CASAMENTO JUDAICO (Parte 2, 5779)- 21 de junho de 2019 – 18 de Sivan de 5779

I. Casamento Judaico – Sefaradita – Por Esther Goldberger

Estas sao algumas das tradições mais populares de um casamento ortodoxo Sefaradita. Ha muitos outros costumes e tradições, mas jah que sao restritos pequenos grupos, preferi nao pesquisa-los a fundo. Penso em futuramente traduzir alguns costumes, principalmente os esquecidos/extintos das comunidades Espano-Portuguesas.

HENNA – A maioria dos casais Sefaraditas (provenientes da Peninsula Iberica), Mizrahi (provenientes de paises árabes) e outras comunidades judaicas não-ashkenazitas fazem a henna antes da cerimônia de casamento. A henna pode ser feita 1 semana, alguns dias ou ateh mesmo no dia do casamento, durante a festa. Hoje em dia as hennas marroquinas e yemenitas sao as mais populares e copiadas por casais de comunidades não-ashkenazitas menores. Isso acontece porque muitas dessas comunidades menores perderam (se esqueceram, deixaram de lado… esses jovens, … sempre abandonando a tradição de seus avos e querendo se adaptar a cidade grande…) suas tradições regionais. A henna eh uma festa de noivado? … . Pintar partes do corpo com henna em ocasiões festivas eh uma pratica comum no Oriente Médio, Norte da África, Índia e outros países asiáticos. Judeus usam a henna por milhares de anos. … . Usar henna não tem nada a ver com religião, eh um aspecto totalmente cultural. Mas como sempre achamos espiritualidade em tudo, a palavra “henna” em Hebraico possui as iniciais das 3 mitzvot femininas: “chet” para challah, “nun” para nidah (pureza familiar), e “hei” para hadlakat nerot, acender as velas (de Shabbat). Na verdade, a henna eh usada para celebrar varias ocasiões especiais como nascimentos, ritos de passagem (bar mitzva), casamentos e outras ocasiões festivas. No casamento, pintar o corpo com henna engana os “demônios” e o “mau olhado” pois jah que os noivos estão pintados, tais forcas negativas não os reconhecerão (eu sei, eu sei… mas cultura eh cultura, neh?), traz fertilidade e boa sorte ao casal, boa sorte aos participantes da festa e uma infinidade de motivos. Entao eh por isso que fazemos a henna antes ou durante a festa de casamento! Para atrair tudo quanto eh energia positiva para o novo casal e os convidados! Hennas podem ser feitas em casa, com a família e amigos próximos ou em salões de festa. Alguns casais fazem suas hennas tao luxuosas quanto a festa de casamento em si.

É como se fossem duas festas de casamento… eu nunca perguntei o preço. Soh fui em 2 hennas até hoje e só parabenizei os pais dos noivos sem jamais questionar valores … .

Hennas marroquinas são celebradas de uma maneira, yemenitas de outra (lindissimo!!!!), e a assim por diante. Cada grupo de judeus celebrarah a henna de acordo com a cultura do pais onde viveram.

No geral, quando a festa está perto do final a avó ou mãe ou da noiva pega um container com a henna (parece uma massa escura) e passa nas mãos dos noivos (pontas dos dedos, palma, as vezes ateh nos pés, isso depende do costume de cada família). Esse momento de trazer a henna para os noivos eh muito importante. Há muito canto, muita concentração, muita alegria. Algumas famílias tem o costume de que algumas mulheres mais idosas venham a frente da que está trazendo a … henna, tocando tambores e cantando. Alguma mulher próxima a noiva (família ou amiga) passa a henna na palma das mãos das convidadas. Sim, ateh onde eu vi, soh mulheres fazem fila para receber um pouco de henna. … Henna eh realmente uma coisa de mulher? O que vi em uma dessas hennas foi que os noivos colocaram luvas transparentes para receber a henna em suas mãos. Muito lógico isso!!! Por que? Pq a henna eh um colorante que fica vários dias na pele.

