JEJUM DE GUEDALIA’ E SHABAT SHUVA (5780) – Estudo para 04 de Outubro de 2019 – 05 de Tishrei de 5780

I. Jejum de Guedaliá e Itzhak Rabin, por Rafael Stern
No dia 3 de Tishrei (02 de Outubro 2019), logo após a saída do Yom Tov de Rosh Hashaná (Ano Novo Judaico), há um jejum de 12 horas em memória de Guedaliá.

Guedaliá Ben Achikam viveu em Jerusalém, no reino de Judá, na época da destruição do 1º templo, o Templo de Salomão (que aconteceu no ano 586 A.E.C). Nabucodonosor, rei da Babilônia, após destruir o Templo e levar cativa boa parte do povo judeu, nomeou Guedaliá como governador dos judeus que permaneceram vivendo na terra de Israel. Sua boa reputação e influência fez com que pessoas dispersas por diversas terras voltassem a viver nas terras de Judá. Devido a intrigas e brigas de duas facções políticas que dividiam o povo, Guedaliá foi assassinado por Ishmael ben Netaniá. Antes de receber uma visita do grupo representado por Ishmael, Guedaliá foi prevenido pelo seu chefe de segurança (Yochanan ben Kareach), que muito desconfiava das intenções dessa visita. Yochanan se ofereceu para matar Ishmael secretamente. “Não faças tal coisa, pois é falso o que dizes sobre Ishmael” – respondeu Guedaliá a Yochanan ben Kareach (Jeremias, capítulo 41, versículo 16). Ishmael foi visitar Guedaliá com um grupo de 10 homens, e foram recebidos com um banquete.

Durante a refeição, atacaram e mataram Guedaliá. Uma parte do povo judeu estava cativa na Babilônia, e a parte que ficara na terra de Israel agora se encontrava completamente desestruturada, mergulhada em profunda crise política, com ameaças ferozes de ataques dos caldeus e da Babilônia. A população judaica da terra de Israel se viu então obrigada a se refugiar no Egito, que era inimigo da Babilônia, e assim, 800 anos após o Êxodo, contrariou o mandamento da Torá que proibia os judeus a voltar a se assentar no Egito. Essa parte do povo rapidamente se assimilou e se desvinculou do judaísmo. Segundo a tradição judaica, esse foi o primeiro assassinato político da história do povo judeu, e instituiu-se um jejum para que o povo se redimisse do ocorrido, e que nunca mais acontecesse um assassinato político entre nós.

Em 1995, Itzhak Rabin, ex-primeiro ministro israelense, foi assassinado por razões políticas. Atualmente, no dia do jejum de Guedaliá, em Israel, fala-se de Rabin. Da mesma forma que Guedaliá, Rabin foi avisado pelo chefe do Shin Bet (o serviço secreto de segurança interna israelense), Carmi Guilon, de que iriam atentar contra sua vida. No dia do comício pela paz em Tel Aviv, quando foi assassinado, Rabin foi orientado a usar um colete à prova de balas. Prontamente se recusou, achando um absurdo desconfiar e precisar se proteger de judeus em plena Tel Aviv.

O assassino de Rabin, Ygal Amir, um judeu religioso ortodoxo, praticante dos costumes, que muito provavelmente jejua por Guedaliá para que nunca mais aconteça um assassinato político no seio do povo judeu, foi o autor dos três disparos que tiraram a vida de Rabin. Os três tiros não foram apenas contra Rabin, foram contra a democracia, contra o pacto nacional, contra as eleicões, contra o povo judeu. As feridas profundas que esse assassinato deixou na sociedade israelense foram um fim trágico para a inocência nacional gerada pelo sionismo, o imaginário coletivo de que todos estavam unidos por uma causa e objetivo comuns. Talvez mais trágico do que o atraso que já dura 22 anos em relação a um acordo de paz mais definitivo (que virá), esse assassinato matou a coesão na sociedade judaica, a confiança, o sentimento de irmandade, de união. Aprofundou preconceitos e distâncias, feridas que jejuns inteiros não podem curar. Desde então, já passamos por uma grande e sangrenta intifada, uma guerra no Líbano, e três guerras em Gaza. E deixou a democracia agonizante, nas mãos de políticos que não parecem fazer questão nenhuma de salvá-la. Vai dar trabalho, mas a democracia e o sionismo vão prevalecer, apesar de tentativas internas nefastas de sabotá-los. [1]

II. MINI-GUIA DO JEJUM – Nos tempos bíblicos, os jejuns eram proclamados quando havia alguma ameaça de perigo, e também serviam como um chamado para penitência e uma oportunidade para se fazer orações.. E o jejum era um sinal de luto quando ocorria uma calamidade. Do ponto de vista judaico, o jejum é uma manifestação de piedade que surge a partir de um desejo para uma vida meritória, em linha com a ênfase ética dos ensinamentos herdados. Mas deve-se ter em mente , conforme o Talmud, que não é a roupa de luto e o jejum que geram o perdão, mas sim ,o arrependimento e as boas ações. A nossa Tradição considera três tipos de jejum: 1- jejum público consagrado; 2- jejum público decretado em ocasiões especiais; 3- jejum individual

JEJUM PÚBLICO CONSAGRADO – Existem 6 (seis) jejuns públicos consagrados. O primeiro em importância é o de Yom Kipur, que é o único que está explicitamente estabelecido na Torah. Os outros cinco, embora mencionados no Tanah, foram na realidade, estabelecidos pelos sábios, sendo apenas um deles, o Jejum de Esther, feito na véspera de Purim, que não se refere à destruição de Jerusalém e do Templo, e a perda do Estado Judeu na Antiguidade. Os 4 (quatro) jejuns referentes à destruição de Jerusalém e do Templo são os seguintes: O primeiro é recordado em 17 de Tamuz. O segundo Tish-á-Be’Av (9 de Av). O terceiro, é o jejum de Gedáliah, em 3 de Tishrei. E o quarto, 10 de Tevet. Em 17 de Tamuz marca o início da destruição de Jerusalém (referente ao segundo Templo), quando os romanos conseguiram romper o muro da cidade. Por ocasião da destruição do primeiro Templo, os muro começaram a ser rompidos em 9 de Tamuz. Mas ambos os eventos são comemorados na mesma data, ou seja, 17 de Tamuz. Em 9 de Av (Tish-á-Be’Av), 4 semanas após 17 de Tamuz, ocorreu a destruição, tanto do primeiro quando do segundo Templo, ocasionando a perda do Estado Judeu. Em 3 de Tishrei, um dia após Rosh Hashaná, é o dia do Jejum de Gedaliah. Gedaliah bem Ahikan, a quem Nabucodonosor designou governador de Judá após a primeira destruição de Jerusalém, foi assassinado nesta data, acabando com as esperanças de fim da dominação babilônica e possibilidade do ressurgimento do estado judeu.

Em 10 de Tevet, oito dias após o último dia de Chanuká, recorda-se o começo do primeiro cerco de Jerusalém pelas forças de Nabucodonosor, ocasionando o rompimento do muro em 9 de Tamuz, e destruição do Primeiro Templo em 9 de Av.

JEJUM PÚBLICO ESPECIAL – Além dos jejuns consagrados, jejuns públicos especiais foram ordenados, quando uma situação particularmente grave gerava um apelo para orações de massa e de arrependimento. Nos tempos antigos, vemos isto ocorrrer em Esther 4:3, 16 ; Nehemias 9:1 ; Joel 2:15 ; Jonas 3:9. E considerando que as situações de perigo e angústia eram freqüentes, existem vários exemplos onde os líderes da comunidade decretaram jejum. Estes jejuns especiais eram muitas vezes limitado a uma comunidade ou a um único país. As regras para o jejum público especial são as mesmas do jejum público consagrado. Existem ainda alguns jejuns que eram largamente observados numa época, mas que agora se tornaram obsoletos, ou são observados somente por pessoas muito devotas. Por exemplo, o jejum que era realizado na véspera de Rosh Chodesh, já foi bastante observado, particularmente na Europa Oriental. Este jejum mensal era chamado de Yom Kipur Katan (Pequeno). Este jejum não é mencionado, nem no Talmud, e nem no Shulhan Aruh de Caro. Algumas pessoas extremamente devotas costumavam fazer 3 (três) dias de jejum após Pessach e após Sucot, como uma penitência por alguma leviandade que pudesse ter sido praticada durante aquelas festividades. O costume era esperar o fim do mês de Nissan (em Pesach) ou Tishrei (Sucot), e jejuar na primeira Segunda-feira, na primeira Quinta-feira e na segunda Segunda-feira do mês seguinte.

