A FESTA DE PURIM (5780) – Estudo para 13 de março de 2020 –

I. Introdução – A festa de Purim, celebrada no décimo quarto dia de Adar … , (09-10 de março de 2020) é o dia mais alegre do calendário judaico. Um dia, segundo nossos sábios, no qual devemos alegrar-nos mais do que em qualquer outra de nossas festas.

Em Purim celebramos a milagrosa salvação dos judeus da Pérsia, que lá foram exilados após a destruição do Primeiro Templo. O nome da festa advém da palavra persa “pur”, que significa “sorte”. A Meguilat Esther o livro que relata com detalhes a história de Purim explica: “Por isso, àqueles dias chamam Purim (sortes)” por causa da sorte que Haman havia lançado, determinando o dia em que os judeus seriam aniquilados”.

Nossos sábios explicam que existem motivos profundos para Purim ocorrer no mês de Adar. O Talmud assim declara: “Quando [o mês de] Adar se inicia, nós aumentamos a nossa alegria”. A razão disso é que o povo judeu se torna mais espiritualmente fortalecido e protegido durante esse mês. A fonte da força judaica nessa época do ano é baseada em uma conexão mística entre a Torá e o mês de Adar, cujo signo é peixes. Os livros místicos revelam que assim como o mar alimenta e protege os peixes, a Torá alimenta e protege o povo judeu.

Na Meguilat Esther, estão relatados, segundo o testemunho dos personagens centrais, Mordechai e Esther, os eventos ocorridos no Império Persa por volta do ano 450 aEC. A leitura pública deste relato é um dos mandamentos mais importantes da festa. Na própria Meguilá estão mencionados alguns dos preceitos que devem ser observados nesta data, sendo que outros foram instituídos pelo próprio Mordechai, segundo afirmam nossos sábios.

“Esses dias serão lembrados e comemorados em todas as gerações, em todas as famílias, em todas as províncias, em todas as cidades …” (Esther 9:28 ). Segundo o Midrash, Purim nunca deixará de existir e ninguém está isento de sua observância – homens, mulheres e crianças. Mesmo que todos as festas sejam anuladas, Purim nunca o será. E os acontecimentos serão lembrados pela leitura da Meguilá e celebrados com festas, oferta de alimentos, alegrias e presentes.

Em Purim agradecemos a D’us “pelos milagres, pela salvação, pelas maravilhas que obrou conosco…”. Por isto, durante as rezas da Amidá (Shmone Esre) e do Bircat Hamazon (bênção após uma refeição em que se comeu pão), adiciona-se o trecho “Al Hanisim”. No dia 14 de Adar, por ser um dia de muita alegria, é proibido jejuar e não se deve realizar trabalho desnecessário, nem é ocasião para lamentações e luto.

As celebrações referentes a Purim se iniciam no Shabat que antecede a festa: no sábado de manhã, a leitura da Torá na sinagoga deve incluir a porção Zachor (Êxodo 17:8-16). Este trecho lembra o ataque do povo de Amalek contra Israel pouco após sua libertação do Egito. Essa leitura está relacionada à data festiva, pois o grande vilão de Purim, o malévolo primeiro-ministro Haman, descendia de Amalek. A Torá nos manda recitar essa passagem para recordar e estar sempre atentos aos planos malignos dos inimigos do povo de Israel.” Pois Haman, inimigo de todos os judeus, não se satisfaria com nada menos do que a destruição física de todo o povo judeu” (Esther 9:24).

De fato, apesar de Purim ser o dia mais alegre do ano, sua história é sobre a reversão de um édito de genocídio contra o povo judeu. Conta a história: para salvar seu povo, Esther teve que enfrentar o rei. Por isso, ciente do grave perigo, pede a Mordechai: “Vá e reúna todos os judeus que estão em Shushan e jejuem durante três dias e três noites”. Jejuando e pedindo perdão por todas suas falhas, os judeus de Shushan buscavam a Proteção Divina. Apelaram para a Misericórdia Divina, pois sabiam, assim como Esther, que somente com a ajuda do Todo-Poderoso poderiam conseguir a anulação do decreto fatal. Desde então, para lembrar este acontecimento, os judeus jejuam no dia anterior a Purim. O “Jejum de Esther”, Taanit Esther, é iniciado pouco antes do nascer do sol do dia 13 de Adar e acaba ao pôr-do-sol do mesmo dia.

Quando chega a noite e se inicia o dia 14 de Adar, começa a festa de Purim. Porém, antes de quebrar-se o jejum, ouve-se a Meguilat Esther. Esta deve ser lida na íntegra de um rolo de pergaminho e em voz alta, tanto à noite quanto na manhã seguinte. A leitura deve ser realizada na presença de um minian (um grupo de 10 homens judeus), de preferência na sinagoga. Toda pessoa deve ficar atenta durante a leitura para ouvir cada palavra, pois o propósito da leitura é entender o que ocorreu na época da Rainha Esther e aprender que os eventos de Purim não pertencem ao passado. Repetem-se, espiri-tualmente, em todas as gerações.