Muitos noivos celebram suas hennas poucos dias antes do casamento, ou seja… durante a cerimônia, o noivo vai pegar o anel de casamento com os dedos escuros e colocará tal anel nos dedos pintados da noiva… algumas hennas deixam uma marca amarela, outras alaranjada e outras um tom quase negro. Algumas noivas querem evitar isso para as fotos de casamento, então luvas! A mãe (ou mulheres da família) da noiva a alimentam com pratos típicos, geralmente feitos com mel, amêndoas (não pode entrar nada amargo nessa lista), azeitonas, etc. Há muita, mas muita musica e dança durante uma henna. Seja de CD (festas familiares) ou com cantores ao vivo, a musica eh sempre muito alegre.

Algumas hennas tem dançarinas de dança do ventre, outras tem tambores, tudo depende do gosto e da condição financeira da família. As noivas mudam de roupas 3 vezes (eu contei ateh 3) mas eu não sei o motivo, tvz para ajudar a noiva a enganar o “mau olhado”? No inicio, ambos os noivos vestem o kaftan (vestido bem largo com mangas largas), depois, o noivo pode continuar com seu kaftan, mas a noiva sempre troca de roupa. As roupas da noiva são típicas da cultura do pais de onde sua família se origina. Em Israel, como eu tava sempre tentando me aproximar dos Sefaraditas (que pra mim constituiam o mistério final do Judaísmo …) uma senhora me disse que “antigamente” alguns grupos de mizrahi (judeus-árabes) celebravam 2 noites de henna na semana antes do casamento. Uma no meio da semana e outra em motzei Shabbat. Hoje em dia, ninguém faz mais isso.

Só uma henna e pronto. E as “tatuagens” bonitas, quem faz? Agora sim vamos ao detalhe que me encafifou muito: a primeira vez que fui em uma henna, estava esperando sair de lah com uma “tatuagem” linda, mas soh recebi um montinho de henna na palma da minha mão… o que me decepcionou (…). … Então… quando fui na segunda henna, vi que estavam fazendo a mesma coisa e perguntei “Cadê as obras de arte em henna que eu vejo no Google?” Ai veio a explicação: tais “tatuagens artísticas” são feitas por profissionais contratados e não tem nada a ver com os costumes dos judeus sefaraditas/mizrahim. Fazer desenhos elaborados com henna eh um costume proveniente da India, veja bem… nao tem nada a ver com Oriente Médio. Dai, o povo do Oriente Médio viu o que os Indianos podiam fazer e… Nestes casos, os noivos contratam um(a) artista de henna para entreter seus convidados. Mas na maioria das vezes, nao contratam estes profissionais. … Me disseram que eh raro ter um artista em hennas de casamento, pois a maioria das noivas querem perpetuar a tradicao de suas avos e bisavós.

Não ha troca de anéis ou entrega de um anel para a noiva durante a henna. Mas nada impede que uma noiva mais moderna receba o anel de noivado do noivo ou da mãe dele, sem testemunhas, como acontece no vort. A festa termina muito festiva e os noivos voltam para a casa dos pais, onde aguardarão as outras tradições que tomam parte antes da cerimonia de casamento. Hoje em dia em Israel, tem-se tornado mais comum ver jovens ashkenazitas participando ou fazendo uma festa de henna antes de seus casamentos. Se o noivo for sefaradita e a noiva ashkenazita, ha uma grande chance de que haverá uma henna. Quando isso acontece eh tipo… o encontro de dois universos! Sim, no Judaismo os casamentos são como maratonas! Por isso eh quase impossível achar todas as tradições em um único site ou livro. Mas de tradição em tradição, …!

