se acética, para escapar dos confinamentos de um universo inferior e fundir-se em Sua infinita luz. A essa altura, D’us revela a Yonah, à alma, que ao infundir o profano com o sagrado, o plano supremo de D’us é cumprido. Somente na imundície do planeta Terra a glória da parceria humana’ Divina pode brilhar. A alma, apesar de sua resistência natural, deve aprender a imitar D’us e a abraçar o mundo, não fugir dele.

Dois tipos de dorminhocos – Então por que lemos essa história em Yom Kipur? Há dois tipos de dorminhocos humanos. Existem aqueles que se estão num sono mais leve, e com um rasgo de inspiração ou turbulência acordarão; e aqueles que estão tão submersos no sono que nem mesmo a explosão mais forte os perturbará. A primeira categoria de pessoas acorda através do som do shofar de Rosh Hashaná. Os sons primitivos e pungentes do chifre de carneiro, brotando das profundezas simples e primitivas do âmago humano, inspira a alma a retornar a quem ela realmente é. Porém existem pessoas que dormem apesar de tudo, até mesmo do som poderoso do shofar.

O navio está a ponto de rachar, mas elas estão adormecidas. O Titanic está para afundar e elas estão estiradas nas poltronas do convés da primeira classe fumando charutos, alheias e imunes à realidade. Num tremendo anti-semitismo, um presidente de um país soberano nega o Holocausto, os inimigos planejam todo dia destruir um país e seu povo, há uma profunda confusão emocional e moral em meio à sociedade, profunda depressão e alienação entre tantos jovens – mas eles estão adormecidos.

Um mundo nas garras do medo e da confusão, porém eles estão ocupados jogando o jogo da vaidade. Continuamos fazendo acreditar que a vida está, mais ou menos, normal.

Um perfil do faraó – Um dos mestres chassídicos descreveu certa vez a inferioridade do imperador egípcio, o faraó. A Torá descreve a noite em que ele teve um sonho misterioso e acordou. “Então,” continua a Bíblia, “ele adormeceu, e teve um segundo sonho.” Ocorre que estes dois sonhos continham os segredos da sobrevivência de todo o Crescente Fértil. “Nu, posso entender o fato de ir dormir,” declarou o Rebe de Kutzk. “Mas quando você tem um sonho poderoso repleto de segredos sobre o futuro destino do mundo, como pode voltar a dormir? Para isso é preciso ser um faraó!”

Este é o perfil de uma pessoa que pode ouvir 100 toques do shofar, mas simplesmente desliga o despertador e se vira para o outro lado na cama. O dia que não tolera enganos – Então chega Yom Kipur. Este é o único dia do ano que não tolera fachadas. Nesse dia mais sagrado do calendário, todos os véus são erguidos! A verdade pura do D’us vivo irrompe pelas paredes, atingindo até aqueles que se esconderam sob uma montanha de cobertores. Em Yom Kipur, até mesmo aqueles que mergulharam no mais profundo dos sonos podem ouvir a voz do comandante: “Como pode dormir tão pesadamente? Levante! Fale com seu D’us!”. [2]

III. As Aventuras de Jonas, Por Sultana Levy Rosenblatt, Mc Lean, Virgínia, EUA
Era uma vez um homem chamado Jonas. Era simples, bom, e sua melhor distração era passar horas no campo admirando as maravilhas da natureza. Gostava sobretudo de olhar para o céu azul e ver nas brancas nuvens diferentes figuras. Tudo lhe parecia belo, O arvoredo colorido conforme as estações. As aves pequeninas voando tão alto, apesar das delicadas asas. E encantadoras quando, pousadas nos ramos, gorjeavam. Jonas as ouvia de olhos fechados, embevecido. E pensava – “Como é possível? Em geral todos os animais têm vozes desagradáveis – as feras urram, uivam, os cavalos relincham, os cães latem, os gatos miam, os galos cucuricam, só os passarinhos cantam sons maviosos. São lindos, com plumagem em cada “tribo” de cor diferente e diferente cantar. Por que teriam os pássaros, entre todos os animais, esse privilégio nas obras do Criador?”

Estava um dia Jonas meditando, quando ouviu seu nome claramente – “Jonas! Jonas!” Olhou em volta, ninguém. Ergueu os olhos para o céu e lhe pareceu ver, no formato de uma grande nuvem, a figura de um anjo. Então, vinda de lá do alto, a Voz repetiu, “Jonas! Jonas!” O pobre homem tremia, assustado. Quis correr mas não conseguiu mover os pés. Ajoelhou-se e, de cabeça baixa, humilde, escutou: “Jonas, levanta-te; vai à grande cidade de Nínive e anuncia que ela será destruída porque o povo vive em pecado”. Quando a Voz silenciou, Jonas levantou-se e saiu de carreira para sua casa. E aí, já calmo, refletiu sobre a misteriosa ordem recebida…

O quê? Ir a Nínive anunciar sua destruição? Nínive era uma grande cidade, muito populosa. Se ele chegasse lá apregoando seu fim e nada acontecesse, iriam chamá-lo de embusteiro e o matariam a pedradas. Não, nessa ele não cairia. O que poderia fazer? Fugir. Decidiu então ir para outra cidade. Encontrou um barco que já estava saindo, comprou a passagem e se foi.

