HEBRAICO, O IDIOMA SAGRADO (5780) – Estudo para 1º de maio de 2020 – 07 de Iyar de 5780

I. Por Que o Hebraico é Chamado Lashon Hakodesh, O Idioma Sagrado? Por Rav Yehuda Shurpin

A linguagem hebraica é extremamente potente. A Torá nos diz que até o incidente da Torre de Babel, toda a humanidade falava o mesmo idioma: o hebraico bíblico. Na verdade, o poder do Idioma Sagrado foi o que impeliu o sucesso inicial dos construtores da torre. Para detê-los, D’us “confundiu” seus idiomas, e nasceram as muitas línguas diversas. O que torna essa linguagem sagrada?

A Linguagem da Criação – No livro de Bereshit lemos como D’us criou o mundo: “D’us disse: ‘Que haja luz,’ e houve luz. Isso não foi simplesmente retórica; essas palavras continham a energia Divina que criou a luz. A Torá descreve dez frases assim – Dez Pronunciamentos através dos quais o mundo foi criado. Tudo que existe foi criado através da energia dentro dessas palavras hebraicas. Os cabalistas explicam que ao contrário da fala humana – que uma vez falada se vai – a “fala” de D’us é eterna, conforme consta nos Salmos “Para sempre, ó D’us, Tua palavra permanece nos céus.” Assim os Dez Pronunciamentos ainda estão nos céus, constantemente recriando e energizando o mundo. Como tudo é criado através de palavras, o nome hebraico de um objeto expressa a própria energia que lhe dá existência. É por isso que foi Adam que nomeou os animais, pois foi preciso grande sabedoria para poder entender o caráter de cada animal e dar-lhe seu verdadeiro nome.

Linguagem Limpa – Maimônides, em seu Guia Para os Perplexos, explica que o hebraico é sagrado porque não nomeia explicitamente partes privadas do corpo e atos: “O hebraico não tem nome especial para os órgãos reprodutores em mulheres ou homens, nem para o ato de procriação, nem para sêmen, nem para excreção. O léxico hebraico não tem termos originais para essas coisas, e as descreve somente através de alusão figurativa e pistas…”
A Linguagem da Profecia – Nachmanides discorda da opinião de Maimônides, declarando que um idioma não pode ser definido como sagrado simplesmente porque omite palavras aparentemente vulgares – palavras, ele argumenta, que não são vulgares de maneira alguma, porque a sexualidade é na verdade sagrada se as intenções da pessoa são puras. Nachmanides é da opinião de que o hebraico é inerentemente sagrado porque é a linguagem pela qual D’us comunicou os Dez Mandamentos e a Torá no Monte Sinai, é o meio para Sua comunicação com profetas, e é a linguagem dos nomes de D’us e Seus anjos.

O Dilema – Chegamos agora a um dilema. Por um lado, Maimônides aponta, atos sexuais e órgãos não têm nomes hebraicos porque são aparentemente vulgares. Por outro lado, como tudo neste mundo existe somente por causa da energia dentro de seu nome hebraico, eles devem ter nomes hebraicos – o que significa que devem ser sagrados, como Nachmanides acredita. O Rebe resolve este dilema mergulhando mais fundo nas meditações sobre realidade pré-pecado e realidade pós-pecado. Antes do pecado da Árvore do Conhecimento, atos e órgãos sexuais eram como quaisquer outros atos e órgãos, e certamente havia nomes para eles no Idioma Sagrado. Mas depois do pecado, Adam e Chava se tornaram cônscios da sua sensualidade, e essas ações e órgãos se tornaram inextricavelmente ligados a luxúria. Portanto não sabemos seus nomes, porque sua santidade está além de nós. (Interessantemente, a explicação do Rebe junta as opiniões de Nachmanides e Maimônides, pois ambos são da opinião de que a sexualidade pode ser sagrada ou profana dependendo do contexto.)

