OS TRES PILARES QUE SUSTENTAR O MUNDO (5780) – Estudo para 05 de junho de 2020 – 13 de Sivan de 5780

I. Os Dez Dias de Teshuvá e os Três Pilares do Mundo – Shimon, o Justo, um dos últimos participantes da Grande Assembleia, afirmava: “Sobre três coisas se sustenta o mundo: o estudo da Torá, o serviço Divino e os atos de bondade”. (Pirkei Avot).

Na obra Pirkei Avot, A Ética dos Pais, livro sagrado de sabedoria e ética judaica, consta que o mundo é sustentado por três pilares: a Torá; a Avodá, o serviço no Templo Sagrado; e Guemilut Chassadim, os atos de bondade. Cada um desses pilares foi personificado por um dos Patriarcas do Povo Judeu – Avraham, Itzhak e Yaakov – e é por esse motivo que eles são chamados de “os pais do mundo”. Avraham, que amava D’us e os homens, representa Guemilut Chassadim; Itzhak, que se dispôs a ser sacrificado no Monte Moriá, onde foi construído o Templo Sagrado, personifica a Avodá; e Yaakov, o homem que “habitava nas tendas”, dedicando seus dias ao estudo da Sabedoria Divina, simboliza a Torá. O conceito dos três pilares que sustentam o mundo e a invocação do mérito dos três Patriarcas, que os personificam, é ecoado durante os Yamim HaNoraim, “os Dias Temíveis”, que se iniciam em Rosh Hashanáe terminam ao final de Yom Kipur. Nossos Sábios ensinam que há três formas do homem reverter um decreto Celestial não favorável: a Tefilá, a Teshuvá e a Tzedacá.

A Tefilá, palavra hebraica que é comumente traduzida como “oração”, corresponde à Avodá – o serviço no Templo Sagrado. O Talmud define aTefilá como o “serviço do coração”. Na ausência do Templo de Jerusalém – quando estamos impossibilitados de desempenhar o serviço diário dos sacrifícios, que lá eram oferecidos – empregamos palavras para servirem como substitutos para as oferendas. O motivo pelo qual a Tefilá é um substituto provisório, mesmo que imperfeito para o serviço no Templo Sagrado, a Avodá, é que os sacrifícios serviam para aproximar o homem de D’us. O próprio termo Corban, “sacrifício”, advém da palavra Karov, “próximo”, revelando que o verdadeiro propósito dos sacrifícios era ligar o homem a seu Criador.

A Teshuvá está claramente associada à Torá, pois, em hebraico, Teshuvá literalmente significa “retorno”, isto é, a volta a D’us. A Torá é a interface entre um judeu e D’us; na ausência dela, a Teshuvá não é possível.

A palavra Tzedacá, quando usada em seu sentido mais amplo, significa a prática de atos de bondade, Guemilut Chassadim. Acredita-se, erroneamente, que a Tzedacá é feita apenas com dinheiro. Na realidade, toda vez que um ser humano faz um ato de generosidade ou bondade com outro, seja no âmbito material ou espiritual, está fazendo Tzedacá.

O motivo básico pelo qual a Torá, a Avodá e Guemilut Chassadim são os três pilares do mundo, é que são três mandamentos Divinos que compreendem todos os outros. Mas há uma explicação mais profunda: a razão pela qual esses três pilares mantêm a existência do Universo é que fazem paralelo aos três tipos de relacionamentos humanos: entre o homem e D’us, entre o homem e os outros seres humanos e entre o homem e ele próprio.

A Tefilá, que desempenha função similar a do serviço no Templo Sagrado, é muito mais do que a enunciação de palavras sagradas: é uma ligação com o Infinito. O propósito da reza não é meramente fazer pedidos a D’us, e sim, é uma forma de se conectar a Ele. Por meio da Tefilá, o homem, assim como a fumaça dos sacrifícios, ascende aos Céus e se liga à Fonte de tudo, à Vida de toda a existência. Ao se conectar a D’us por meio da Tefilá, o ser humano se torna um canal para transmitir a plenitude Divina para a Terra. É por esse motivo que o mandamento da Tefilá vale para todos os dias do ano, independentemente das necessidades ou desejos de quem a faz.