Três bênçãos são recitadas na noite de Purim, antes da leitura da Meguilá. E são repetidas no dia seguinte quando a Meguilá é lida novamente. Contudo, algumas comunidades apenas recitam a terceira benção a oração de Sheheheyanu na noite de 14 de Adar. Nas congregações em que também se recita esta oração no dia seguinte de manhã, deve-se anunciar que esta se aplica aos outros mandamentos de Purim.

“Esses dias serão lembrados e comemorados em todas as gerações, em todas as famílias”… Um dos mandamentos de Purim é o envio de presentes os mishloach manot. Deve-se enviar pelo menos um presente, composto de dois diferentes tipos de alimentos, a um amigo. Os alimentos devem estar prontos para consumo, por exemplo, biscoitos, frutas, doces, vinho ou outras bebidas. Esta é uma obrigação que homens e mulheres devem cumprir no dia de Purim, não podendo ser substituída pelo envio de dinheiro ou de qualquer outro presente que não seja um alimento. É também aconselhável que esses presentes sejam entregues, sempre que possível, por terceiros, pois a palavra mishloach, que significa envio, indica que esta mitzvá deve ser cumprida por um intermediário.

Para comemorar Purim, além de enviar presentes, devemos também dar tsedacá a pelo menos duas pessoas carentes. A generosidade com os mais necessitados é particularmente importante nessa ocasião, pois nada é mais agradável aos olhos de D’us. Nossos sábios ensinam que não existe maior mandamento da Torá do que ajudar os pobres e necessitados. Pois aquele que traz alegria aos outros é comparado ao próprio D’us, que revive o espírito dos oprimidos e restaura seus corações” (Rambam, Hilchot Meguilá 2).

Costuma-se dar tsedacá relativa ao cumprimento deste preceito no dia 13 de Adar, durante o jejum, e de preferência antes da reza da tarde, Minchá. Nessa ocasião, costuma-se dar uma doação equivalente a três “meio shekalim” (três moedas de prata). Uma doação que havia sido destinada à tsedacá, em data anterior, não deve ser usada para cumprir esta mitzvá. Em Purim, mesmo os mais necessitados têm a obrigação de dar tsedacá. Esta pode ser dada em forma de dinheiro, comida, bebida ou roupas. A quantia mínima doada deve ser suficiente para comprar pão para uma refeição. O mandamento de tsedacá deve ser cumprido de preferência durante a noite ou na manhã de 14 de Adar para que a doação traga a quem a receber benefícios durante o próprio dia de Purim.

A comemoração de Purim por “todas as famílias” é cumprida através de uma seudá, uma refeição festiva. Todos são obrigados a comer, beber e se alegrar em Purim. O Zohar, obra fundamental da Cabalá, afirma que em Purim, ao deleitar-se com comida e bebida, pode-se alcançar a mesma elevação espiritual que ocorre durante o jejum de Yom Kipur. A refeição festiva de Purim deverá ser realizada durante o dia 14 de Adar, sendo costume incluir-se carne e vinho. Entre certas comunidades as comidas favoritas de Purim incluem doces de três pontas, que representam as orelhas de Haman. São chamados de oznei haman, pelos sefaraditas, e de hamantaschen, pelo ashquenazitas. O Talmud ordena que em Purim a pessoa beba vinho até que não consiga diferenciar entre “amaldiçoado é Haman” e “abençoado é Mordechai”. Porém, se a saúde ou a conduta de uma pessoa for afetada negativamente pelo consumo de bebidas alcoólicas, esta não deverá consumir mais do que uma quantidade simbólica.

Como o objetivo central da festa de Purim é fomentar e compartilhar a alegria, muitos judeus, em particular crianças, fantasiam-se e participam de desfiles e concursos. As fantasias mais populares costumam ser as de Mordechai e da Rainha Esther. Peças teatrais são encenadas para recontar a milenar história.

Uma Meguilá é comparada à Torá em seus requisitos rituais de como deve ser escrita: por um escriba e em um pergaminho. Mas como o Nome de D’us não é mencionado nenhuma vez na Meguilá, durante os séculos, os artistas tiveram a liberdade de ilustrá-la com magníficas ilustrações e iluminuras. Podemos encontrar retratados nas meguilot, Mordechai, Esther e até o malvado Haman. [1]

II. Rainha Esther inspirou os judeus Anussim a preservarem sua fé – Em uma entrevista exclusiva com o JerusalemOnline, o presidente da Shavei Israel Michael Freund falou sobre a importância da história de Purim para os judeus Anussim que foram forçados a se converter ao catolicismo após a Inquisição espanhola, assim como seus descendentes.