Era um dia lindo, os marinheiros remavam cantando, o mar sereno, vento bastante para enfunar as velas e apressar a marcha da embarcação. Súbito, inesperadamente, as ondas começaram a elevar-se e a chocar-se umas contra as outras, numa guerra em que se debatiam peito a peito, jogando sobre o barco jorros de água espumante. Os marinheiros forcejavam para voltar à terra, mas os remos não obedeciam. Mais e mais o mar se enfurecia, ameaçando o naufrágio da embarcação. Para a fazer mais leve, a tripulação atirava fora toda a carga. Enquanto lá em cima travava-se uma luta tremenda entre os homens e o mar, lá em baixo, no porão, Jonas dormia profundamente.

Quando o comandante desceu para tomar alguma providência, viu aquele homem deitado, ressonando; acordou-o com sacolejos – “O que é isso, levante-se, vá implorar ao seu D’us que cesse esta tempestade!” Jonas subiu sonolento, envergonhado, e encontrou a marujada em pânico, decidindo tirar uma sorte que revelasse quem seria o responsável pela borrasca. A sorte caiu sobre Jonas. Então lhe perguntaram quem era ele, de onde vinha, em que se ocupava e o que fizera para atrair a ira Divina. E ele respondeu: “Sou hebreu e temo o Senhor, o D’us dos Céus que fez o mar e a terra seca”. E lhes contou por que fugira. – “E o que faremos para que as águas serenem?” – “Levantem-me e me atirem ao mar”. Os marujos relutaram em tomar essa atitude. Por fim, pedindo a D’us que os perdoasse se estavam sacrificando um inocente, o levantaram, o lançaram longe, e ele, de olhos fechados, foi varando pela goela de uma baleia que, de boca aberta, já estava esperando para o engolir.

Quando abriu os olhos, Jonas se viu numa espécie de salão, um lugar espaçoso e claro onde ele podia mover-se livremente. O ventre da baleia tornara-se oco, não tinha órgãos nem tripas, e como ela mantinha-se sempre flutuando, a claridade entrava-lhe pela boca. E assim Jonas ficava sabendo quando era noite ou quando era dia. Por milagre não sentia fome nem sede nem sono. Passava todo o tempo repetindo orações. No terceiro dia, a baleia o expeliu numa praia. Por fim, estava livre.

Parecia-lhe um sonho. Voltou à sua vida de antes, com o hábito de ir ao campo contemplar a natureza. E lá um fim de tarde, de novo a Voz veio ordenar-lhe: “Jonas, vai a Nínive, anuncia sua destruição”. Dessa vez Jonas obedeceu. E foi. Andou pelas ruas, profetizando: “Povo de Nínive, dentro de quarenta dias esta cidade desaparecerá”. O povo acreditou e até o rei, a ponto de decretar que toda a população (inclusive os animais) jejuasse, se cobrisse de cinzas e suplicasse o perdão Divino. E o Senhor ouviu, perdoou e salvou a cidade.

Jonas tinha se retirado para um deserto e construído uma tenda onde se abrigava e esperava ver o trágico fim de Nínive. Ao passar dos quarenta dias e como nada acontecesse, prostrou-se desesperado no chão, clamando: “Eu sabia que o Senhor iria perdoar e anular o castigo. E agora? Vão me matar a pedradas… Resolveu permanecer na tenda, apesar do calor inclemente. Então viu, maravilhado, de repente, crescer uma árvore de cuia1 , a cuja sombra se recolheu. No entanto, no dia seguinte, a árvore secou completamente, e Jonas voltou a se lamentar. “Acaso choras pela árvore que morreu?”, ouviu perguntar-lhe a Voz. “Sim, eu também desejo morrer”, respondeu Jonas em soluços. “Tiveste compaixão da árvore que não plantaste, que numa noite nasceu e numa noite pereceu. E não terei Eu compaixão da grande cidade de Nínive em que vivem mais de vinte mil pessoas e muitos animais?” Jonas prostrou-se e pediu perdão pela sua revolta. Assim Jonas voltou para sua casa humilde e silencioso. No seu coração, suplicava: “Peço-te, Senhor, que da próxima vez escolhas outro, porque eu não dou para profeta”. Não contou a ninguém. Mas deixou, para a posteridade, escritas as suas aventuras. [3]

Fontes: [1] Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jonas
[2] Morasha Edição 34 – Setembro de 2001: http://www.morasha.com.br/cronicas-e-contos/as-aventuras-de-jonas.html
[3] Chabad: http://www.chabad.org.br/datas/yomkipur/yom034.html
Coordenador: Saul Stuart Gefter 03 de Cheshvan de 5780 – 01 de Novembro de 2019

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