A palavra Teshuvá é frequentemente mal traduzida e mal compreendida. Não significa arrependimento ou remorso, e sim, o retorno do homem à sua essência. A Teshuvá está necessariamente interligada com a Torá, pois essa obra de Sabedoria Divina é o manual que permite ao homem maximizar o potencial de sua alma. A Torá foi dada para o nosso bem: proíbe tudo que faz mal à nossa alma e pede para que pratiquemos atos que fortalecem nossa essência e nossa ligação com D’us. Quando o ser humano comete algum pecado ou transgressão, ele está ferindo sua própria alma. O pecado não prejudica o Infinito, que é intocável, e sim a essência daquele que o cometeu. Por meio da Teshuvá é dada ao ser humano a oportunidade de retificar qualquer mal que tenha feito a si próprio.

O conceito de Tzedacá, o mais importante mandamento da Torá, também é mal compreendido. Na realidade, não significa caridade – significa justiça. A própria etimologia da palavra ensina que não há nada mais justo do que alguém contribuir para o bem estar de outros. Nossos Sábios ensinam que aquele que pratica a Tzedacá se torna um canal da benevolência Divina no mundo: de certa forma, um parceiro de D’us em sustentar Seu mundo e Suas criaturas.

Durante os dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, D’us julga todos os seres humanos e o mundo como um todo. Os livros místicos ensinam que em Rosh Hashaná, o Rei do Universo toma uma decisão crucial: se o mundo, e todos que habitam nele, têm mérito para existir por mais um ano. Ao fortalecermos os três pilares que sustentam o universo – a Torá (Teshuvá), a Avodá (Tefilá) eGuemilut Chassadim (Tzedacá), torna-se mais fácil “convencer” o Criador de que este mundo no qual habitamos deve ser mantido.

Todo judeu, como filho dos Patriarcas que somos, deve ser uma personificação dos atributos simbolizados por Avraham, Itzhak e Yaakov: a Torá, a Avodá e Guemilut Chassadim. Ao fortalecer nossa relação com D’us por meio da Tefilá, ao retornamos à nossa essência por meio da Teshuvá, e ao promover atos de bondade e generosidade por meio da Tzedacá, compelimos D’us a não apenas renovar a Criação, mas a decretar e selar, para todo o Povo Judeu e para toda a humanidade, um ano bom e doce, com bênçãos abundantes, materiais e espirituais. [1]

II. Os Oito Níveis de Caridade, Definidos por Maimônides, o Rambam – Há oito níveis de caridade, cada qual mais elevado que o seguinte.

O nível mais alto, acima do qual não existe outro, é apoiar um irmão judeu com um presente ou empréstimo, ou fazer uma sociedade com ele, encontrar emprego para ele, a fim de fortalecer sua mão até que não precise mais ser dependente de outros…

Um nível abaixo em caridade é dar aos pobres sem saber para quem está doando, e sem que o receptor saiba de quem recebeu. Isso é cumprir uma mitsvá apenas em prol do céu. É como o “fundo anônimo” que havia no Templo Sagrado [em Jerusalém]. Ali os justos doavam em segredo, e os pobres bons lucravam em segredo. Doar a um fundo de caridade é semelhante a este modo, embora não se deva contribuir para um fundo de caridade a menos que se saiba que a pessoa designada para cuidar do fundo é confiável e sábia, além de bom administrador, como Rabi Chananyah ben Teradyon.

Um nível abaixo desse é quando alguém sabe para quem está doando, mas o receptor não conhece seu benfeitor. Os Sábios mais notáveis costumavam caminhar em segredo e colocar moedas nas portas dos pobres. É realmente valioso e bom fazer isto, se aqueles que deveriam ser os responsáveis por distribuir caridade não são merecedores de confiança.