1. Vídeo de uma henna mais moderna: https://www.youtube.com/watch?v=RJCvxlRX3s8

2. Um vídeo bem amador que dá realmente a impressão de como a gente se sente no meio de uma festa dessas: https://www.youtube.com/watch?v=Q8GX7W0xdOY

3. E um video p/ fazer qqr antropólogo chorar de emoção: uma henna yemenita com direito a procissão de henna e avó da noiva cantando lah pros 3 minutos do vídeo e depois colocando a henna nas mãos do casal e os abençoando: https://www.youtube.com/watch?v=rOJYCtrSSq0

4. E uma henna super luxuosa com minha musica marroquina favorita: https://www.youtube.com/watch?v=aOeNRw65_Vc

Nota importante: a henna praticada por comunidades judaicas do oriente médio influenciou as comunidades espano-portuguesas que se viram forçadas a mudar p/ o Marrocos, Tunísia e demais países devido a Inquisição, e terminaram por adotar esta tradição.

SHABBAT ANTES DO CASAMENTO – No geral (pois costumes sefaraditas mudam muito de família para família) não há o aufruf para o noivo no Shabbat antes do casamento, mas no Shabbat DEPOIS do casamento, onde o noivo é chamado para a alyiah a Torá e se ele puder ler Hebraico, para ler a haftará. No entanto, o Shabbat antes do casamento é uma data muito especial para as famílias dos noivos. Então se eles moram perto, as duas famílias podem se reunir para as refeições de Shabbat ou… eles podem simplesmente fazer sua “festa“ individualmente: a família do noivo chama todos os seus familiares e amigos do noivo para as refeições em sua casa e ao mesmo tempo, a família da noiva faz o mesmo na casa deles, convidando familiares e amigas dela para que ela também tenha o Shabbat Kallah. Noivos e noivas Sefaraditas se vêem na semana antes do casamento.

DIA DO CASAMENTO – Ha tantas tradições Sefaraditas que seria impossível registra-las … . Devido a essa grande variação de tradições, se voce for Sefaradita, o que vou descrever a seguir provavelmente eh diferente do que voce possa ter visto em sua familia. Com o passar dos anos, muitos Sefaraditas tem abandonado sua tradições e adotado as Ashkenazitas. . . .

ANTES DA CERIMÔNIA – O dia do casamento eh considerado o dia mais feliz na vida do noivo e noiva, e por isso, eles nao jejuam. Noivos e noivas podem se ver e conversar na semana do casamento e ateh antes da cerimônia, o que cria um senso de conexão entre eles e suas famílias. Nota pessoal: o fato de que os noivos se veem antes da cerimônia indiretamente ajuda os convidados.

Em casamentos ortodoxos Ashkenazitas os noivos soh podem tirar fotos juntos depois da huppah… e alem das fotos juntos, eles tbm tem que tirar fotos com suas famílias… e enquanto isso, os convidados ficam esperando de 1 a 2 horas para o inicio da festa. …

KABALLAT PANIM – Não há tish, jah que noivo e noiva podem se ver antes da cerimônia. Algumas famílias fazem o kabbalat panim, com o objetivo de socialização entre convidados e fotos (assim os noivos não precisam tirar fotos com suas famílias depois da huppah), mas há familias que discordam da ideia de servir esse coquetel e os convidados vao direto para o local onde está a huppah para aguardar o inicio da cerimônia. Para as famìlias que fazem kabbalat panim, uma refeição leve eh servida aos noivos e suas famílias, onde há preferência por pratos doces. Sabores amargos, apimentados ou muito fortes são evitados.

BEDEKEN (COBRIR O ROSTO DA NOIVA COM UM VEU) – Não há bedeken no casamento Sefaradita. Durante o bedeken Ashkenaz, o noivo vem a sala onde a noiva está, confere se eh a noiva certa (para evitar o que aconteceu com Yaakov que se casou com Leah em vez de Raquel), cobre o rosto da noiva e vai embora, a fim de espera-la na huppah. A noiva vem com o rosto coberto e a cerimônia eh iniciada (com o rosto dela ainda coberto). Em algumas comunidades Ashkenazitas, o rosto da noiva eh descoberto durante a primeira benção da hatunah (cerimonia de casamento), mas em outras comunidades, ela permanece com o veu durante TODA a cerimônia.

Assim sendo… seguindo o pensamento lógico sefaradita (…) e se a noiva for trocada por outra mulher entre a bedeken e a huppah? O noivo ashkenaz teria uma grande surpresa no final da cerimônia, quando finalmente descobrisse o rosto de sua amada. E para evitar tal surpresa… a lógica da tradição Sefaradita ensina que a noiva vai a huppah com o rosto coberto (geralmente a mâe ou avó cobre o rosto dela), e o noivo descobre o rosto de sua amada assim que ela chega a huppah, ANTES do inicio da cerimônia. Em muitos casos, a noiva sefaradita vai a huppah com o rosto descoberto, e quando chega lá, o noivo o cobre para o inicio da cerimônia e o descobre quando chega a hora do kedushim (benção sobre o vinho). Como disse anteriormente, há uma grande variação dos costumes sefaraditas… cada família segue sua própria tradição.

ASSINATURA DA KETUBAH – Não há assinatura do tennaim (documento de noivado), soh da ketubah. Em muitas comunidades, a assinatura da ketubah (documento de casamento) se dá sob a huppah. Em outras, a assinatura da ketubah acontece antes da cerimônia, em uma sala onde o rabino, noivos, seus pais e testemunhas se encontram. A ketubah sefaradita possui informação escrita diferente das ketubot ashkenazitas. Nao ha quebra de pratos entre as maes dos noivos, jah que este eh um costume europeu.

HATUNNAH (Cerimônia de Casamento) – A huppah sefaradita tem que ser feita dentro da sinagoga ou em outro local fechado (ao contrario dos ashkenazitas que acreditam que na huppah a ceu aberto). Preferencialmente a huppah e feita dentro da sinagoga, em frente ao Heichal, que é o lugar onde a Torah fica guardada. Ashkenazitas chamam este local de Aron Kodesh. Alguns dizem (…) que a cerimonia tem que ser feita dentro da sinagoga para manter o recato do casal… pois cerimônias a céu aberto podem ser vistas por todos que passam pelo local, convidados ou não. O noivo aguarda a noiva sob a huppah, e a noiva vem em sua direção, acompanhada de seus pais, um de cada lado.

Eles não seguram velas, e a noiva pode ou nao estar segurando um bouquet de flores. Não há as 7 voltas ao redor do noivo, em vez disso, a noiva e seus pais param alguns metros antes da huppah, dai o noivo vem encontra-la, cumprimenta os sogros, toma a mão de sua amada e volta para a huppah com ela. Os pais da noiva seguem para o lado da huppah, para a companhia dos demais familiares. Devido a ignorância de suas próprias tradições somados a influencia de amigos ashkenazitas, vemos as ‘7 voltas’ em muitos (pra nao falar maioria) dos casamentos sefaraditas. O noivo recebe um tallit novo, que pode ter sido dado por seus sogros, por sua noiva ou de seus próprios pais, e recita a benção Shecheheianu. Geralmente, noivo e noiva se posicionam encarando a congregação e o rabino fica de costas para a congregação, assim todos os convidados podem ver o rosto do feliz casal.

A cerimônia procede, e em caso a ketubah seja lida sob a huppah, as testemunhas vem assina-la. A ketubah sefaradita tem mais conteúdo escrito que a ashkenazita, jah que funciona como um contrato entre as famílias. O noivo coloca o anel no dedo indicador da noiva, como é feito na tradição Ashkenaz. Perto do final da cerimônia, o Heichal (Aron Kodesh) é aberto, o noivo cobre a si e a sua noiva com o talit, os dois se aproximam do Sefer Torah e rezam. Eh um momento muito bonito. Quando a cerimônia se encerra, o noivo quebra o vidro e todos dizem ‘Mazal Tov!” em voz alta.

