O ANTI-SEMITISMO NO BRASIL (5778) – Estudo de 25 de Maio de 2018 – 11 de Sivan de 5778

I. Introdução – Antissemitismo – As origens do antissemitismo têm raízes históricas profundas, as quais relacionaram questões religiosas e políticas ao ódio e à aversão ao povo judeu.

O problema do antissemitismo foi historicamente construído ao longo de séculos. Para alguns, as origens da aversão aos judeus está assentada na questão das diferenças religiosas que foram estabelecidas entre judeus e cristãos na Antiguidade. Mesmo antes disso, os judeus já eram perseguidos pelas autoridades do Império Romano. A expressa recusa judaica em incorporar alguns elementos da cultura romana impôs o desenvolvimento de uma relação marcada por vários conflitos. Na passagem da Idade Antiga para a Idade Média, a contenda entre cristãos e judeus fundamentava-se em uma divergência religiosa fundamental. Enquanto os cristãos reconheciam a Jesus Cristo como salvador de toda a humanidade e filho de Deus, os judeus acreditavam que o antigo pacto selado com a nação de Israel ainda seria cumprido por um salvador que estaria por vir. Dessa maneira, os judeus reconhecem a Jesus somente como um dos vários profetas que figuram a história de sua crença.

Perseguição aos judeus e a conversão forçada – Ao longo do período medieval, essa diferença acabou gerando uma série de mitos que ridicularizavam os judeus que viviam na Europa. Entre tantas outras críticas, diziam que os praticantes do judaísmo teriam uma índole duvidosa, pois seriam eles mesmos os responsáveis diretos pela morte de Jesus. Partindo dessa primeira acusação, várias outras práticas criminosas ou infortúnios de larga escala foram sendo precipitadamente atribuídos aos judeus.

Nos fins da Idade Média, no tempo em que a Europa experimentava o reaquecimento das atividades comerciais, vários judeus se enriqueceram por meio do comércio de mercadorias e a realização de empréstimos. No que tange a essa última prática, eles seriam mais uma vez criticados pelas autoridades religiosas da época. Para os dirigentes da Igreja Cristã, a usura era um sacrilégio, pois o lucro obtido em tal atividade seria resultado da exploração do tempo, uma instância de ordem divina.

Além dessa questão econômica, a degradação dos judeus no medievo também foi correlata ao desenvolvimento das Cruzadas e a epidemia de Peste Negra. No processo de formação dos reinos ibéricos, podemos ver que a Reconquista não só marcou a expulsão dos árabes daquele território, mas também pela perseguição ou a conversão forçada dos judeus em “cristãos-novos”. Com isso, o sentimento de intolerância reservado a esse povo atravessava os séculos.

Antissemitismo na atualidade – Ao alcançarmos o século XIX, a situação excludente dos judeus poderia se modificar com a defesa da igualdade proposta pelo pensamento liberal. Entretanto, vemos que essa mesma era do liberalismo esteve acompanhada pelo desenvolvimento das teorias raciais e nacionalistas. Por não pertencerem a um Estado próprio, os judeus eram preconceituosamente vistos como “aproveitadores” que vagueavam pelos países do mundo interessados em se apropriar das riquezas nacionais. O auge dessa perspectiva foi observado com o desenvolvimento do nazismo, principalmente na Alemanha. Em meio às mazelas impostas pela crise de 1929, Adolf Hitler e seus seguidores empreendiam a divulgação de frágeis teses que relacionavam a crise alemã ao papel econômico desempenhado pelos judeus. Com a eclosão da Segunda Guerra, o antissemitismo se viu manifesto nas atrocidades, abusos e violências experimentados nos campos de concentração. Com o passar desse conflito, a questão antissemita ganhou novos contornos com a criação do Estado de Israel, na região da Palestina.

A ocupação feita pelos judeus a esse território acabou incitando a rivalidade contra os árabes palestinos que lá se encontravam antes da formação do Estado judaico. Nesse contexto, o ódio contra os judeus se assenta em argumentos que criticam a relutância de alguns grupos políticos em reconhecer a formação de um Estado Palestino e os recorrentes conflitos na região. [1]

II. O anti-semitismo oficial no Brasil (no pós-guerra) – História, Hipocrisia official, Novos documentos mostram que o anti-semitismo do governo Dutra era ainda pior do que se sabia
Por Marcelo Bortoloti

A resistência do anti-semitismo no Brasil no governo do presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) já apareceu em pesquisas anteriores, mas nunca com a clareza mostrada agora pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, da Universidade de São Paulo (USP), por meio de documentos do Itamaraty, ainda inéditos, encontrados por ela. São circulares secretas e telegramas oficiais que mostram como o Brasil do pós-guerra barrou a entrada de judeus, negros e orientais.