Um nível abaixo que esse é quando a pessoa não sabe para quem está doando, mas o pobre conhece seu benfeitor. Os Sábios costumavam atar moedas em suas túnicas e atirá-las por trás das costas, e os pobres iam apanhá-las nas costas das túnicas, para que não ficassem envergonhados.

Um nível abaixo é quando alguém dá diretamente ao pobre, na sua mão, mas dá antes que lhe seja pedido.
Um nível abaixo é quando alguém dá ao pobre após ter sido pedido.
Um nível abaixo é quando alguém dá de maneira inadequada, mas alegre e com um sorriso.
Um nível abaixo é quando alguém dá de má vontade. [2]

III. Comentário sobre o Tratado Avot com uma Introdução (Shemona perakim)

Descrição – Este manuscrito contém um dos comentários de Mamônides sobre Mishnah, o primeiro trabalho de importância do judaísmo rabínico. O comentário é sobre o Tratado Avot (Ética dos Patriarcas), no qual Mamônides elucida a moralidade e natureza da alma do homem, com uma introdução (Shemonah perakim) (Oito capítulos).

Também incluídos estão os treze princípios da crença ou artigos da fé, um credo do judaísmo formulado por Mamônides, uma versão da qual é ainda usada na maioria dos livros de preces dos judeus. Entre os princípios afirmados no credo, estão a unicidade de Deus, as origens divinas do Torá, a vida após a morte e a vinda do Messias. Moses ben Maimon, mais conhecido como Mamônides, foi um teólogo, filósofo e médico judeu. Ele nasceu em Cόrdoba, Espanha, em 1135. Em 1160, mudou-se com sua família para Fez, no Marrocos, para escapar da perseguição religiosa e, posteriormente, estabeleceu-se no Cairo, onde se tornou o médico pessoal do sultão e sua família. Ele também serviu como chefe da comunidade judaica do Cairo, onde morreu em 1204. Suas obras sobre teologia, direito, filosofia e medicina, a maioria escrita em árabe e traduzida para o hebraico, latim e outros idiomas, influenciaram amplamente tanto o mundo judeu como o não-judeu. [3]

IV. Tratado Avot – (Pirkei Avot, Ética dos Pais – é um tratado da Mishná que detalha a visão da Torá sobre ética e relações interpessoais. Ela é uma obra fundamental lida e estudada durante o verão em Israel, bem como no mundo inteiro, mesmo que as estações não coincidam.) [4]

Mishná 1. Moshê recebeu a Torá no Sinai e a entregou para Yehoshua. E Yehoshua [entregou] para os anciões e os anciões para os profetas.E os profetas a entregaram para os homens da Grande Assembléia. Eles disseram três palavras: sede ponderados no julgamento, levantai muitos díscipulos e façais uma cerca em torno da Torá .

Mishná 2. Shimon, o justo, foi um dos últimos sobreviventes da Grande Assembléia. Ele disse: sobre três palavras o universo é sustentado – sobre a Torá, sobre o serviço [sagrado] e sobre os atos piedosos.

Mishná 3. Antígonos, homem de Sôkô recebeu [a Torá] de Shimon, o justo. Ele costumava dizer: não sejais escravos que servem ao seu senhor para receber pagamento, mas sejais escravos que servem ao seu senhor sem esperar receber pagamento. E estará o temor dos céus sobre vós.

Mishná 4. Yosi, filho de Yoezer, homem de Tsreidá e Yosi, filho de Yokhanan, homem de Yirushalaim receberam [a Torá] deles. Yosi, filho de Yoezer, homem de Tsreidá disse: Seja vossa casa um local de reunião de sábios. E assentai-vos aos seus pés, bebendo sedentos as suas palavras.

Mishná 5.Yosi, filho de Yokhanan, homem de Yirushalaim disse: Esteja vossa casa amplamente aberta, sejam os pobres filhos de vossa casa e não fales demais com a [vossa] mulher. Se isto é dito sobre a própria mulher,quanto mais sobre a mulher do companheiro ! Consequentemente os sábios disseram: Todo o tempo que o homem fala com mulher, ele traz o mal sobre si e negligencia as palavras da Torá e no fim herdará o Vale de Hinnom.

Mishná 6. Yehoshua, filho de Perakhyah e Nitai, o arbelita receberam [a Torá] deles. Yehoshua, filho de Perakhyah disse: Constitui para ti um mestre, compre para ti um amigo e julgue a todo homem favoravelmente.

Mishná 7. Nitai, o arbelita disse: Afasta-te do vizinho mal e não te associes com o malvado. E não te desesperes de sua punição.

Mishná 8. Yehudah, filho de Tabbay e Shimon filho de Shetakh receberam [a Torá] deles. Yehudah , filho de Tabbay disse : Não atue como conselheiro entre juízes. Quando as partes de um juízo estão diante de ti considera-os culpados, e quando sairem de sua presença considera-os como inocentes se aceitaram o julgamento.

Mishná 9. Shimon, filho de Shetakh, disse: Examina cuidadosamente as testemunhas e acautela-te em tuas palavras para que não encontrem nelas motivo para mentir .

Mishná 10. Shemayah e Avtalion receberam [a Torá] deles .Shemayah disse: Amai ao trabalho, aborrecei ao rabinato e não tenhais pretensão de autoridade.

Mishná 11. Avtalion disse: Sábios, sejam cuidadosos em vossas palavras para que não arrisqueis ser deportados para um lugar onde as águas sejam impuras e aconteça que os díscipulos que vos seguirem bebam e morram, sendo o Nome dos céus seja profanado.

Mishná 12. Hillel e Shammai receberam [a Torá] deles. Hillel disse: Sejais como díscipulos de ‘Aharon que amavam a paz e buscavam a paz, amando as criaturas e as trazendo para a Torá.

Mishná 13. Ele também disse: Aquele que engrandece seu nome perde seu nome. Aquele que não aumenta seu conhecimento , diminui. Aquele que não aprende perde a sua vida. E aquele que faz uso indigno da coroa passará.

Mishná 14. Ele também disse: Se não eu por mim, quem por mim ? Se eu for só por mim, quem sou eu ? Se não for agora, quando ?

Mishná 15. Shammai disse: Faz do estudo da Torá um hábito constante, fale pouco, faça muito e receba a todo homem com vossas faces sorridentes.

Mishná 16.Raban Gamliel costumava dizer: Faça para ti um mestre e saia da dúvida. E não acrescente dízimos por estimação.

Mishná 17. Shimmon, seu filho dizia: Todos meus dias cresci entre os sábios e não achei nada melhor para o corpo do que o silêncio. O principal não é o estudo mas o fazer. E todo aquele que multiplica suas palavras traz o erro.

Mishná 18. Raban Shimmon ben Gamliel dizia: Sobre três palavras o universo existe: sobre o julgamento, sobre a verdade e sobre a paz. [5]

Fontes:
[1] Coisas Judaicas, 12 de setembro 2014: https://www.coisasjudaicas.com/2014/09/sobre-tres-coisas-se-sustenta-o-mundo.html
[2] Chabad: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1794972/jewish/Os-Oito-Nveis-de-Caridade.htm
[3] Biblioteca Digital Mundial: https://www.wdl.org/pt/item/3964/
[4] Chabad: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1090121/jewish/Pirkei-Avot,-%C3%89tica-dos-Pais.htm
[5] Wikisource: https://pt.wikisource.org/wiki/Tratado_Avot_(Mishn%C3%A1)
Coordenador: Saul Stuart Gefter 13 de Sivan de 5780 – 05 de Junho de 2020

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