DEPOIS DA CERIMÔNIA -não há ‘sala de yichud’ depois da hatunah. Os noivos vao da huppah direto para a festa. Na verdade, rabinos sefaraditas zelosos por sua tradição condenam veementemente este costume ashkenaz, pois dizem que ele fere o recato do casal.

DURANTE E APÓS A REFEIÇÃO – A benção hamotzi é recitada e a refeição se inicia. Assim como nas festas ashkenazitas, há muita musica e danças entre um curso da refeição e outro. Em algumas famílias, os pais dos noivos se aproximam deles e os cobrem com um talit após a refeição, para a primeira sheva brachot (sete bençãos ditas após o birkat hamazon). Alguns casais preferem fazer a cerimónia da henna DURANTE a festa de casamento. É comum ver mulheres segurando cestas de doces rodeando a noiva, lhe desejando uma vida …doce (simples, nao?).

Dependendo da tradicao familiar (e do rabino), após a refeição, quando muitos dos convidados já se retiraram, o casal será encaminhado a sala de yichud, para que lá permaneçam por 15 minutos. Muitos rabinos acham essa tradição repugnante e aconselham os noivos a não pratica-la. (…). Estes rabinos (entre eles, o rabino chefe Sefaradita de Israel, Yitzhak Yossef) nos ensinam que os noivos são considerados marido e mulher no momento que o noivo cobre a noiva com seu talit, durante a cerimônia, quando os dois se colocam em frente ao Aron Kodesh e jamais devem ser encaminhados a uma sala de yichud.

SHABBAT DEPOIS DO CASAMENTO – O aufruf do noivo eh celebrado na sinagoga, onde ele é chamado para ler um trecho da Torah, onde Avraham envia seu servo Eliezer, para encontrar uma noiva para Yitzchak. O noivo também pode ler um trecho da parasha da semana ou a haftarah. No final do servico religioso, a familia dos noivos podem sponsorar um kidush (refeição leve) em honra de seus filhos e todos vem desejar mazal tov ao novo casal. [1]

II. Três questões sobre relacionamentos, adoção e casamento – O que significa a alma gêmeas? Para nós judeus, o casamento tem significado muito profundo. Trata-se do reencontro após 25 ou 30 anos de vida, de duas almas, duas metades que fazem parte do mesmo tronco. Assim, relacionamentos e casamento no judaísmo estão de certa forma interligados. Os nossos sábios nos ensinam que assim como D’us criou Eva da costela de Adão, ela era também, em termos espirituais, parte integrante dele. Antes do nascimento de cada menino e menina, suas almas já estão predestinadas a se encontrar.

Contudo, existe, obviamente, neste caso também, o livre arbítrio que irá prevalecer. Uma escolha errada poderá estragar ou modificar os planos traçados, antes de cada nascimento, por D’us. Mas, quando o casamento ocorre dentro das tradições conforme a lei de Moisés e Israel, neste momento são duas metades, almas gêmeas que se encontram. Entender a ideia de que cada ser sozinho é incompleto, é muito importante, pois dá a concepção correta de como um jovem deve-se preparar para enfrentar o casamento e a vida a dois. Aqui oque se compreende sobre relacionamentos e casamento no judaísmo começa a tomar forma.

Nossos sábios nos ensinam que para uma pessoa casar e ser feliz deve considerar-se apenas uma metade. Para um jovem conseguir a felicidade e harmonia no casamento deve ter sempre presente que ele precisa de alguém que possa completá-lo. Onipotencia, Não! Mas, se antes de casar alguém achar que nada lhe falta, que é perfeito, completo, ou seja que ele já é “um”, neste instante as coisas se complicam. Casando passaria a ser “um e meio”,algo sem dúvida desnecessário e problemático! O final será eventualmente desprezo do conjunto. Assim, nossos sábios nos ensinam um pouco sobre a felicidade no casamento: saber que você precisa de alguém que possa complementar o que lhe falta. A psicologia moderna não está em desacordo com as idéias judaicas.

Afirma que a pessoa nunca deve casar-se se está fraco ou deprimido. Nós judeus também acreditamos que a pessoa deve casar-se se está bem consigo mesmo. Mas este bem consigo implica em entender uma porção de coisas em relação a si mesmo e ao outro. Primeiramente, que ninguém é perfeito; todos temos nossos defeitos e limitações, assim como nossas qualidades. Em seguida, que cada um de nós é apenas uma metade e consequentemente este “estar bem” é só a metade daquilo que poderia vir a ser.

Pode acontecer que a esposa escolhida não seja a mulher mais perfeita ou a mais sábia, mas ela é a mulher ideal para ele, pois ela é metade dele. É possível também que o marido escolhido não seja o mais inteligente, nem o mais carinhoso, mas é o melhor marido para ela, pois ele é a metade dela. Veja como há interligação quando falamos de relacionamentos e casamento no judaísmo. Se cai a ficha, ok – Assim, no instante em que a pessoa se conscientiza disto, pode sem dúvida atingir a felicidade — tão procurada hoje em dia no casamento. O judaísmo não acredita na identificação do casal, que um tem que ser igual ao outro. Obviamente que têm que ter alguns pontos em comum e têm que ter afinidade e atração, mas não precisam ser idênticos! Importante notar que relacionamentos e casamento no judaísmo são consequentes e interligados. O Todo-Poderoso casou conosco no Monte Sinai. Ele é o Criador e nós somos as criaturas. Assim D’us nos ensina que no judaísmo o casamento significa complementação, um complementa o que o outro não tem. Um reforça e ajuda o outro, e ambos crescem juntos!

O judaismo permite a adoção de crianças? A adoção de uma criança nos moldes antigos, quando se recolhia uma criança órfã na casa de amigos ou familiares, não é apenas permitida, mas é uma grande mitsvá. Desta forma se estará dando a esta criança uma nova família, uma nova possibilidade de crescer, de se educar e ser feliz. Os nossos sábios dizem que grande recompensa existe para aquele que recolhe um órfão em sua casa.

Assim ele o educará e o considerará como seu filho. Mas, hoje em dia, quando falamos de adoção, nos referimos a outra coisa. Infelizmente, há pais que tentaram, pois, de várias formas (permitidas), mas não tiveram a possibilidade de gerar um filho próprio. Num caso similar, se o casal insiste em ter filhos, mesmo que estes não sejam biológicos, o judaísmo permite também este tipo de adoção. Mas num caso como este é importante ter em mente duas coisas: Primeiro, a grande maioria das crianças adotadas hoje não são crianças de fé judaica. Por isto, se um casal judeu resolver adotar uma destas crianças, terá que fazer sua conversão. Portanto, sem a conversão, feita por um tribunal rabínico competente reconhecido, a criança não poderá entrar dentro da aliança do judaísmo. Assim sendo continuará sendo não-judia.

Educação judaica validora – Por outro lado, a conversão só será válida se a criança receber uma educação judaica. Pela lei, a conversão pode ser feita numa idade tenra, pois até como bebê, todavia é importante que a criança que absorveu o judaísmo receba uma educação judaica autêntica: escola, shabat, alimentação casher e, assim por diante. Com 13 anos, de acordo com a nossa lei, esta criança ainda poderá optar e eventualmente recusar a continuar no judaísmo, ou continuar de forma adequada e automática.

Mas, a educação judaica autêntica para uma criança adotada é condição sine-qua-non. Em segundo lugar, no judaísmo é de extrema importância que os pais adotivos, na hora e idade certa, revelem à criança sua verdadeira identidade. Não pode-se ocultar de uma criança adotada, ou melhor, de ninguém, quem ela é e quem são seus verdadeiros pais. Uma atitude desta não seria nem ética e nem moral. A criança só poderá crescer, evoluir, se souber quem é, na realidade. Também existem restrições da lei sobre a intimidade da criança com os pais adotivos. Existe mais um motivo que obriga os pais a fazerem este tipo de revelação.