O governo Dutra passou à história oficial como um período relativamente liberal na política brasileira. Depois de oito anos sob a ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas, o país voltou a ter eleições diretas para presidente. Dutra ganhou limpamente e patrocinou uma nova Constituição. A Carta rendeu-se aos ares de liberdades democráticas que sopravam no mundo depois da derrota militar do fascismo na Alemanha, na Itália e no Japão.

A maior vitrine desse novo Brasil liberal foi a primeira Assembléia-Geral das Nações Unidas (ONU), em que o país se mostrou preocupado com a causa dos refugiados, principalmente judeus, expatriados na II Guerra Mundial. Foi um brasileiro, Oswaldo Aranha, que presidiu a assembléia da ONU que decidiu pela partilha da Palestina para a criação do estado de Israel. Como sempre, a história oficial não resiste a uma análise mais cuidadosa de suas entranhas. O governo de Dutra não é exceção. Como mostra a professora Tucci Carneiro, a despeito da fachada liberal, muitas das diretrizes de governo eram flagrantemente discriminatórias.

Um exemplo: em 1946, o chefe da delegação brasileira, Luiz Martins de Souza Dantas, discursou na ONU em nome do Brasil afirmando que “cada nação deve aprender a subordinar sua soberania ao interesse da humanidade como um todo”.

Uma semana depois, um telegrama confidencial do Ministério das Relações Exteriores dizia que “ainda estamos a braços com o quisto da emigração japonesa e não desejaríamos agravar nossa situação com a entrada de elementos judeus”. As descobertas recentes nos arquivos do Itamaraty fazem parte de cerca de 10 000 documentos que até meados deste ano terão sua consulta franqueada pela internet no Arquivo Virtual do Holocausto e Anti-Semitismo, da USP. O projeto vai tornar públicos documentos datados entre 1933 e 1948.

Como era de rigor nas universidades europeias e mesmo nos Estados Unidos naquele tempo, vigorava também entre os pensadores oficiais brasileiros um certo ideal eugênico. Era disseminada entre eles a crença de que existiam raças mais propensas ao progresso tecnológico e material do que outras, tidas como usurárias, os judeus, ou preguiçosas, os negros e asiáticos.

A debacle do nazismo e suas experiências radicais de purificação das raças não tiveram, como se pode pensar, o poder de demolir imediatamente a eugenia em suas vertentes acadêmicas e diplomáticas. O pensador brasileiro Gilberto Freyre (1900-1987), propagador pioneiro do relativismo cultural no mundo, lembrava com espanto que na própria França, recém-libertada da ocupação nazista, a noção do melhoramento genético da raça humana prevalecia até na Sorbonne, sua mais prestigiosa instituição universitária. Como é típico, o Brasil de Dutra deixava-se embalar mais pela Europa do que por Freyre, seu jovem e revolucionário pensador. A diplomacia facilitava a entrada de imigrantes europeus, mas dificultava a vida deles se fossem judeus. Para asiáticos e negros, a burocracia era também quase intransponível.

“Havia um projeto de branquear a população do Brasil baseado no princípio de que o atraso do país podia ser explicado pela má formação étnica de sua população”, diz o historiador Fábio Koifman. No pós-guerra, essa idéia vigorava ainda com força total. Pessoas julgadas pouco úteis ao projeto desenvolvimentista brasileiro tinham seu ingresso no país dificultado. Lá fora as aparências eram salvas por gestos generosos, enquanto internamente se dava plena vazão ao pensamento dominante de que se deveria evitar a entrada das massas desvalidas de imigrantes indesejáveis. Diz Tucci Carneiro: “A criação do estado de Israel acabou sendo um alívio para o governo brasileiro. Não pela questão dos refugiados, mas porque resolvia o problema interno da imigração dos judeus”.

Os documentos do Itamaraty encontrados por ela mostram com clareza esse descompasso entre a imagem oficial do governo brasileiro e a prática cotidiana das repartições. Na circular reservada nº 129, de 1946, fica instituído que o visto a estrangeiros de origem judaica e asiática deveria ser sujeito, caso a caso, à aprovação do Conselho de Imigração e Colonização, que respondia diretamente ao presidente da República. Nesse mesmo ano, a circular n° 200 determina que “viajantes israelitas” sem visto, mesmo que viessem de passagem, deveriam ter seus passos monitorados para não se fixarem no país. Outra resolução reservada, n° 161, de 1949, impunha regras à concessão de visto a um parente de judeu, uma vez que, “dentro da nossa política imigratória, há correntes alienígenas que não atendem a nossos interesses”. [2]

III. O antisemitismo no Brasil e no mundo – ADL divulga pesquisa sobre o antisemitismo no mundo

Pesquisa da ADL (A Liga Antidifamação, EUA) em mais de 100 países encontra mais de um quarto dos entrevistados infectados com atitudes antissemitas. Apenas 54 por cento dos entrevistados já ouviram falar do Holocausto. ADL divulgou hoje os resultados de uma pesquisa mundial sem precedentes de atitudes antissemitas. O ADL Global 100: Um Índice de Antissemitismo entrevistou 53.100 adultos em 102 países, em um esforço para estabelecer pela primeira vez uma ampla pesquisa baseada em dados do nível e intensidade do sentimento antijudaico em todo o mundo.

A pesquisa constatou que as atitudes antissemitas estão presentes em todo o mundo. Mais de um em cada quatro adultos, 26 por cento dos entrevistados, estão profundamente infectados com atitudes antissemitas. Este valor representa cerca de 1.09 bilhão de pessoas. A pesquisa descobriu que apenas 54 por cento dos entrevistados globalmente já ouviram falar do Holocausto. Dois em cada três pessoas entrevistadas ou nunca ouviram falar do Holocausto ou não acreditam que os relatos históricos sejam exatos.

O escore geral do ADL Global 100 Index representa a percentagem de entrevistados que responderam “provavelmente verdadeiro” para seis ou mais de 11 estereótipos negativos sobre os judeus. Um índice de 11 questões é usado pela ADL como uma métrica fundamental na medição de atitudes antissemitas nos EUA nos últimos 50 anos.

No Brasil, o número de adultos com atitudes antissemitas foi de 16 por cento, cerca de 22 milhões de pessoas. “Pela primeira vez temos uma noção real de como o antissemitismo generalizado e persistente está hoje em todo o mundo”, disse Abraham H. Foxman, diretor nacional da ADL. “Os dados nos permitem olhar além de incidentes e retóricas antissemitas e quantificar a prevalência de atitudes antissemitas em todo o mundo. Podemos agora identificar os focos, bem como os países e regiões do mundo onde o ódio aos judeus é essencialmente inexistente.”

Disponível no site interativo http://global100.adl.org, o ADL Global 100 Index vai oferecer aos pesquisadores, estudantes, governos e membros do público acesso direto a um tesouro de dados atuais sobre as atitudes antissemitas. O levantamento classifica os países e territórios do menos antissemita (Laos, em 0,2 por cento) ao mais antissemita (Cisjordânia e Faixa de Gaza, em 93 por cento).

Há também algumas observações altamente encorajadoras. Na maioria dos países de língua inglesa, a percentagem de pessoas com atitudes antissemitas é de 13 por cento, muito inferior à média geral. Países de maioria protestante têm as mais baixas avaliações de atitudes antissemitas, em comparação com qualquer outro país de maioria religiosa. E 28 por cento dos entrevistados em todo o mundo não acreditam que qualquer um dos 11 estereótipos antissemitas avaliados seja “provavelmente verdadeiro”.

A ADL contratou as empresas de pesquisa First International Resources e Anzalone Liszt Grove Research para realizar a pesquisa de atitudes em relação aos judeus. Os dados foram recolhidos a partir de entrevistas realizadas entre julho de 2013 e fevereiro 2014, em 96 idiomas e dialetos por meio de discussões por telefones fixos, celulares e pessoalmente. Os entrevistados responderam a uma série de 11 perguntas com base em estereótipos seculares sobre os judeus, inclusive os estereótipos sobre o poder, lealdade, dinheiro e comportamento judaico.

Aqueles que responderam afirmativamente a seis ou mais declarações negativas sobre os judeus são considerados como possuidores de atitudes antissemitas. A margem de erro para a maioria dos países, onde foram selecionados 500 entrevistados, é de +/- 4,4 por cento. Em vários países maiores, onde foram realizadas 1.000 entrevistas, a margem de erro é de +/- 3,2 por cento.

ADL Global Index: antissemitismo por região – A maior concentração de entrevistados com atitudes antissemitas foi encontrada no Oriente Médio e países do Norte Africano (“MENA”), onde quase três quartos dos entrevistados, 74 por cento dos entrevistados, concordaram com a maioria dos estereótipos antissemitas. Os países fora da MENA têm um escore de índice médio de 23 por cento. Fora da MENA, os escores do índice por região foram os seguintes: Europa Oriental: 34 por cento Europa Ocidental: 24 por cento África Subsaariana: 23 por cento Ásia: 22 por cento Américas: 19 por cento Oceania: 14 por cento Mais informações sobre o ADL Global 100, inclusive comparações país por país, estão disponíveis on-line em http://global100.adl.org

A Liga Antidifamação, fundada em 1913, é a organização líder mundial de combate ao antissemitismo por meio de programas e serviços que neutralizam o ódio, o preconceito e a intolerância. FONTE: Anti-Defamation League. [3]

V. O Integralismo foi o introdutor do anti-semitismo no Brasil?
Por Sérgio de Vasconcellos

Em artigo anterior, “Gustavo Barroso, racista?”, provei de forma definitiva que Gustavo Barroso jamais foi racista. Vou dar prosseguimento às investigações históricas, abordando outra arraigada fantasia dos “historiadores” que se dizem especialistas no Movimento Integralista: O Integralismo seria o introdutor do anti-semitismo no Brasil. Ora, não teria existido anti-semitismo em nossa Pátria antes de 1932? É o que vou responder a seguir.

O primeiro Livro Integralista que abordou o anti-semitismo foi o célebre “Brasil, Colônia de Banqueiros”, de autoria de Gustavo Barroso que, como demonstramos no Artigo citado, não é uma Obra de cunho racista, muito pelo contrário, pois, por mais surpreendente que isso possa parecer hoje, o anti-semitismo adotado por Barroso era uma posição anti-racista, porque pretendia impugnar o que ele entendia ser o racismo judaico. Este importantíssimo Livro, que denuncia a exploração do Brasil pelo Banqueirismo Internacional, foi publicado pela primeira vez em 1934, tendo se tornado um sucesso editorial, atingindo oito edições sucessivas até 1937. Antes de ser publicado, ele constituíra o conteúdo de uma Conferência, pronunciada pela primeira vez em Outubro de 1933 e repetida diversas vezes até Janeiro de 1934. Portanto, o próprio Integralismo já tinha um ano de idade quando Barroso divulgou seu candente libelo.

Ora, em Fevereiro de 1934, Affonso Arinos de Mello Franco, publicou o hoje raríssimo “Preparação ao Nacionalismo”, obra completamente anti-semita. Terá Mello Franco sofrido alguma influência de Barroso? A comparação entre os dois Livros deixa claro que, enquanto Barroso limita-se a questão dos Empréstimos Externos, sem nenhum caráter racista, o de Affonso Arinos é um trabalho racista, anti-judaico do início ao fim.

De mais a mais, como o próprio Mello Franco admite, sua Obra ou a maior parte dela já estava pronta em Junho de 1933, ou seja, vários meses antes de Barroso preparar a sua Conferência. Assim, existe uma Obra claramente racista e anti-judaica anterior a de Barroso. Todavia, em 1933, foi publicado o “Israel sem Máscara”, de Witold Kowerski. Não há informação exata em que momento do ano foi editado o volume, mas, o próprio Autor data o prefácio de Maio de 1933, e, por referência interna, ainda escrevia o livro em Setembro de 1933. Evidentemente, nenhuma influência de Barroso, cujo trabalho é de Outubro, e o cotejo com o de Affonso Arinos mostra uma outra abordagem, não obstante o seu nítido caráter racista e anti-judaico. Agora, são duas as Obras anti-semitas anteriores a Barroso.

Ainda no ano de 1933, foi traduzido para o português o famoso “O Judeu Internacional”, atribuído a Henry Ford, e publicado pela Globo, de Porto Alegre. Também aqui não é possível precisar o momento exato da impressão, porém, em Maio de 1933, o já citado Witold Kowerski dá a Obra como publicada, logo, só pode ser no período entre Janeiro e Maio de 1933. Terceiro volume anti-judaico antes de Barroso.