Energia Espiritual Única – Rabi Yeshayah ha-Levi Horowitz, conhecido como o Shaloh, afirma que as palavras e letras de outros idiomas foram escolhidas arbitrariamente pelo homem. No Idioma Sagrado, porém, há significado no nome, forma e som de cada letra, cada qual aludindo a energia espiritual e atributos únicos.

Eu Deveria Falar Hebraico? Nossos sábios nos dizem que aquele que mora na terra de Israel, come num estado de pureza ritual, fala no Idioma Sagrado, e recita o Shemá toda manhã e noite tem garantida uma porção no mundo vindouro. Além disso, o Zohar declara que quando falamos no idioma sagrado, a Shechiná (Presença Divina) habita entre nós. Por outro lado, é exatamente por causa da santidade do idioma que muitos o reservaram como uma linguagem especial para ser usada somente para estudo de Torá e prece. Mas tão importante como é falar, rezar e estudar em hebraico, é muito mais importante compreender realmente o que você está dizendo e aprendendo. É por este motivo que o Talmud foi escrito em aramaico. E é por esta razão que, apesar de tudo que dissemos, se alguém não entende hebraico, deveria rezar no idioma que compreende. [1]

II. Qual a diferença básica entre o hebraico e os outros idiomas? Por que o hebraico é chamado de língua sagrada? História Judaica, Torá e Judaísmo

As línguas em geral, são todas convencionais e isso permite ver o hebraico e os outros idiomas de um ângulo bem interessante.

A princípio, a convencionalidade dos idiomas permite ver que homens se reuniram, observaram, analisaram e concluíram que, por exemplo, o lugar sobre o qual comemos chamar-se-ia “mesa”; o objeto com o qual escrevemos, “caneta”, e assim por diante.

Estas são as denominações que foram dadas pelos homens de forma convencional, criando e formando, deste modo, os diversos idiomas.

O hebraico, no entanto, é a língua com a qual a Torá nos foi outorgada e, mais ainda, de acordo com nossa tradição, foi o idioma com o qual D’us criou o mundo e com o qual conversava com Adão, o primeiro homem. E, até a Torre de Babel, até aquela geração, o mundo, a humanidade, apenas falava o hebraico.

O hebraico não é uma língua convencional, podemos compará-lo a uma pedra, enquanto que os outros idiomas são parecidos com tijolos, obras humanas. É por isso que no hebraico encontramos uma extraordinária riqueza de minúcias. Cada palavra tem diversos significados.

Uma diferença entre o hebraico e os outros idiomas é a vitalidade – Constatamos uma ocorrência interessante: quando se traduz o hebraico para uma outra língua, precisa-se, pois, o dobro de espaço.

Em todas as línguas, se pegarmos as letras de uma mesma palavra e mudarmos a ordem, não necessariamente irão formar novas palavras. Assim, se elas formarem novas palavras, talvez não tenham um significado.

O hebraico, uma língua especial, não apenas define um objeto, mas representa as características dos objetos, a vitalidade. Ele determina o fluxo vital divino que passa para aquele objeto. Aqui fica mais claro ver que o hebraico e os outros idiomas apresentam uma distinção clara.

Este é também o motivo pelo qual quando alguém está doente, acrescentamos um nome hebraico ao nome da pessoa. isto visa dar-lhe um acréscimo de vitalidade.

No hebraico constatamos que, mudando a ordem das letras, formamos palavras que, muitas vezes, têm significados opostos ou uma explicação. Pode haver ainda um comentário da palavra anterior.

Por exemplo, em hebraico, amigo é chaver. Se mudarmos a ordem, constitui-se a palavra cherev que é espada, o contrário de amizade.

Temos, por exemplo, em hebraico a palavra raav, fome. Invertendo as letras formamos a palavra arev, gostoso. Tsará é uma aflição; invertendo-se as letras temos tsohar, que é claridade, luminosidade. Shabat é “dia de descanso”, alegria; invertendo-se apenas uma letra da palavra Shabat temos boshet, vergonha. Estudamos em memória de uma pessoa falecida uma mishná, uma lei oral, e se você inverte esta palavra forma a palavra neshamá, alma.

Outros valores encontrados na língua hebraica – Assim, também em hebraico, temos valores numéricos, substituições de palavras, combinações de letras, coisas incríveis que resultam em uma ciência completa que acompanha nossa língua sagrada. Só a título de exemplo, recebemos a Torá de Moshé Rabeinu. As letras desta palavra somam 613, que é o número das mitsvot. Agora, a palavra Torá sozinha tem valor numérico de 611, porque foram apenas 611 que Moshé nos deu. Duas foram pronunciadas por D’us imediatamente na hora da outorga no Sinai. Quantos são os dias da gravidez? Pegamos a palavra gravidez em hebraico herayon. Observando o valor numérico teremos o resultado 271, que são exatamente os 9 meses de gravidez. Assim, temos muitas coisas interessantes e muitos e muitos milagres na língua hebraica.

Cada letra na língua hebraica é chamada de “ot”, que também significa “milagre”. Ou seja, é uma língua que realmente é uma obra divina e que pela sua santidade é denominada, até pelas outras nações, de “a língua sagrada”. (Matéria publicada na Revista Morashá em dezembro de 1996) [2]

III. Dez Fatos Sobre o Idioma Hebraico que Todo Judeu Deveria Saber – Por Rav Menachem Posner

1 – Hebraico é o idioma sagrado – O hebraico é tradicionalmente mencionado como Lashon Hakodesh (O Idioma Sagrado). Por quê? Maimônides diz que é porque o idioma não tem palavras para descrever palavras obscenas e partes privadas do corpo. Nachmanides, porém, diz que é porque esta é a linguagem que D’us usou para comunicar Sua vontade por meio dos profetas.

2 – Hebraico é a linguagem da Bíblia – Quase – A grande maioria da Bíblia Hebraica (Tanach) está escrita em hebraico. (Alguns dos últimos livros da Bíblia, Daniel e Ezra, contêm importantes partes em aramaico, a língua falada pelo povo judeu durante seu exílio na Babilônia.)

3 – Você pode dizer “sim” em hebraico? O hebraico evoluiu no decorrer do tempo. No hebraico moderno, (Ivrit) ló é “não” e Kén é “sim”. No hebraico mishnaico (que era usado há cerca de 2.000 anos), a palavra para “sim” era hen. E voltando à Bíblia Hebraica, não parece que ali havia qualquer palavra para “sim”. Em seu contexto bíblico, Ken significa “perfeito” ou “completo”, pois como não há paz, nenhuma é completa e nenhuma pode ter conteúdo.

4 – Shalom significa mais do que apenas Paz em hebraico – Talvez a palavra mais bem conhecida em hebraico hoje seja shalom, que significa paz. Porém, a palavra significa muito mais que isso. Pode ser usada pra “alô” e “até logo” e tem também outros significados. Uma forma ligeiramente modificada, shalem, significa “perfeito” ou “completo’, pois desde que não haja paz, ninguém está completo e ninguém pode estar FELIZ.

5 – Sotaques Hebraicos Importam – Voltando aos tempos antigos, sempre tem havido dialetos variados do hebraico. Na verdade, a Bíblia relata que o povo de EFraim não podia dizer o “sh” na palavra shibolet (feixe), dizendo em seu lugar “sibolet”. Assim, numa época em que Efraim estava em guerra com o restante de Israel, aquele que não podia pronunciar a palavra era identificado como um efraimita.1 Nos séculos mais recentes, algumas comunidades judaicas em Lita (Lituânia Judaica) também não podiam dizer “h” e portanto se referiam a “Sabos” (Shabat). “Smuel” (Shmuel), etc.