De acordo com a lei, se você não revela à criança sua verdadeira identidade, ela poderá acabar acidentalmente casando com um irmão, já que ela se considera filha de outras pessoas. E, para evitar uniões e casamentos proibidos, temos que contar a verdade, obviamente na hora certa.

Como o judaismo vé o casamento e o relacionamento sexual? Podemos dividir em duas correntes, opostas e antagônicas, as linhas de pensamentos ocidentais, não judaicos. Isso no que diz respeito à vida física e material, e ao relacionamento sexual em geral. A primeira corrente acredita que tudo que é relacionado ao físico, ao material e ou relacionamento sexual é pecaminoso. Mais além, diz que a vida atrapalha a evolução espiritual do homem. Portanto, por causa disto, o homem terá de ser abster de todo e qualquer prazer, se quiser atingir uma elevação espiritual. Podemos encontrar traços desta linha de pensamento na filosofia cristã.

Nela há ascetismo e abstinência, que estão sendo cada vez mais enfatizados. Alguns chegam até a se afastar completamente da vida cotidiana. Passam a viver em mosteiros longe das cidades, onde jejuam e vivem no celibato. Assim, abstém-se de qualquer prazer ou relacionamento físico. Existe uma outra corrente, completamente oposta, que valoriza extremamente o prazer físico, como se fazia na antiga Grécia. Segundo esta corrente, não existe nenhum tipo de espírito, alma, ou mundo vindouro. Por isso, então, o homem tem que aproveitar ao máximo a vida, já que é a única que ele terá. “Comemos e bebemos hoje, porque morreremos amanhã”. Esta única frase resume o pensamento de seus seguidores.

Eles conseguiram transformar o sexo em orgias. Permitem qualquer tipo de relacionamento, até aberrações e desvios, como sabemos ser praxe na Grécia e Roma antigas.

Visão Judaica segue o criador – O judaísmo difere de ambas as correntes. De um lado, não vê no mundo físico nenhuma contradição, nenhum obstáculo para chegar a D’us, já que o mundo material foi criado por Ele. Assim, os relacionamentos e casamento no judaísmo são absolutamente naturais dentro da finalidade Divina. Não será isto que nos impedirá de chegar a Ele. D’us criou o homem e a mulher e nós temos que viver neste mundo e transformá-lo num mundo melhor onde Ele possa morar. Por isto, o judaísmo não acredita em abstinência. Do outro lado pede-se aos judeus para santificar o relacionamento, porque isto, a relação sexual, desde que praticada entre marido e mulher, é algo extremamente elevado e sagrado.

Ressalte-se, pois, que os relacionamentos e casamento no judaísmo guardam estrita ligação. O próprio casamento se chama em hebraico Kidushin, que vem da palavra Kadosh — sagrado. O judaísmo acredita que o único compromisso verdadeiro é aquele feito sob a chupá, o pálio nupcial. Nenhum namoro, nenhum flerte, poderá complementar o que uma alma procura na outra alma gêmea. Somente o compromisso verdadeiro perante D’us. Por isto, o relacionamento sexual é permitido somente dentro do casamento, não antes e nem fora do mesmo. Assim, entendemos mais profundamente o papel dos relacionamentos e casamento no judaísmo.

O revigorar dos relacionamentos e casamento no judaismo – Mas o judaísmo encontrou um método extraordinário para manter e revigorar o relacionamento, mesmo anos depois do casamento, como se este fosse recente. A Torá nos ensina uma forma que permite que a esposa volte cada mês como se fosse uma noiva. Estas são as regras que existem dentro do relacionamento conjugal que nós chamamos as regras do Mikve, da pureza familiar.

Elas preconizam um período de abstinência, para mais tarde intensificar o amor físico. O grande problema que os casais de hoje enfrentam e nós o sabemos — infelizmente esta praga já penetrou dentro das nossas fileiras — é a falta de comunicação entre marido e mulher. O marido sai cedo para trabalhar, volta tarde, e literalmente “apaga”, exausto, diante da TV. A cidade, a correria, não permitem que haja uma suficiente comunicação, um diálogo entre o casal. Como consequência, o relacionamento físico entre o casal também fica prejudicado. É neste exato momento que entra a sabedoria do judaísmo. D’us nos ordena as leis acima mencionadas. Elas permitem que durante certos dias, o amor seja mais platônico, apenas uma troca de ideias, uma conversa. Isto, enfim e sem dúvida, intensifica muito mais o amor físico, permitindo uma relação conjugal saudável. Por isto, o judaísmo exige que se mantenha a pureza antes do casamento, de maneira que as experiências anteriores não atrapalhem esta união. É assim que D’us gostaria que fosse a mais feliz possível, para podermos usufruir deste tipo tão especial de vida conjugal. [2]

II. Relações sexuais antes do casamento são permitidas no judaísmo? Relações sexuais é um tema sempre em voga na sociedade. Em se tratando, pois, de relações sexuais no judaísmo quando ocorridas fora do casamento o assunto torna-se ainda mais relevante. O casamento é algo extremamente sério, uma instituição divina, não algo que o homem inventou.

Assim, de acordo com a Cabalá, no momento do casamento dá-se o encontro de duas almas gêmeas. Há almas femininas e masculinas, que vão se encontrando. O momento correto da união destas almas, a fim de que se reencontrem mais uma vez, após 20 ou 25 anos de separação, é sob chupá, na hora da cerimônia religiosa. Aliás, é quando o noivo coloca o anel no dedo de sua esposa, sob a chupá, o pálio nupcial. Acontece então o que em hebraico chamamos de kidushin, santificação do casamento. A ordem das coisas inclui as relações sexuais no judaismo –
Primeiramente, dá-se a união espiritual, porém, logo depois, obviamente,resulta também em uma união física. Quando se “queimam etapas” e a ordem das coisas é alterada, há uma grande confusão.

Toda a ordem que D’us colocou é revirada. A Torá não proíbe o ato sexual exceto pelas proibições de uma mulher casada, de uma mulher que não fez o mikve e, assim por diante. Mas ela diz que estas devem ocorrer na hora certa, com a pessoa certa. Assim, cuidar para que este ato aconteça no momento certo e não antes do tempo é, sem dúvida alguma, uma forma de melhorar a vida conjugal do casal.

O tempo revela-nos sabedoria – Tudo tem seu tempo e o que a Torá e o judaísmo nos ensinam, principalmente, é saber respeitar este tempo. Isto traz respeito mútuo e uma disciplina que nos acompanharão durante toda a vida. Assim o casal terá uma vida conjugal saudável, com amor e respeito mútuo. Muitas vezes se durante a fase do “namoro” o amor entre o casal já está vinculado ao aspecto físico, este torna-se cego. Isto não permite aos noivos discernirem de maneira objetiva sobre qualidades e defeitos de seus parceiros. Portanto, é através do amor sem relacionamento físico que a pessoa conhece melhor o seu companheiro, Atualmente psicólogos concluíram que a prematura liberação sexual na juventude provocou a perda de interesse sexual em muitos casais. Nem sempre a precocidade traz benefícios. A forma correta de agirmos é aquela que a Torá recomenda, ou seja, a de que deve haver ordem nas coisas. [3]

Fontes:
[1] Vida Pratica Judaica: https://www.vidapraticajudaica.com/single-post/2015/06/29/Casamento-Judaico-Sefaradita
[2] Legal Saber (Publicado na Revista Morashá em setembro de 1995): http://legalsaber.com.br/relacionamentos-e-casamento-no-judaismo/
[3] Legal Saber (Matéria publicada na Revista Morashá em abril de 1997): http://legalsaber.com.br/relacoes-sexuais-no-judaismo/
Coordenador: Saul Stuart Gefter 18 de Sivan de 5779 – 21 de Junho de 2019

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