Em um momento em que judeus de todas as partes do mundo se preparam para celebrar o Purim, é importante notar como a rainha Ester serviu de modelo e inspiração para os judeus Anussim que foram forçados a se converter ao catolicismo após a Inquisição espanhola, bem como seus descendentes ao longo das gerações. O presidente da Shavei Israel Michael Freund forneceu à JerusalemOnline uma entrevista exclusiva.

“Eles podiam facilmente identificar-se com sua fé, assim como o fato de ter sido levada, contra sua vontade, para o palácio do rei, tendo que esconder sua identidade”, observou. Freund acrescentou que Esther fez tudo a fim de preservar suas tradições enquanto vivia no palácio e muitos Anussim se inspiraram em Esther que ao, finalmente, revelar sua verdadeira identidade trouxe à redenção do povo judeu. Ele acrescentou que para os Anussim, a história de Purim lhes servia de grande esperança para o futuro, pois lhes fazia acreditar que chegaria o dia no qual poderiam deixar de esconder-se e “anunciar a redenção do povo judeu”.

Para os judeus Anussim, Freund enfatiza que Purim era um dia de jejum. “Obviamente eles não podiam celebrar abertamente o Purim, lendo a Meguilá e fazendo festa”. Ressaltou que o jejum é uma atividade menos provável de ser identificada pelos vizinhos e isso levou-os a celebrar o jejum da Santa Esther: “no século 17, os casos registrados de Inquisição, revelam cripto-judeus observando dias em honra à Santa Esther. Estamos falando sobre, cerca de 200 anos após seus antepassados serem forçados a se converter. Isso mostra a força com a qual mantiveram esta tradição. ”

Freund nota que era mais fácil para os Anussim se envolverem em rituais judaicos dentro da privacidade de suas casas do que praticar o judaísmo fora de casa. Assim, salientou que, eram as mulheres as responsáveis de passar adiante a “identidade judaica escondida da família. É por isso que a celebração da St. Esther foi tão estritamente herdada, pois se tratava de uma heroína judia posta em uma situação na qual as mulheres das famílias Anussim podiam, facilmente, se identificar. Hoje, estamos vivendo 500 anos após as conversões forçadas e mais e mais descendentes dos Anussim estão retornando às suas raízes em um mundo onde as pessoas são, mais que nunca, livres para fazê-lo. Hoje, estamos começando a ver o sonho daqueles Anussim, o sonho de redenção final de suas família, finalmente sendo alcançado.”

Freund enfatizou que a população de Bnei Anussim (descendentes de Anussim) é enorme. “Todos os lugares nos quais Espanha e Portugal cravaram suas bandeiras, foram os primeiros destinos nos quais os Anussim chegaram, a fim de fugir da Inquisição”, observou. “Infelizmente, nem sempre funcionou com a Inquisição os perseguindo até os extremos confins da terra.” Freund afirmou que há Bnei Anussim vivendo em toda a Espanha, Portugal, sudoeste dos Estados Unidos, América Latina e também, alguns outros lugares. Alguns deles já retornaram formalmente ao judaísmo, mas é um espectro: “Há muitas pessoas que começaram a explorar suas raízes judaicas de uma maneira mais cultural e intelectual, ao invés de fazê-lo de uma maneira religiosa. Para muitas pessoas, é uma jornada. Alguns estão mais avançados que os outros.

Alguns ainda estão se perguntando o que significa para eles, ou o que deve significar para eles, pertencer a esta identidade. Por outro lado, existem dezenas de milhares que certamente, de uma forma ou outra, têm se reconectado com a prática judaica”.

“Eu acredito firmemente que estamos no início de uma onda de retorno à medida que, mais e mais, pessoas de ascendência judaica buscam se reconectar com suas raízes”, conclui. “Temos uma emocionante oportunidade histórica de trazer de volta áqueles judeus convertidos à força há séculos atrás e devemos aos seus antepassados fazer tudo a nosso alcance para que isso aconteça. Eles foram sequestrados contra a vontade. A reação mais fácil teria sido esquecer o passado e fundir-se com a maioria. Contudo, correndo grande risco, alimentaram interiormente a faísca judaica, em segredo, passando-a de geração em geração. Essa centelha judaica sobreviveu durante séculos com eles e está começando a brilhar novamente. Precisamos reconhecer esta situação e fazer o nosso melhor para alcançá-los.” [2]

Fontes: [1] Morasha, Edição 39 – Dezembro de 2002: http://www.morasha.com.br/purim/a-festa-de-purim.html
[2] Coisas Judaicas, março 17, 2017, JerusalemOnline: https://www.coisasjudaicas.com/2017/03/rainha-esther-inspirou-os-judeus.html

Coordenador: Saul Stuart Gefter 17 de Adar de 5780 – 13 de março de 2020

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *