O LUTO JUDAICO (5781) – Estudo para 15 de janeiro de 2021 – 02 de Shevat de 5781

I. Introdução – Shivá – Shivá ou Shiv’ah (do hebraico שבעה “sete” ) é, dentro do judaísmo, o período de sete dias de luto mantidos pela morte de uma pessoa próxima.

Sair de Casa Durante a Shivá – A tradição mais característica do luto judaico é o retiro do enlutado no recesso de seu lar após a morte de um parente próximo. Ele não se mistura socialmente, não participa de eventos alegres ou faz viagens recreativas durante essa época. Esta tradição de ficar em casa está baseada, geralmente, em dois motivos. Primeiro, uma razão prática: se ele está proibido de fazer negócios ou experimentar prazeres, a casa é o local mais lógico para ficar. Segundo, isso tem um valor positivo, que ajuda a curar: o luto é um profunda experiência em solidão.

Os vínculos que ligam uma alma a outra foram cortados, e há um grande senso de solidão. Permanecer incomunicável é expressar sofrimento pela ruptura da comunicação com alguém que amamos. Em determinadas ocasiões a pessoa tem o direito, até uma obrigação, de ficar sozinha. Esta é uma delas. O enlutado, portanto, fica em casa durante todo o período de shivá. Torna-se então o dever moral da comunidade judaica ir à porta do enlutado e confortá-lo com palavras elogiosas sobre o falecido, dessa forma tirando-o da solidão e encaixando-o novamente na estrutura social. [1]

II. O Kadish – O órfão faz uma prece chamada Kadish, que é um louvor a D’us. Qual a relação entre o louvor a D’us e o enlutado? O Kadish e o luto judaico estão na verdade interconectados. O primeiro é um louvor e uma exaltação ao nome de D’us para fortalecer o enlutado numa hora de luto. As palavras “Yitgadal Veyitkadash” significam literalmente o engrandecimento, a santificação e o enaltecimento de D’us. Apesar de, aparentemente, a prece não ter relação com o enlutado, oferece-lhe consolo. E isso justamente porque sabemos que cada vez que um parente fala o Kadish, eleva a alma do ente querido falecido.

Relação entre o Kadish e o luto judaico – Na realidade, há várias explicações sobre a ligação entre o Kadish e o luto.
Para entender uma delas, usaremos uma analogia de um general e seu exército. Vamos partir do princípio de que sua força dependerá do número de soldados que possuir. Ou seja, se ele perder alguns homens, seu exército enfraquecerá e, consequentemente, o seu poder diminuirá.
Nós, judeus, no entanto, sabemos que, em se tratando do Rei de todos os reis, do General de todos os generais, é diferente.

Ele também tem o Seu Exército. E o povo de Israel é a tropa de elite escolhida para algumas missões e para uma em especial: servi-Lo.

A eternidade da alma – Ao contrário do general comum, no entanto, a perda de alguns homens, ou seja, a sua morte, não enfraquecerá o exército, nem o general; pelo contrário.

Nós, judeus, acreditamos na eternidade da alma. Sabemos que a doença, um acidente e a morte atingem apenas o corpo.

A alma, que é energia Divina, que é o sopro Divino, é eterna como D’us. Portanto, apesar da separação entre o corpo e alma, esta última nunca deixa de existir, apenas volta à sua origem – que é o Criador.

Esta é a razão pela qual um órfão, um enlutado, reza o Kadish e louva a D’us. Com as palavras “Yitgadal Veyitkadash”, ele está afirmando sua confiança em D’us. Demonstra a certeza de que a alma de seu ente querido está com o Divino.

Portanto, “Grande e Santificado” continua o General-D’us. É uma demonstração de aceitação do julgamento divino, pois ele tem certeza de que a morte é só física. Sua fé é a de que a alma é eterna e retornou, pois, ao Criador. (Matéria publicada na Revista Morashá em setembro de 1997) [2]

III. A Shivá em Tempos de Pandemia, Por Mendy Tal – Cientista Político

No judaísmo, a vida é considerada acima de quase tudo. O Talmud observa que, como toda a humanidade descende de uma única pessoa, tirar uma vida é como destruir um mundo inteiro, enquanto salvar uma vida é como salvar um mundo inteiro.

No entanto, a morte também não é vista como uma tragédia, mesmo quando ocorre no início da vida ou em circunstâncias infelizes. A morte é vista como um processo natural. A morte, como a vida, tem significado e faz parte de um plano divino. Além disso, os judeus acreditam firmemente na vida após a morte, onde aqueles que viveram uma vida digna serão recompensados.

Para lidarmos com a morte, o calendário judaico tem em si uma sabedoria ímpar e, nele, o ritual do luto possui sequência própria que exprime uma maestria.

Quando perdemos um ente querido, o ritual exige posturas que nos guiam através da dor e que externam o sentimento de perda.

Inicialmente, dá-se a cerimônia do rasgar das vestes, a kriá, que nos remete à alma que se rasga para sempre. A seguir, é o som grave da terra que cai sobre o caixão. É quando a inexorabilidade da morte nos abate.

Logo, a tradição pede que sentemos sete dias de shivá, sem outra obrigação a não ser relembrar a pessoa falecida, em total desconsolo, como a nossa alma. O judaísmo nos possibilita simplesmente chorar nossos mortos neste momento de dor.

A seguir, já tomando o curso de nossa vida normal, temos o shloshim após 30 dias e após um ano, vem a matzeivá. Também são estas as ocasiões de transição do sofrimento.

Estas etapas do luto são como um guia que nos leva através da dor, para que não esqueçamos de retomar nossas vidas a cada passo. Cada momento exige de nós um recato diferente, que vai diminuindo fase a fase, para que não nos percamos na dor e no sofrimento paralisante.

Neste tempo de pandemia do corona vírus, que requer de nós um distanciamento social importante, os rituais estruturais ficam comprometidos.

Os sepultamentos requerem pressa e limite de parentes e amigos.

A sensação de enterrar um ente querido com poucas pessoas ao redor da morada eterna dos que amamos dá a sensação de uma solidão maior ainda.

Mais ainda, a shivá, que nos reserva sete dias intensos de pesar, é sempre acompanhada pela visita de amigos e parentes, a maioria que conviveu com a pessoa falecida, permite que nosso luto seja compartilhado e que memórias de convivência com o ser perdido nos dê uma maior dimensão de suas vidas.

Na pandemia, embora estes dias de luto intenso não possam contar com a presença de familiares e amigos, só o círculo mais íntimo do ente falecido, a tecnologia vem ao nosso socorro, possibilitando visitas virtuais, assim como o minian necessário para as rezas.

Certamente, nestes tempos sombrios, a falta de um minian conveniente e que nos consola é mais um fator que se acresce em nosso período mais dolorido de pesar.

Porém, devemos encontrar conforto com as alternativas possíveis neste momento difícil de toda a civilização e podemos ter a certeza que, um dia, estaremos de novo, em grupo, celebrando a vida e as boas ações da pessoa que perdemos.

Podemos recorrer a uma das frases mais famosas do judaísmo: Gam Zu Iaavor, ou seja, isto também vai passar. [3]

Fontes: [1] Wikipédia, a enciclopédia livre: https://pt.wikipedia.org/wiki/Shiv%C3%A1#:~:text=Shiv%C3%A1%20ou%20Shiv%27ah%20(do,morte%20de%20uma%20pessoa%20pr%C3%B3xima.
[2] Legal Saber: https://legalsaber.com.br/o-kadish-e-o-luto-judaico/
[3] Jornal da Orla, Significados do Judaísmo | 26/05/2020: https://www.jornaldaorla.com.br/noticias/43470-a-shiva-em-tempos-de-pandemia/
Coordenador: Saul Stuart Gefter 02 de Shevat de 5781 – 15 de janeiro de 2021

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