Também em 1933 publica-se uma tradução dos controvertidos “Protocolos dos Sábios do Sião” – esta tradução não deve ser confundida com a de Gustavo Barroso, que é de 1936 – , que segundo o renomado jurista Anor Butler Maciel, em seu Livro “Nacionalismo – O Problema Judaico e o Nacional Socialismo”, foi lançada antes de “O Judeu Internacional”. Agora, já são quatro, todos anteriores a Barroso…

Em 1931, a consagrada Livraria do Globo, de Porto Alegre, publica um clássico, “As Forças Secretas da Revolução – Maçonaria e Judaísmo”, do erudito Conde Léon de Poncins. Friso o ano, 1931, portanto, antes mesmo da Fundação do Integralismo, em Outubro de 1932. E até aqui já são cinco livros não Integralistas e todos anteriores a Barroso. No mesmo ano de 1931, o Padre Theophilo Dutra publica “As Seitas Secretas”(14), notável estudo sobre a maçonaria, com dois capítulos inteiramente dedicados aos judeus e a cabala, onde a inspiração judaica na maçonaria é destacada. É a Sexta Obra anterior a de Barroso.

Cada uma das Obras citadas aborda o judaísmo numa perspectiva diferente da de Gustavo Barroso e todas com antecedência cronológica. Constata-se assim, documentalmente, que não cabem a Gustavo Barroso e ao Integralismo, a primazia neste gênero de estudos. E assinalo que só levantei alguns poucos títulos, e nem fui pesquisar o que se dizia a respeito na Imprensa.

Quem sabe algum “pesquisador” resolva fazer juz ao seu título acadêmico e pesquise o anti-judaísmo no jornalismo daquele período… Saliento que, o primeiro Periódico Integralista passa a circular em Dezembro de 1933, porém, trata-se do “Monitor Integralista”, órgão oficial de restrita circulação interna. A Imprensa Integralista só surge de fato em 1934, com “A Offensiva”, o primeiro periódico do que seria uma vasta cadeia jornalística, cobrindo todo o Território Nacional. Consequentemente, o Jornalismo do Sigma, não teve qualquer participação no surgimento do anti-judaismo em nosso País. Mas, forçoso é reconhecer que não é possível que, do nada, Editoras diversas, em pontos diferentes do País, resolvessem publicar títulos anti-judaicos. Sendo uma indústria, que visa lucro, tais Editoras apenas atenderam uma demanda insatisfeita. Explico-me:

Até então, o francês era a Segunda língua das classes cultas do nosso País, e em tal idioma, existia – e ainda existe – uma vastíssima literatura anti-judaica (até o incorreto termo anti-semitismo é da criação de um francês, o Conde de Gobineau), e que circulava abundantemente no Brasil. No entanto, em nossa Língua Pátria, pouco se explorara o tema: Uma Palestra de Eduardo Jacobina, em 1917, e artigos do Conde Carlos de Laet, Dom Silvério Gomes Pimenta e outros durante a mal denominada “Questão Religiosa”(sessenta anos antes do surgimento do Integralismo!).

A indústria editorial, portanto, tão somente atendia a procura por títulos neste assunto, ou seja, já existia uma parcela da Opinião Pública interessada, ou melhor, em outros termos, um Mercado Consumidor para este gênero literário, Mercado este que se formou ao longo dos anos, quando o Integralismo ainda não existia. Não se deve olvidar que tal Mercado ou Corrente de Opinião anti-judaica foi incrementada, principalmente nos Estados do Sul, com a presença, desde a década de 20, do Partido Nazista, que fazia ampla campanha de proselitismo. O racismo era parte da ideologia hitlerista, particularmente, o combate irracional aos judeus. Ainda em 1933, o renomado economista alemão, Gottfried Feder, um dos líderes do nazismo, teve seu livro, “As Bases do Nacional Socialismo” traduzido e publicado. Eis uma sétima Obra anterior a de Barroso.

Assim, chega-se a conclusão de que o Integralismo não é criador do anti-judaismo entre nós, e mais ainda, paradoxalmente, Gustavo Barroso representa uma reação à literatura anti-semita que circulava no Brasil, que era francamente racista, enquanto Barroso deixava claro que sua crítica era de cunho anti-racista, denunciando um suposto racismo judaico, como vimos em Artigo anterior. Ou seja, ao reduzir os termos em que colocava o problema, condenando o racismo e recusando-se a criticar a Religião judaica, limitando-se a criticar a atuação política e econômica da Colônia Judaica – crítica que só poderia atingir a pequena parcela dos Grandes Capitalistas de tal Comunidade -, o nosso Gustavo Barroso estava fazendo uma sutil e brilhante defesa dos Judeus Brasileiros. É espantoso, mas, pode-se dizer que Barroso, apesar de parecer nos seus Livros um panfletário anti-semita, era, na verdade, um defensor do Judaísmo Brasileiro, e mais ainda, graças a mudança de paradigma na abordagem da então chamada “Questão Judaica” – da crítica racista aos judeus para a crítica à atuação política e econômica de alguns judeus – e ao prestígio do seu nome e a força do Integralismo, Gustavo Barroso impediu que se formasse entre nós um racismo anti-judaico, inteiramente alheio à Tradição Brasileira, e que estava surgindo no Brasil por influência de uma Literatura Estrangeira, a Literatura Anti-Judaica Européia.
Finalizando, entendo que Gustavo Barroso tem sido uma das figuras mais injustiçadas na História Contemporânea do Brasil, pois, é apontado como uma racista anti-semita, quando, de fato, foi um defensor dos Judeus, um campeão na luta contra o racismo.

De acordo com a conclusão desta investigação, simples, porém, totalmente alicerçada em fatos e documentos, a Colônia Judaica do Brasil deveria erguer um Monumento a Gustavo Barroso, pois, graças a ele e ao Integralismo, o anti-semitismo racista não se enraizou entre nós. Fica aí a sugestão. Respondo a pergunta que encima este trabalho:
NÃO, o Integralismo não é introdutor do anti-semistismo em nosso País. Na verdade, o Integralismo é o responsável por não existir um racismo anti-semita no Brasil. Anauê! [4]

V. Antissemitismo no Rio Grande do Sul –

 Federação Israelita do RS entrega ao Ministério Público representação de casos de antissemitismo no Estado. Representantes da FIRS e de suas entidades filiadas participaram de audiência com o Procurador–Geral de Justiça, Eduardo de Lima Veiga, na manhã da última terça-feira.

A Federação Israelita do Rio Grande do Sul – representante da comunidade judaica no estado, juntamente com líderes religiosos e representantes de entidades judaicas entregaram na manhã desta terça-feira, 02/09, ao Ministério Público representação contendo todas as denúncias de casos de anti-semitismo ocorrido no estado durante o último conflito no Oriente Médio. “Repudiamos o racismo e o anti-semitismo. Ambos igualmente proliferam e encontram, de tempos em tempos, guarida junto a diferentes grupos. Sob disfarce de causas nobres, ambos tem florescido, não só no Brasil, mas em diversos outros países e continentes. Infelizmente, o conflito atual em Gaza fez aflorar um anti-­semitismo virulento, através de manifestações racistas, discriminatórias, como poucas vezes se viu desde a Alemanha nazista”, justifica o presidente da Entidade, Mario Cardoni.

A FIRS espera o encaminhamento à Promotoria Criminal, para apuração de prática delituosa. “Essa representação também tem o sentido pedagógico, para que sirva de exemplo e ensinamento para que não ocorra mais”, completa. Para o Procurador–Geral de Justiça, Eduardo de Lima Veiga, é urgente a necessidade de aprendermos a conviver com as diferenças. Historicamente, a posição da Entidade tem sido a de não importar o conflito no Oriente Médio para o território brasileiro e, em especial, o Rio Grande do Sul. Ao contrário, busca-se a exportação da convivência pacífica e harmoniosa que judeus e palestinos mantêm no território nacional. [5]

Fontes: [1] Brasil Escola: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/anti-semitismo.htm [2] Revista Veja, edição 2046, Estudos Judaicos: http://estudosjudaicos.blogspot.com/2008/03/o-anti-semitismo-oficial-no-brasil-no.html [3] Coisas Judaicas: https://www.coisasjudaicas.com/2014/05/o-antisemitismo-no-brasil-e-no-mundo.html [4] Blog- integralismo, setembro 2010: http://integralismo.blogspot.com/2010/09/o-integralismo-foi-o-introdutor-do-anti.html [5] Pletz.com: 3 de setembro de 2014 via FIRS http://www.pletz.com/blog/antissemitismo-rio-grande-sul/

Coordenador: Saul S. Gefter, Diretor Executivo 11 de Sivan de 5778 – 25 de Maio de 2018

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