PURIM – TEMPO DE ALEGRIA (5778)- Estudo de 16 de fevereiro de 2018 – 01 de adar de 5778

Existem muitos Hamans, mas só um Purim, Provérbio judaico

I. Introdução – Purim é a data mais alegre do calendário judaico, a festa das crianças. Comemora com muita algazarra a vitória dos judeus da Pérsia – o atual Irã – contra uma tentativa de aniquilação encabeçada pelo vilão Haman, ministro do rei Achashverosh (Assuero). Os heróis são a rainha Ester, esposa judia de Achashverosh, e seu tio Mordechai, líder da comunidade judaica.

O nome da festa tem origem na palavra hebraica “pur”, sorteio, método usado por Haman para escolher a data de exterminação dos judeus daquele país. E a história se passa em Shushan, antiga capital persa, por volta de 550 anos antes de Cristo, no tempo do exílio babilônico, entre a destruição do Primeiro Templo de Jerusalém e a construção do Segundo Templo.

Segundo a Meguilat Ester, o livro de Ester na Bíblia, tudo começou com a decisão do rei Achashverosh de transferir a capital do império, da Babilônia para Shushan. Ele preparou uma grande festa para comemorar a mudança e ordenou que sua esposa, a rainha Vashti, desfilasse para mostrar sua beleza a todos. Mas Vashti recusou e o rei a expulsou da cidade.

O tempo passou e Achashverosh caiu em depressão. Seus conselheiros sugeriram que ele escolhesse uma nova esposa. O rei gostou da idéia e ordenou que as mais belas jovens, selecionadas em todo o império, fossem levadas a Shushan. Lá, ele escolheu Ester, que escondeu sua origem judaica por sugestão de seu tio Mordechai, para não irritar o rei.

Mordechai conquistara a confiança de Achashverosh ao relatar-lhe uma conversa entre dois eunucos, no palácio, sobre um plano para matar o rei, que, ao saber disso, mandou executar os conspiradores. O problema é que isso provocou a ira do poderoso ministro Haman.

Utilizando sua influência, Haman conseguiu convencer o rei de que os judeus, que tinham costumes diferentes, conspiravam contra o trono.

Achashverosh assinou então um decreto ordenando o extermínio de todos os judeus persas em um só dia: 13 de Adar, no calendário judaico, escolhido em um “pur”, sorteio. Além disso, uma noite, Haman cruzou com Mordechai, na rua. Como a tradição proíbe que os judeus se curvem diante de qualquer homem, Mordechai não obedeceu a uma lei que obrigava todos a reverenciarem o ministro. Com mais raiva ainda, Haman mandou construir uma forca especialmente para executá-lo.

Mordechai, então, orientou Ester a contar ao rei que era judia e que em breve seria assassinada junto com seu povo. Na véspera do jantar em que Ester revelaria a Achashverosh sua origem, o soberano não conseguiu dormir. Para distraí-lo, seus servidores leram uma parte da crônica de seu reinado: era exatamente o trecho que contava como Mordechai salvara sua vida.

Ele decidiu recompensar o líder judeu e, no dia seguinte, pediu ao ministro Haman uma sugestão sobre o que deveria fazer para homenagear um grande homem. Lisonjeado, Haman achou que seria o felizardo e propôs ao rei que desse ao homem as vestimentas reais e que este fosse conduzido em um lindo cavalo, por toda a cidade.

O rei gostou da idéia e pediu a Haman que conduzisse Mordechai, a cavalo, pelas ruas de Shushan. Na mesma noite, a rainha lhe contou que era judia e pediu que poupasse seu povo. O decreto de Haman foi revogado e o extermínio não aconteceu. Humilhado, Haman teve que presenciar a vitória de Mordechai e, com ele, de todos os judeus persas. O ministro terminou morto na forca que erguera para Mordechai e o dia 14 de Adar, um dia após a data planejada para o massacre, foi escolhido para comemorar Purim. Anos depois, o rei persa Dario, filho de Achashverosh e Ester, autorizou os judeus a construírem o Segundo Templo.

História – Há muita polêmica sobre a história de Purim, que é questionada por numerosos historiadores. Há quem diga que Achashverosh seria, na verdade, o rei persa Artaxerxes I. Mas a tese esbarra na cronologia, uma vez que ele viveu depois da construção do Segundo Templo, concluído em 515 A.C.E. Nesse caso, a hipótese mais viável é que Achashverosh seria Cambises II. Ele nasceu em data desconhecida, reinou até 522 A.C.E. e foi sucedido por Dario I, imperador entre 521 e 486 A.C.E. , que autorizou a construção do Templo. [1]

II. Purim é mencionado na Bíblia? O estabelecimento da festa de Purim é de certa forma descrito na Bíblia, até porque a Meguilá Esther faz parte dos 24 livros da Bíblia. Mas ainda é considerada uma festa “rabínica”, porque foi instituída por profetas, diferente de Pessach e Sucot, que aparecem nos Cinco Livros de Moisés.

Não existe mais reis ou rainhas poderosos, nem homens maus, qual relevância tem Purim para mim nos dias de hoje?

E o que dizer sobre Osama bin Laden, Yasser Arafat e tantos outros terroristas que desejam nos destruir? A triste verdade é que sempre existirá muitos “Hamans” esperando por uma oportunidade para nos perseguir e aniquilar.

Como a Torá espera que nós reajamos frente a essas terríveis pessoas e organizações terroristas? Simples, basta olharmos na Meguilá e ver como os Judeus naquela época responderam ao Haman original.

O plano de Mordechai e Esther era audacioso. Esther não era chamada perante o rei há trinta dias, e aproximar-se dele inesperadamente poderia facilmente resultar numa execução imediata. Vale lembrar que o rei Ahasuerus já tinha matado a rainha anterior (Vashti)! E mesmo que o rei permitisse Esther de aproximar-se e expor seu caso, quem garantiria que ele atenderia seu pedido de clemência?

Mas Mordechai e Esther sabiam que seu “plano” era de segunda importância. Eles sabiam que a salvação viria de D’us e somente Ele poderia determinar se o “plano” funcionaria ou não.

Sendo assim, Esther disse para que todos os Judeus de Shushan jejuassem, rezassem por três dias. Enquanto isso, Mordechai juntou 22.000 crianças judias e começou a ensiná-las Torá. D’us ouviu as rezas e milagrosamente o plano de Esther deu certo.

Sim, devemos usar todos os meios normais a nossa disposição para lutar contra nossos inimigos. Porém devemos sempre lembrar de usarmos nossa “Arma Maior” que ultimamente é nossa Torá, Mitzvot e rezas, que garantem nossa sobrevivência.

Moisés comemorou Purim? O milagre de Purim ocorreu perto de mil anos após a morte de Moisés. Mas nossos sábios dizem que Moisés foi mais do que um ser humano, ele é um legado que continua presente por toda a nossa história. Toda geração tem seu próprio “Moisés”. Isso se refere ao líder espiritual da geração, aquele que inspira o povo a acreditar em D’us e conectar-se a Ele através da Torá e Mitsvot.

Modechai foi o Moisés da história de Purim. Quando o plano de Haman tornou-se conhecido, foi Mordechai quem fez com que os Judeus entendessem que Haman e Ahasuerus eram meras ferramentas para implementar um plano divino. Então a solução deveria ser um fortalecimento da nossa relação com D’us. Conseqüentemente ele mobilizou os Judeus para rezarem, jejuarem, garantindo assim a salvação.
Respondendo a questão: Moisés não ouviu a Meguilá em 14 de Adar, mas seu espírito com certeza estava presente na história de Purim.

O que Vashti fez para merecer um destino tão terrível?
Vashti (rainha de Ahasuerus até ele saber sobre a sua recusa em participar do seu banquete) não foi uma grande pessoa, a ponto de sentirmos pena.

Ela era neta de Nebuchadnezzar, o homem que destruí o Primeiro Templo e mandou todos os Judeus para o exílio. Ela herdou do seu avô um profundo ódio pelos Judeus. No Shabat, chamava as crianças Judias e forçava-as a executar trabalhos humilhantes no seu sagrado dia de descanso. Por isso também que ela foi punida no sétimo dia do banquete, que era também o sétimo dia da semana, ou seja, o Shabat.

Por que Moderchai instruiu Esther a esconder sua identidade judaica? Os comentaristas nos dão inúmeros motivos.

Aqui estão dois:
1. Mordechai queria ter certeza de que ela conseguiria continuar observando os mandamentos da Torá. A corte pérsia não sabia da sua simpatia pelos costumes judaicos. Ou seja, quanto mais secreto ela mantivesse seu judaísmo, seria mais fácil cumprir os mandamentos em segredo.

2. Ele temia que um dia Ahasuerus se aborrecesse com Esther como tinha sido Vashti. Se ele soubesse que ela era

Judia, ele poderia descontar sua raiva por ela em todo povo (Targum).

Como Esther manteve o Shabat sem levantar suspeita? Esther tinha sete empregadas (Esther 2:9). Ela fazia um rodízio entre elas, para que cada uma servisse num dia da semana. Dessa forma, a empregada que servia ela no Shabat só a via naquele dia e achava que Esther nunca trabalhava. Nos outros dias ela trabalhava porque sabia que ficar sentada sem fazer nada não seria saudável para sua saúde mental.

Como Mordechai ouviu o plano de matar o rei? Alguns dizem que ele soube do plano através de uma visão profética (Targum Sheini).

O Talmud diz que os dois conspiradores, Bigsan e Seresh, estavam conversando na sua língua nativa, o Tursi. Mordechai era membro do Sanhedrin, e sendo assim era fluente em 70 idiomas. (Pelo menos, alguns membros do Sanedrín deveriam ser fluentes em todos os idiomas. Isso porque eles precisariam interrogar as testemunhas na sua língua mãe e não era permitido o uso de intérpretes.)

O que aconteceu aos Judeus após o episódio de Purim? Aproximadamente três anos depois Darius II (filho de Esther e Ahasuerus, que sucedeu seu pai como rei um ano após a história de Purim) permitiu aos Judeus reconstruir o Segundo Templo Sagrado em Jerusalém. Estava em ruínas por 70 anos, desde sua destruição por Nebuchadnezzar em 422 a.e.c. (Os profetas Judeus anunciariam que os Judeus ficaram no exílio por 70 anos.)
O Templo foi concluído logo após este episódio e os Judeus começaram a retornar para sua terra. O Segundo Templo durou mais 420 anos, até o ano de 69 da E.C.

Por que o nome de D’us não é mencionado uma única vez na Meguilá? Num nível mais elevado, a idéia é de que no milagre de Purim D’us não foi revelado. Diferente do milagre de Chanucá, por exemplo, quando algo sobrenatural ocorreu: um pote pequeno de óleo durou por oito dias. Ninguém confundiria aquilo como um fato natural. Mas em Purim, os fatos aconteceram sucessivamente: Esther tornou-se rainha, ela teve acesso ao rei, Mordechai acabou sem querer ouvindo o plano dos dois rapazes que queriam matar o rei etc. etc. Então todos esses eventos poderiam ser mal interpretados como eventos naturais, ou simples “coincidências” se você preferir. Claro que tudo foi orquestrado por D’us para proteger os Judeus – mas não estava na sua cara. Ele estava trabalhando as coisas por trás da cena.

Por isso que Seu nome não foi mencionado, para enfatizar o fato de que mesmo quando não vemos os milagres abertamente, não significa que D’us não participou do espetáculo. Como nos dias de Purim, a presença de D’us pode estar oculta – mas não significa que Ele não esteja lá fazendo Suas coisas.

Esther era sobrinha ou prima de Mordechai? Esther era filha de Avichayil, que era tio de Mordechai, por isso eram primos. Mordechai adotou Esther após a morte do seu tio.

Talvez você pudesse perguntar porque sempre dizem que ele era tio dela?

Provavelmente devido a diferença de idade entre eles. É muito mais lógico supor que uma criança órfã que cresceu como sua própria filha é de uma geração mais nova – uma sobrinha – e não da mesma geração, como uma prima. Mesmo possível, trata-se de um mal-entendido de Esther 2:15, quando se lê: “…Esther a filha de Avichayil, o tio de Mordechai…”, quando numa leitura rápida ou até mesmo desatenta, parece “Esther… Tio Mordechai” e dai a confusão.

[Existe uma opinião no Talmud que Esther era sua esposa, não (somente) ele a adotou como filha. Baseado na leitura da palavra hebraica “bat” (filha) como “bayt” (casa): bayt significa esposa na terminologia do Talmud.]

O que Esther comeu no banquete não-kasher do rei? Na Meguilá Esther (2:9) lemos que Hegai, o guardião das mulheres, fez algo especial para Esther e suas servas. O Talmud (Meguilá 13a) nos dá inúmeras possibilidades sobre o que vinha a ser este tratamento especial.
Os rabinos dizem que ele lhe deu comida Judaica. (A pesar de Esther nunca ter dito que era judia, sabia-se que ela tinha crescido na casa de Mordechai.

As pessoas achavam que apesar de Mordechai ter adotado Esther ela não fosse Judia. Então Esther disse que queria comida Kasher, porque era o que ela estava acostumada a comer.)

Shmuel disse que ele lhe deu bacon … Não se preocupe, existe opinião que ela não comeu. Porém, alguns dizem que ela foi forçada a comer (Rashi). O comentarista Torá Temimá sugere que lhe tenham oferecido este bacon, mas ela não teria aceito. De acordo com a leitura de Aruch dos textos, não foi bacon, mas uma cobertura, um creme, de alface.

Se Esther era Judia e se casou com um rei não judeu, por que a intolerância com os casamentos mistos?

Você entende que o relacionamento de Esther com Ahasuerus não era legal? De fato, de acordo com o Talmud, Esther já era uma mulher casada e feliz; casada com seu primo Mordechai.

Você poderia perguntar: então Esther não estava interessada em ganhar o “concurso de beleza”? Essa é uma impressão que muitos têm dos tempos de escola…

Absolutamente não. A Meguilá nos conta que enquanto as mulheres gastaram 12 meses se embelezando com produtos cosméticos, se preparando para o grande evento real, Esther exigiu que nenhum ajudante de beleza fizesse nada nela.

A vida pessoal de Esther é o lado triste da história de Purim frequentemente esquecido. Na verdade ela trouxe a salvação para todos os seus irmãos—o que certamente lhe trouxe uma enorme satisfação—mas teve que pagar um preço muito alto por essa salvação. Nossa heroína justiceira habitou por anos num palácio pagão. Tendo em mente por anos toda selvageria e corrupção vividas numa típica corte real.

Acredito que isso nos ensina que a liberdade e o sucesso de uma pessoa são sempre resultado do sacrifício de outra. [2]

Fontes: [1] Congregação Israelita Paulista: http://www.cip.org.br/judaismo/festividades/purim/
[2] Coisas Judaicas: https://www.coisasjudaicas.com/2005/04/curiosidades-sobre-purim.html

Coordenador – Saul Stuart Gefter, Diretor Executivo, 01 de adar de 5778 – 16 de fevereiro de 2018

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