E esta é apenas uma pequena diferença que deixa de lado algumas poucas comunidades. Há muitas mais trocando diferenças que tornam a mesma palavra quase irreconhecível. Por exemplo, um sefaradita pode se referir ao feriado de demanda-CASACO, um askenazita pode se referir a DOENTE-beijo ou beijo-DEMANDA (há muitos sub-dialetos em askenazi e sefaradi). No entanto, sob a superfície dessas diferenças fáceis de identificar, é a mesma palavra e a linguagem escrita é idêntica.

6 – Uma Palavra Hebraica = 5 Palavras Inglesas – Palavras hebraicas são formadas por palavras radicais com 2 ou 3 letras às quais prefixos e sufixos podem ser adicionados. Assim, uma palavra hebraica com vários prefixos e sufixos podem igualmente transmitir aquilo que 5 palavras em inglês iriam transmitir. Por exemplo, Veiotsihanu ignifica “e ele nos tirou”. Por este motivo, como qualquer tradutor hebraico-inglês pode lhe dizer, várias centenas de palavras em hebraico com frequência se transformam em milhares quando traduzidas para o inglês.

7. Hebriaco, a linguagem da Reza – A prece é uma grande parte da vida judaica. Rezamos três vezes num dia regular, quatro vezes no Shabat e feriados, e cinco vezes em Yom Kipur. A parte principal dessas preces é em hebraico. É por isso que crianças judias com frequência são ensinadas a ler em hebraico antes mesmo de poderem entender o idioma (note que os sábios nos aconselham a ensinar compreensão em hebraico primeiro).

8 – As vogais hebraicas – As 22 letras do alfabeto hebraico são todas consoantes. Assim, o leitor faz uso de um sistema de pingos e pontinhos (chamados nekudot), que cercam as letras e fornecem a necessária vocalização. Essas nekudot são um padrão no livro de preces e outros textos básicos. Porém, nem a Torá nem o Talmud (nem a maior parte da literatura hebraica) tem nekudot. Então como são entendidas? É como andar de bicicleta sem rodas de treinamento. Você precisa apenas se acostumar.

9 – O Mais Notável (Quase) Renascimento do Hebraico – No final do Século 19, líderes sionistas decidiram “reviver” o idioma hebraico (que não tinha sido usado comumente na fala diária durante mais de 1.000 anos) para tornar-se o idioma oficial na Terra de Israel. Para fazê-lo, eles pesquisaram a Bíblia e o Talmud para precedentes enquanto procuravam encontrar palavras para popularizar sua nova linguagem. Eles conseguiram criar o Hebraico Moderno, um feito sem igual na história da civilização. No entanto, o idioma é bastante diferente do Hebraico Bíblico em sintaxe e pronúncia (que é um híbrido simplificado de askenazita e sefaradita), e muitos afirmam que o novo idioma não é o mesmo que Lashon Hakodesh, o Idioma Sagrado.

10 – Hebraico é o Idioma da Criação – Lemos em Bereshit 1 que D’us falou 10 pronunciamentos e criou o mundo. Esses foram ditos em hebraico. Assim, as letras e palavras do idioma hebraico são os conduítes através dos quais a pura energia Divina foi canalizada em todo aspecto da criação que vemos hoje. Até agora, dizem os cabalistas, D’us recria constantemente o mundo de novo, e cada criação recebe sua vitalidade através de seu nome hebraico. [3]

Fontes: [1] Chabad: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/4351001/jewish/Por-Que-o-Hebraico-Chamado-Lashon-Hakodesh-O-Idioma-Sagrado.htm
[2] Chabad: https://legalsaber.com.br/o-hebraico-e-os-outros-idiomas/
[3] https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/4083895/jewish/Dez-Fatos-Sobre-o-Idioma-Hebraico-que-Todo-Judeu-Deveria-Saber.htm
Coordenador: Saul Stuart Gefter 07 de Iyar de 5780. – 1º de maio de 2020

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