JEJUM INDIVIDUAL – Alguns jejuns não são obrigatórios para toda a comunidade, mas apenas para alguma pessoas, e em certas ocasiões. Por exemplo, é considerada um Mitzvá jejuar nos dias de Yortzait (aniversario de falicimento)dos pais. E o casamento, que é como se fosse um Yom Kipur para os noivos, onde seus pecados são perdoados, alguns noivos costumam jejuar antes da cerimônia de casamento. Outro tipo de jejum individual, é aquele que é obrigado a ser realizado pela pessoa que deixar cair um Sefer Torah, jejum este, que deve ser seguido, também, por aqueles que estiverem presentes ao fato. O Talmud relata diversos jejuns individuais. LEITURA DE TORAH – Durante os dias de jejum público a Torah é lida, e são feitas três Aliot, tanto na parte da manhã (Shacharit) quanto à tarde (Minchá).. As leituras dos jejuns de Gedaliah, 10 de Tevet, de Esther e 17 de Tamuz encontram-se na Parashá Ki Tissá , do livro Exodus, Cap. 32 Vers. 11 ao 14 e Cap. 34 Vers. 1 ao 10. As leituras são as mesmas, tanto na parte da manhã quanto na parte da tarde.. No costume asquenazi, a terceira Aliá, e somente em Minchá, é lida como Maftir, seguida da leitura da Haftará de Isaias 55:6 – 56:8. As leituras de Tish-á-Be’Av são também as mesmas, tanto em Shacharit quanto Minchá, e encontram-se na Parashá Vaetchanan, do livro Deuteronômio, Cap. 4 Vers. 25 ao 40. A terceira Aliá é lida como Maftir, tanto na parte da manhã quanto à tarde, seguida da Haftará de Jeremias 8:13 – 9:23. Yom Kipur tem as sua leituras e procedimentos específicos. DURAÇÃO DOS JEJUNS – Com exceção dos jejuns de Yom Kipur e de Tish-á-Be’Av , cujo início é o por do sol, quando consideramos que se inicia o dia, até o por do sol do dia seguinte, todos os outros jejuns aqui mencionados, iniciam-se com o nascer do sol e terminam com o por do sol daquele mesmo dia. Durante o jejum não são ingeridos nenhum alimento nem nenhum líquido.

LITURGIA NOS DIAS DE JEJUM PÚBLICO – Nas Amidot de Shacharit e de Minchá deve ser incluída a reza de ANENU. Nos jejuns de Gedaliah, 10 de Tevet, de Esther e 17 de Tamuz, logo após as repetições das Amidot de Shacharirt e de Minchá, deve-se abrir o Aron Hacodesh, e recitar o AVINU MALKENU.

III. Os Dez Dias de Arrependimento Shabat Shuvá – O Shabat entre Rosh Hashaná e Yom Kipur é chamado Shabat Shuvá (Retorno), em referência à primeira palavra da Haftará. É também conhecido como Shabat Teshuvá (Arrependimento), por ser um dos Dez Dias de Arrependimento, entre o período de Rosh Hashaná até Yom Kipur. Não é significativo que Shabat Teshuvá seja depois e não antes de Rosh Hashaná? Dessa maneira, mesmo depois que o homem atinge as elevadas alturas espirituais de Rosh Hashaná, ainda há necessidade de um Shabat Teshuvá. Pois, quanto mais a pessoa se aproxima de D’us, mais percebe suas falhas no serviço de D’us. Cada passo à frente significa realmente que o último passo está bem atrás, embora estivesse uma vez “à frente”. E enquanto o homem se eleva ainda mais alto, de um plano a outro mais elevado, tem razões para arrepender-se de seu estado anterior, quando estava mais distante de D’us do que está agora.

A leitura na Torá – A leitura na Torá em Shabat Shuvá é na maior parte a porção de Haazinu, a penúltima Porção do último livro da Torá. Às vezes, entretanto, poderia ser a porção Vayelech, aquela que precede Haazinu. Ambas as porções contêm elementos que são bem apropriados à época, como a repreensão de Moshê aos Filhos de Israel em deixá-los, exortando para a obediência a D’us, arrependimento, e assim por diante. A porção Haazinu contém a famosa Canção de Moshê. Seus lindos versos contém o segredo da existência de Israel e o futuro de seu destino. A Haftará deste Shabat é obviamente apropriada ao caráter do dia. É o Shabat dos Dez Dias de Arrependimento. A Haftará, por isso, começa com um chamado para o Arrependimento: “Retorna, ó Israel, para o Senhor teu D’us.” Isso nos diz para não confiar em nenhum outro povo em épocas de sofrimento, mas somente em D’us. Em algumas congregações a Haftará é continuada com a leitura do capítulo dois do livro de Yoêl, começando com “O Toque do shofar em Tsion,” que continua no mesmo tom. [3]

Fontes: [1] conexão israel: http://www.conexaoisrael.org/jejum-de-guedalia-e-itzhak-rabin/2017-09-23/rafael
[2] CJB, Barra de Tijuca:http://www.cjb.org.br/tiferet/culto/miniguia_jejum.htm
[3] Chabad: http://www.chabad.org.br/datas/10dias/shabat_shuva.html
Coordenador: Saul Stuart Gefter 05 de Tishrei de 5780 – 04 de Outubro de 2019

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *