SHAVUOT E O LIVRO DE RUTH (5780) – Estudo para 29 de Maio de 2020 – 06 de Sivan de 5780

I. Shavuot – A festa de Shavuot, comemorada na Diáspora no sexto e sétimo dia do mês hebraico de Sivan, é a data na qual celebramos Matan Torá – a Entrega da Torá. É importante notar, contudo, que a transmissão da Torá não ocorreu em um único dia – mas sim, o Todo Poderoso a transmitiu a Moshé, que a ensinou ao Povo Judeu durante os 40 anos de sua permanência no Deserto do Sinai. Leis e costumes – Tikun Leil Shavuot – Noite de vigília e estudo – Na primeira noite de Shavuot, este ano na 6a feira, 29º de maio, é costume se realizar uma vigília dedicada ao estudo da Torá, nas sinagogas, durante toda a noite. A Cabalá enfatiza a importância desse ritual, conhecido como Tikun Leil Shavuot. Uma explicação para a tradição é que o povo judeu não acordou cedo no dia em que D’us lhes outorgaria a Torá, tendo sido necessário que Ele Mesmo os despertasse. Como uma espécie de contrapartida ao fato, foi instituído o costume de se permanecer acordado desde a véspera, estudando a Torá.

Primeiro dia – Leitura dos Dez Mandamentos – Na manhã seguinte, primeiro dia de Shavuot, este ano na 6a feira, 2 de junho, ouve-se em todas as sinagogas a leitura dos Dez Mandamentos. É da maior importância que os pais participem desse momento ao lado de seus filhos.

Segundo dia – Livro de Ruth – No segundo dia de Shavuot, este ano no Shabat, 3 de junho, lê-se, nas sinagogas, o Livro de Ruth. Os sábios consideravam a história de Ruth – uma moabita que abraçou o judaísmo – apropriada para a data, não apenas por se passar durante a colheita, mas especialmente em razão de seus ensinamentos. Na célebre passagem bíblica, que se tornou símbolo de profunda devoção e fé, Ruth, após a morte do marido judeu, declara à sogra: “Teu povo será meu povo e teu D’us será meu D’us”. Ruth voltou a se casar e seu bisneto foi o rei David, que nasceu e faleceu durante Shavuot.

Folhagens verdes – Costuma-se enfeitar casas e sinagogas, nesta festa, com flores e folhagens. O Midrash ensina que quando a Torá foi entregue ao povo judeu, o Monte Sinai – uma montanha deserta e árida – viu-se subitamente coberto de flores, árvores e grama. As folhagens simbolizam, principalmente, o costume vigente na época do Templo Sagrado de se levar a Jerusalém as primícias, ou seja, os primeiros frutos colhidos dentre as sete espécies que caracterizam a Terra de Israel.

Alimentos à base de leite – Outro costume é consumir, durante os dois dias, laticínios, já que a Torá é comparada ao leite. A palavra hebraica para leite é chalav. Quando se soma o valor numérico de cada uma das letras desta palavra chega-se ao total de quarenta. Quarenta é o número de dias que Moisés passou no Monte Sinai.

Explica-se, também, que a Torá, fonte de vida para tudo, pode ser comparada ao leite que é sustento para o recém-nascido. Existem outras explicações para o costume. A partir da outorga da Torá, as leis da cashrut tornaram-se obrigatórias. No entanto, como a Torá foi entregue num Shabat, nenhum animal podia ser abatido e nem os utensílios casherizados; e a tradição manteve o costume. [1]

II. A História de Ruth – Foi assim que tudo isto aconteceu: Nos dias em que os juizes governavam Israel, o povo havia relaxado sua observância da Torá; por essa razão provocou sobre si a punição de D’us. Na terra, reinava a fome.

Um rico mercador, habitante de Yehudá, de nome Elimelech, não acostumado à fome e à pobreza, pensou em escapar da miséria mudando-se para outro lugar. Assim foi viver em Moav com sua esposa Naomi e seus dois filhos. Ruth, uma princesa moabita, imbuída de elevados ideais, não estava satisfeita com a idolatria de seu próprio povo e quando chegou a oportunidade, abriu mão do privilégio da realeza em sua terra, aceitando uma vida de pobreza entre um povo que ela admirava. Ruth fez amizade com essa família judia e começou a comparar o diferente modo de vida com o seu próprio. Aprendeu a admirar as leis e costumes judaicos, e a insatisfação que já sentia com a idolatria de seu povo, tornou-se uma objeção positiva. Quando um dos filhos de Naomi a pediu em casamento, ela sentiu-se feliz e orgulhosa em aceitar. Não ficou com remorso frente ao que estava renunciando: a vida de luxúria no palácio, o título real, as perspectivas de riqueza e honra no futuro, pois percebia o valor do povo ao qual agora se unia. Com a morte de Elimelech e seus dois filhos, Naomi, pobre e viúva, ficou sem saber o que fazer ou para onde ir. Portanto, disse a Ruth e à sua outra nora Orpá: “Minhas filhas, devo partir, e decidi voltar a minha cidade natal, Beit Lechem. Lá, as coisas não devem ser muito boas, e não vejo razão porque também vocês deveriam sofrer. Portanto, aceitem meu conselho e voltem à casa de seus pais. Seus maridos estão mortos e, talvez, se permanecerem em sua própria terra, poderão encontrar outros homens com quem se casar. Eu perdi meus filhos para sempre, mas vocês são jovens, poderão encontrar outros maridos.”

Orpá despediu-se tristemente de sua sogra. Mas Ruth se apegou a Naomi em prantos e implorou-lhe para partir com ela. Com estas tocantes palavras pediu: “Eu te suplico, não me peças que te deixe, e que retorne após te seguir, porque aonde quer que fores, eu irei; e onde pousares, pousarei; teu povo é o meu povo e teu D’us é o meu D’us; onde morreres, morrerei, e ali serei enterrada; somente a morte me separará de ti.” Ruth sabia muito bem o que estava fazendo. Naomi a havia prevenido das dificuldades com que se defronta um judeu em qualquer tempo, mas Ruth estava inabalável em sua determinação de seguir sua sogra e de apegar-se a fé de sua escolha. Só o futuro provaria que Ruth seria justamente recompensada por sua elevada decisão, pois mesmo em seus momentos de pobreza ela não se arrependeu. Era tempo de colheita quando Ruth e Naomi chegaram à Terra Prometida. Estavam exaustas após a longa jornada e Ruth conseguiu fazer com que Naomi repousasse, enquanto saiu aos campos de Beit Lechem para ver o que poderia encontrar para saciar a fome. Entrou em um campo onde havia muitos homens ocupados na colheita de grãos, enquanto alguns os amarravam em fardos e outros os empilhavam em carretas para transportá-los.

Com certa hesitação, mas estimulada por sua fome e pelo pensamento de que deveria levar alguma coisa para sua sogra, Ruth entrou no campo e sentou-se por algum tempo para descansar, enquanto esperava para ver o que a sorte lhe traria.

De repente, foi surpreendida ao ouvir uma voz que lhe disse, suave e gentilmente: “Que D’us esteja contigo, estrangeira!”

Ruth retribuiu a gentil saudação. E ficou grata ao ouvir a mesma pessoa bondosa continuar: “Entra no campo! Não te acanhes! Recolhe algumas espigas, sacia tua fome!” Era o próprio Boaz, juiz de Israel naquele tempo e proprietário daquele campo, que assim se dirigia a Ruth. Ela agradeceu e colheu algumas espigas.

Estava prestes a partir, quando a mesma voz gentil lhe disse para permanecer ali mais um pouco e recolher o que os segadores haviam abandonado pelos cantos do campo, como peá. “O que é peá?” – perguntou Ruth. “A Torá nos diz; que, quando o dono de um campo já apanhou sua colheita, deve deixar um canto para os pobres, os necessitados e os estrangeiros, a fim de que venham e colham eles mesmos” – respondeu Boaz. “Que maravilha!” – exclamou Ruth.
Ela ficou ali, colheu o trigo de um canto do campo, e preparou-se novamente para partir. “Ainda não precisas partir” – sugeriu Boaz. “Por que não ficas e te beneficias do leket?”

“O que significa leket?” – perguntou novamente Ruth. “De acordo com a Torá, se um segador deixa de cortar alguma plantação com sua foice, não lhe é permitido voltar. Deve abandonar o que esqueceu de cortar, ou que deixou cair, e este deve ser deixado atrás como respiga para os pobres e estrangeiros” – explicou pacientemente Boaz. Ruth não disse nada, mas não via razão para recusar e se beneficiar das leis da Torá, as quais ela havia incorporado. Depois de encher todo um cesto, ela foi a Boaz e agradeceu-lhe sinceramente por sua bondade e preparou-se para partir.

“Ainda não precisas ir” – persuadiu-a Boaz. “Ainda podes vegar a shichechá”. “A Torá é realmente infinita em sua preocupação com os menos afortunados” – disse Ruth. “Agora, por favor, diga-me o que é shichechá?”
“Quando o dono de um campo está levando sua carga aos celeiros, pode acontecer que ele tenha esquecido alguns fardos no campo. A Torá o proíbe de voltar e recolhê-los, pois ele deve deixar esses fardos esquecidos para os pobres, as viúvas, os órfãos e os estrangeiros.”

Ruth estava muito feliz com sua boa sorte. Já havia recolhido mais do que poderia carregar. Ela e Naomi estavam agora bem-providas por um bom tempo. Mais uma vez, agradeceu a Boaz, e prometeu voltar. Ruth estava muito contente quando voltou e contou para sua sogra o que lhe havia acontecido nos campos de Boaz. Naomi ficou feliz pelo fato de Ruth ter sido tão bem-sucedida e por ter encontrado favor aos olhos de Boaz, o nobre proprietário das terras. Contou a ela que Boaz era parente de Elimelech. Nesse meio-tempo, Boaz havia inquirido sobre a estrangeira que passou por seu campo e descobriu que ela era a nora enviuvada de Naomi. Quando Boaz pediu Ruth em casamento, Naomi insistiu para que aceitasse. Ruth foi inesperadamente recompensada com riqueza e felicidade.

Ruth e Boaz tiveram um filho chamado Oved. Este, por sua vez, foi pai de Yishai. O filho mais jovem de Yishai foi David, ungido por D’us e amado rei de Israel. Mashiach (Messias) será seu descendente. [2]

III. … Os Dez Mandamentos – Os Dez Mandamentos são o ponto central da leitura da Torá no primeiro dia de Shavuot. Na Revelação no Monte Sinai, todo o povo judeu de aproximadamente 2,5 milhões de pessoas escutou D’us “falar” os dez mandamentos. D’us também gravou os Dez Mandamentos em tábuas de pedra, e Moshe as trouxe do Monte Sinai no dia 17 de Tamuz, mas as quebrou ao ver o Bezerro de Ouro. Posteriormente, D’us ordenou Moshe a gravar os Dez Mandamentos em tábuas novas e as levou ao povo judeu em Iom Kipur.

…. Quais São os Dez Mandamentos? Shemot (Êxodo) 20:2-14 – Os Dez Mandamentos.
1. Eu sou o Eterno, o teu D’us que te tirou da terra do Egito.

2. Não tenha outros deuses além de Mim.

3. Não pronuncie o Nome do Eterno, o teu D’us em vão.

4. Lembre-se do dia de Shabat para santificá-lo.

5. Honre o teu pai e a tua mãe.

6. Não mate.

7. Não cometa adultério.

8. Não roube.

9. Não preste falso testemunho.

10. Não cobice.

Embora muitos destes mandamentos sejam óbvios (ao menos em um nível superficial), convém esclarecer alguns pontos, de modo que nós possamos ter uma compreensão básica de todos eles. O primeiro mandamento em especial requer uma certa explicação. À primeira vista, parece ser uma declaração de um fato e não um mandamento de modo algum. No entanto, os nossos Sábios explicam que esta declaração é, na verdade, uma mitzvá: a mitzvá de acreditar em D’us. [3]
Fontes:
[1] Morasha, 29 Iyyar 5780 | 23 Maio 2020: http://www.morasha.com.br/nossas-festas/shavuot/historia.html
[2] Chabad: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1538382/jewish/A-Histria-de-Ruth.htm
[3] Morasha: https://www.yumpu.com/pt/document/view/12881329/shavuot-ii-morasha-syllabus
Coordenador: Saul Stuart Gefter 06 de Sivan de 5780 – 29 de Maio de 2020

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